Dia do tão esperado show do músico levou milhares de fãs de várias gerações da ansiedade ao delírio

por Jefferson da Fonseca Coutinho , Carlos Herculano Lopes , Sérgio Rodrigo Reis Guilherme Paranaíba 05/05/2013 08:04

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.
TULIO SANTOS/EM/DAPRESS
Depois de longa espera para entrar no estádio, os primeiros da fila não seguraram a ansiedade e pegaram que lembrou o filme 'A hard day´s night, estrelado pelos Beatles em 1964 (foto: TULIO SANTOS/EM/DAPRESS)


Muita ansiedade ainda no hotel e delírio de várias gerações no Mineirão. O dia do show de Paul McCartney em BH começou já na madrugada, com fãs em frente ao hotel de luxo onde ele se hospedou. Tudo por um sorriso ou aceno do ídolo. Depois de uma manhã sem novidade, às 12h50 um integrante do batalhão de profissionais em torno da apresentação do artista deixou escapar que o músico havia malhado por 40 minutos por volta das 10h e deu baile na segurança local dizendo que iria descer por um elevador e, por fim, usou outro. Pouco depois, às 14h, a informação pela porta dos fundos era que o artista havia acabado de almoçar.

Veja galeria de fotos do show

A expectativa aumentou quando circularam informações de que Paul deixaria o prédio às 14h, 15h ou 16h rumo ao Mineirão. Do lado de fora, novos fãs – jovens e velhos – juntavam-se à turma da madrugada. Caso de Natalia Milanezi, de 15 anos, acompanhada dos pais, Nildo e Solange, vindos do Espírito Santo. A mocinha esteve na Inglaterra no ano passado para percorrer endereços da trajetória dos Beatles. Estudante de piano desde os 7 anos, Natalia canta e toca todas as canções de Paul e Lennon. “Eles sempre foram músicos completos. Há amor em tudo que fizeram e isso faz toda a diferença na carreira de um artista”, considera.

Rauf Toenjes, de 21, bastante parecido com o astro quando jovem, veio do Rio de Janeiro e fez questão de se hospedar o mais próximo possível do ídolo.

Às 16h08, enfim, depois de esquema particular de segurança de Primeiro Mundo, Paul surgiu na portaria principal do hotel. Com buquê de flores do campo em uma mão, acenou para um lado, para o outro e sumiu dentro do carro preto e blindado. Foram 10 segundos apenas. Tempo para provocar corre-corre e deixar em lágrimas três gerações de fãs. Alguns, com mais de 10 horas de plantão.

ESTÁDIO


Foram apenas oito minutos escoltado até o estádio e mais uma vez o ritual de sexta e sábado se repetiu. Ele acenou para os fãs e entrou rapidamente no estacionamento do Mineirão.

Um mar de beatlemaníacos lotou os arredores do estádio desde as 15h. Em cada portão filas imensas se formavam, mas quem pagou ingressos de R$ 600, com destino à pista premium, sofreu mais com a desordem. Faltou organização e muitos fãs demoraram mais de duas horas para entrar no espaço com bilhete mais caro do show. O trânsito fluiu bem e só houve problemas nas avenidas onde carros e pessoas dividiam o espaço, por conta de falta de controle principalmente na entrada do estacionamento.

Em cada canto, grupos formados por amigos cantavam músicas dos Beatles e da carreira solo de Paul, embalados por um fim de tarde muito bonito na Região da Pampulha.

Às 17h09, o público teve a permissão para entrar. Mas só às 17h40 os primeiros começaram a passar pelas catracas. Foi uma verdadeira prova de atletismo, corridas entre as grades que delimitavam as filas para garantir o melhor lugar.

O amigos Ana Vitória Miranda, de 15, Marina Mattos, de 22, Brianna Carvalho, de 23, e Thiago Sandi, de 21, todos estudantes, chegaram às 7h e ocupavam o primeiro lugar de uma fila de acesso às cadeiras superiores. “Treinei para correr na frente e garantir o nosso lugar”, brincou Thiago. “Já coloquei tudo na mão para não perder tempo na hora de ser revistada”, contou Marina. "Queremos ficar o mais perto possível do palco”, completou Brianna.

Quem entrou pelo portão A precisou esperar mais 20 minutos. Só às 18h o acesso foi liberado, o que gerou reclamações. Vários gritos de insultos foram proferidos contra a produção, que explicou que a razão do atraso foi a passagem de som, mais próxima de quem entrou pelo portão A.

Como não havia organização da fila, rapidamente se formou um caracol desordenado. O maior tumulto foi observado às 19h40. Às 20h30 a fila já estava organizada, mas o movimento ainda era muito grande. Nos demais setores tudo transcorreu sem maiores problemas.

Às 21h24, a aglomeração para a pista premium acabou. Apenas dois minutos depois a voz de Paul foi ouvida para o delírio de 53 mil fãs.

Thiago Ventura/Esp. EM
Esgoto vazando no banheiro da cadeira inferior vermelha (foto: Thiago Ventura/Esp. EM)
Acessibilidade


A promotora federal Adriana Ignácio, com o tornozelo fraturado, viveu na pele o que passam os portadores de necessidades especiais. 'Enfrentei vários problemas para chegar aqui. Tiveram que carregar a cadeira de rodas e só assim a gente vê que muita coisa não está adaptada', reconheceu. Situação semelhante a do cadeirante Alfredo Miranda, de 65 anos. 'Se não fosse a ajuda da PM e do Corpo de Bombeiros, não conseguiria chegar à pista. Os funcionários não sabiam de nada. Nem tinham boa vontade.'

Mau cheiro

O Mineirão voltou a apresentar problemas. Ás 20h, com o público já em busca de seus lugares, um encanamento em frente aos portões 125 a 127 e 128 a 130 estourou, liberando grande volume de água malcheirosa, que se espalhou inclusive dentro das lanchonetes e dos banheiros. A reclamção foi geral. 'Isto aquie stá uma vergonha. Uma brigadista com bota de borracha teve que levar minha filha ao banheiro, porque não consegui entrar', protestou a enfermeira Eliz Ferreira.

Agnews
(foto: Agnews)


Ele é de casa


Mariana Peixoto

Cantor inglês abre turnê mundial Out there! com show que deixou 53 mil pessoas em êxtase no Mineirão. E ainda falou em bom mineirês


Pouco antes de chegar ao Mineirão, Paul McCartney falou em surpresas na estreia da turnê mundial Out there!. Para quem vem acompanhando o beatle na temporada de shows no país ano após ano, desde 2010, elas realmente vieram. Músicas que não são propriamente lados A de seu repertório, com ou sem os Beatles, chamaram a atenção no show que reuniu 53 mil pessoas ontem à noite. O espetáculo começou às 21h25.

A infantil (no bom sentido) All together now, uma das canções mais divertidas de Yellow submarine, fez muita gente quase dançar de roda; Another day, do Wings, e Your mother should know, outra dos Beatles (esta de Magical mystery tour), foram ouvidas pela primeira vez no país (e olha que o de ontem foi o 13º show no Brasil). A canção Lovely Rita foi outra das premières com que Paul brindou os mineiros.

E houve o elevador, o atrativo mais anunciado da nova turnê. As canções são dois clássicos dos Beatles, já ouvidas zilhões de vezes, inclusive em sequência. Mas vê-lo sozinho, elevado na imensa estrutura colocada na porta frontal do palco, cantando Blackbird (“essa é uma canção dos anos 1960 feita para os direitos humanos) e Here today (“essa música é para meu amigo John”) mesmerizou um estádio inteiro. A conjunção de imagens (uma lua cheia num telão ao fundo, uma flor se abrindo na tela que vai se elevando junto à estrutura até virar um pássaro) só ajudou a render a plateia.

E ele, vale dizer, realmente falou uai. Não havia nem 15 minutos que Paul McCartney tinha pisado no palco do Mineirão quando o próprio disparou: “Finalmente, Paul vem falar uai”. Nem precisava, mas uma hora mais tarde ele disparou um “êta trem bão, sô”. Neófitos em Paul ao vivo se deslumbraram com a simpatia a toda prova. Falou muito português, dançou, fez graça. Parecia meio cansado, há aqueles que vão dizer. Mas fez um show com tudo o que um beatlemaníaco quer.

Algumas frases já foram ouvidas muitas vezes no português de sotaque carregado com que ele lê as “colas” no chão. “Esta noite vou tentar falar um pouco de português. Mas, como sempre, mais inglês”, tinha gente na plateia que repetia junto a ele. Do repertório clássico, também todas foram ouvidas: Hey Jude, Jet, Live and let die, Band on the run e All my loving, sempre acompanhadas de alguma gracinha e muito carisma.

Ainda que o show tenha começado morno – Paul vestia casaco azul-claro Roberto Carlos, logo tirado para dar lugar a uma camisa branca com detalhes em negro –, cresceu já na quinta música, Let me roll it, com seu sotaque blues, que ganhou boa resposta do público. Com a guitarra usada na gravação original, executou Paperback writer; ao piano dedicou My Valentine “a minha esposa belíssima, Nancy”. Mas foi com Maybe I’m amazed, “esta é para a Linda”, que fez o público cantar junto.

Num dos momentos delicados da noite, Paul chamou ao palco Cecília Cury, Priscila Brito, Luísa Matos e Camila Flores, que, segundo ele, contribuíram para sua vinda a Belo Horizonte. Criadoras da campanha Paul vem falar uai, elas ganharam autógrafo na barriga que deve virar tatuagem em breve. O movimento para trazer o show de Paul a Belo Horizonte surgiu depois da apresentação de Ringo Starr, em novembro de 2011.

Paul começou o bis com Yesterday, seguida de Helter Skelter e, ao piano, fechou a noite com Golden slumbers, a 37ª canção. “É hora de partir”, despediu-se de um público em êxtase. Fogos de artifício e chuva de papel picado azul, verde e amarelo coloriram o céu. Paul deixou a promessa no ar: “Até a próxima”. O relógio marcava 0h03.

 

 

ENTREVISTA

 

“Rock é o que sou e do que gosto”

 

Nesse sábado à tarde, no percurso entre o Hotel Ouro Minas e uma ruidosa chegada ao Mineirão, Paul McCartney concedeu, com exclusividade para os Diários Associados, a única entrevista realizada em Belo Horizonte. Respondeu da mesma forma com que foi recebido na estreia da turnê: “very simpático”, como ele próprio definiu as pessoas com quem esteve em sua curta temporada na cidade. Confira trechos da conversa.

 

Desde que você veio pela primeira vez ao Brasil, em 1990, já apresentou no país 81 canções. Para além dos clássicos, sempre obrigatórios, como você faz para montar o repertório de um novo show?
Como você disse, selecionamos aquelas que acreditamos que o público gosta. Há algumas que gosto de tocar toda vez porque é o que a plateia espera. Para as novas canções, primeiramente selecionamos aquelas que achamos ser boas e que gostaríamos de tocar. Aí começamos os ensaios para ver se realmente nos fazem sentir bem. Se acharmos que o público também vai gostar, incluímos no repertório. Temos um número de canções que nunca apresentamos, algumas premières. Não temos nenhuma do novo álbum, porque ele não está pronto, mas há surpresas.

Falando do próximo álbum, o produtor Mark Ronson disse que você chegou a ouvir baile funk durante a produção...
Isso mesmo. Ouço todo tipo de música. A cada mês recebo um CD de um amigo que compila músicas que estão “acontecendo” ao redor do mundo. Isso inclui a brasileira, que é bem funky. Não me lembro o que foi, não costumo olhar sempre para saber os nomes. Também ouvi novas bandas, gêneros como hip- hop e indie.

Isso pode significar que o próximo disco seja mais dançante, na linha de Coming up?

Bem, não tem nada a ver com Kisses on the bottom (2012), é completamente o oposto, bem mais rock and roll. Toquei para minha equipe na noite passada (sexta-feira) durante uma pequena festa que fizemos e todos ficaram bem felizes. Isso me alegrou também.

Você tocou recentemente com os ex-integrantes do Nirvana. A questão é: se considera basicamente um roqueiro?
Foi como comecei. Minha primeira banda, a encarnação mais antiga dos Beatles, The Quarrymen, depois The Silver Beatles, todas eram bandas de rock’n’roll. E sim, é do que gosto, é o que sou basicamente. Mas fiz Kisses on the bottom porque também amo música mais melódica, aquela da era do meu pai. Foi um projeto paralelo muito bom e divertido de fazer.

Desde 2010 você se apresenta todos os anos no Brasil. Pensa em voltar?
Adoro este país, então vai ser difícil me manter longe daqui. 

Veja a entrevista na íntegra aqui.

MAIS SOBRE MÚSICA