Samuel Rosa fala do encontro com Carlos Santana e da gravação de 'Saideira' com o mexicano

Músicos dividiram palco em Las Vegas

por Mariana Peixoto 16/06/2013 08:23

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Beto Magalhães/EM/D.A Press
"Jung não acreditava em coincidências e eu estou cada vez mais junguiano", afirma Samuel Rosa (foto: Beto Magalhães/EM/D.A Press )
Sincronicidade é um conceito criado pelo psicanalista suíço Carl Gustav Jung que propõe a existência de uma relação especial ligando eventos semelhantes ou próximos no tempo. Em vez da causalidade própria da ciência, o que importa é o sentido. “Jung não acreditava em coincidências e eu estou cada vez mais junguiano”, afirma Samuel Rosa. Voltando no tempo, ele não se lembra de quantas vezes no palco com Lô Borges, em show que os dois fazem desde 1999, na hora da execução de Saideira, junto com o baterista Mário Castelo (1955/2005), faziam a citação de Oye como va, a música de Tito Puente que ganhou mundo com o registro de 1970 do guitarrista mexicano Carlos Santana.

“Precisava só de o Mário estar vivo para ver isso. Quem é que explica um negócio desse?” Jung certamente, Samuel, já que Santana tinha um monte de músicas do Skank para gravar. Pois foi escolher justamente aquela que fecha Siderado (1998) para seu próximo álbum. A exemplo de Supernatural (1999), arrasa-quarteirão que revitalizou a carreira do veterano e trouxe uma série de encontros (Rob Thomas, Maná, Eric Clapton, Cee Lo Green, Lauryn Hill), ele lança em março disco com o mesmo conceito. É o terceiro de Santana no gênero – o segundo é Shaman (2002), produzido por Lester Mendez, que também assina o novo trabalho. Até agora, além de Samuel, o outro encontro registrado é o de Santana com a banda argentina Los Fabulosos Cadillacs.

“O que acontece muitas vezes nessas dobradinhas é o cara botar a voz aqui e mandar a música de lá. Ou seja, um dueto biônico”, continua Samuel. Logo que o projeto foi aprovado, houve o convite para que fosse a Las Vegas para gravar a voz de Saideira (música dele, letra de Rodrigo Leão), já que Santana queria encontrá-lo e estava na cidade fazendo temporada na House of Blues, tradicional rede americana de casas de show. Seriam três dias e Samuel gravaria somente as vozes. Saiu de BH com uma versão também em espanhol. E, mesmo sem necessidade, com uma guitarra.

Foram 18 horas de voo, mas chegando lá foi direto para o estúdio ao encontro de Santana. “Ele foi muito carinhoso, dei a ele uma camisa de futebol, ficamos conversando e ele dizendo que tinha adorado a música. O Lester Mendez também nos tratou muito bem, foi até reverente, dizendo da dimensão que a gente tem no Brasil. O Santana estava ansioso para nos mostrar a versão dele. Escutei e falei que achava muito parecida com a nossa. Achei que fosse dar uma desmontada na música. Não, estava ali o Saideira quase Skank. Perguntei onde poderia gravar e os caras ficaram assustados, pois acharam que depois da viagem não iria querer nada.

Normalmente não iria, mas estava tão empolgado de o cara estar ali que falei que iria colocar voz-guia”, relata Samuel. Espiritualidade

Skank/Divulgação
Samuel Rosa e Carlos Santana se abraçam depois de show em Las Vegas (foto: Skank/Divulgação )
No segundo dia no estúdio, foi a vez de Samuel fazer o registro definitivo (acabou fazendo em português mesmo; a versão em espanhol sofreu algumas mudanças e será registrada no Estúdio Máquina, em BH). “O Santana foi muito criterioso, ele acompanha o processo todo. Serviu de lição para mim, já que nem sempre acompanho tudo”, conta. Quando os metais estavam sendo gravados, Samuel foi para uma sala e logo ganhou a companhia de Santana. “Foi aí que o jogo virou. O cara sentou-se e começou a falar das crenças, ele é muito espiritualizado. Ainda comentou da infância no México, da mãe, ficou divagando, falando de educação e religião, um negócio que não iria imaginar. É um cara impregnado dos valores da geração dele. Já trabalhei com grandes aqui no Brasil, Milton, Gil, e nunca vi uma coisa dessas. A abertura do Santana, o desprendimento, como se fosse um amigo, foi um negócio bem emocionante.”

E a história só tinha começado. Mais tarde, pediu para vê-lo gravar. “A gravação é um ritual. Ele usa uma roupa própria, acende uns incensos e grava em pé. Gravo guitarra sentado, a maioria dos músicos que conheço faz assim.” Mais tarde, no bate-papo, foi a hora de ouvir alguns relatos. “Sobre Woodstock, ele contou da mescalina que o Jerry Garcia (fundador do Grateful Dead) tinha dado para ele. De quando entrou no palco, já muito doido, e como tinha rezado para conseguir tocar, pois sentia o braço da guitarra todo mole. De como o Tito Puente metia o pau nele por causa da gravação de Oye como va, mas que, quando viu o cheque, daqueles enormes, tipo de programa de televisão, passou a adorar a música. E ainda do encontro com Jimi Hendrix, que o chamou para uma sessão de estúdio em Nova York. Quando chegou lá, tinha uma mesa, tipo um banquete, só que de droga. Jimi Hendrix começou a tocar e teve quase que uma convulsão tocando. A música acabou, o Jimi continuou solando e tiveram que apartá-lo da guitarra porque ele não parava. Santana disse que nessa hora pensou que tinha que ter muita disciplina ou iria morrer.” Duelinho No terceiro dia da viagem, já com a gravação feita, o encontro foi na House of Blues, já que Samuel tinha recebido o convite de Santana para participar do show. Assistiu a tudo da coxia até ser chamado ao palco. Depois de Saideira, começou uma jam. “Ele solava e olhava para mim. Eu não tinha levado pedal nem nada, só tinha chegado lá e espetado minha guitarra. Aí comecei duelinho de guitarra com o Santana! Vi que ia entrar numa onda totalmente diferente do que a gente tinha ensaiado. Solo pra cá, solo pra lá, puxou o riff de Exodus (Bob Marley). Uma hora chegou perto de mim e falou: ‘Canta mais em português’. Não entendi se era para voltar a Saideira ou cantar outra música. Mandei o Mas que nada (Jorge Ben) e a banda foi entendendo o que estava cantando aos pouquinhos. Ele ainda puxou uma parte de Manhã de carnaval (Antônio Maria e Luiz Bonfá) e fiquei muito emocionado, pois era uma das cinco mais que meu pai cantava”, acrescenta Samuel.

Dezessete minutos mais tarde, o vocalista do Skank saiu do palco da House of Blues lotada de americanos que ficaram se perguntando quem era aquele cara. Deixou os EUA ainda com o convite para tocar com Santana em show no México, em dezembro, quando será registrado um DVD. Retribuiu o convite, chamando-o para participar da apresentação do Skank no Rock in Rio, em 21 de setembro. “Ele não tem essa data, mas o empresário dele não foi muito taxativo dizendo que não dá. Então existe a possibilidade remota de ele participar com a gente”, conclui Samuel. Se der certo ou não, sempre haverá Vegas.

Vídeo: Carlos Santana e Samuel Rosa tocando juntos no House of Blues, em Las Vegas:


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