Minas Trend: conheça a grife produzida em penitenciária que pretende ganhar o mundo

Também vitrine da diversidade, feira fashion que acaba hoje no Expominas atrai clientes do país e do exterior ao reunir no mesmo espaço da confecção inspirada no trabalho de detentas a grifes consagradas há anos

por Laura Valente 20/04/2018 09:54
Dirceu Aurelio/Seap/divulgação
Libertees (foto: Dirceu Aurelio/Seap/divulgação)
Da liberdade que vem das asas da moda, mas começa a nascer em um presídio feminino de Belo Horizonte, a um universo de clientes exigentes e boutiques de luxo, "desfilam" até as 17h de hoje, no Expominas, na Gameleira, Oeste de BH, clientes de todo o país, de olho nos 205 fabricantes de vestuário, calçados, bolsas e acessórios que expõem na feira de moda mineira. Lá estão marcas como a Libertees, no Minas Trend pelo segundo ano consecutivo. A confecção, instalada no Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto, na capital, juntou, há cerca de seis meses, educação, arte e trabalho, e criou o projeto que emprega cinco presas, aproveitando a produção das aulas de arte da unidade para compor suas roupas. Os desenhos criados pelas detentas viram estampas em tecidos que são transformados em peças exclusivas, agora expostas na feira.

De olho nessas e em uma infinidade de outras vitrines e tendências, os clientes recebem das grifes que expõem coleções para a temporada primavera-verão'2019 tratamento à altura do investimento, capricho na oferta de produtos e na mordomia. Na feira desde que lançou as marcas que comanda, a estilista Fátima Scofield, proprietária da grife homônima e também da Fedra, ocupa cinco estandes nesta 22 edição, onde disponibiliza 120 modelos de cada marca, totalizando 240 referências. “O investimento é alto, mas necessário por que grande parte de nossos clientes está aqui”, justificou, afirmando que espera um crescimento de 20% no volume de negócios até o encerramento da feira.
Tulio Santos/E.M/D.A Press
Movimento no estande da Unity Seven (foto: Tulio Santos/E.M/D.A Press)

A estratégia agradou em cheio à lojista Rayza Garcia de Carvalho, proprietária da multimarcas Alexandrino, de Uberlândia, no Triângulo Mineiro. “É a primeira vez no Minas Trend e já virei cliente, pois gostei da proposta que traz vestidos de festa menos rebuscados, leves e soltos, para uso tanto de dia quanto à noite. Também gostei do mix, bem diverso, do tipo de matéria-prima e acabamento das peças”, elogiou.
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A lojista Rayza Carvalho veio conhecer e virou cliente do salão de negócios (foto: Tulio Santos/E.M/D.A Press)

Com showroom no Bairro Prado, Oeste de Belo Horizonte, e três estandes na feira, a grife Anne Fernades comercializa a média de 70% da produção de atacado por pedidos na Minas Trend. Para tanto, leva para a feira a média de 300 modelos nas linhas casual, coquetel e festa. “Atendemos a cerca de 150 clientes até agora, muitos das regiões Nordeste e Centro-Oeste e também do Sul do país, público que veio em massa para essa edição”, comemora a estilista que dá nome à grife e pretende anexar mais um estande para a marca na próxima edição do salão de negócios. “Nesta temporada, nossa expectativa é crescer 20%”, afirmou Anne.
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A estilista Anne Fernandes espera incremento de 20% nos negócios (foto: Tulio Santos/E.M/D.A Press)

Nas mesas dispostas nos estandes em que fecham os pedidos, clientes como Mônica Hial Abreu, da multimarcas Empório Abreu, de Uberaba, também no Triângulo, recebem atendimento personalizado. “Compro a média de 40% do meu estoque aqui, uma feira muito organizada e de estrutura caprichada, em que encontro mix completo de produtos.”


VITRINE Designer de acessórios criados em matéria-prima diversificada como metal, borracha e até lava de vulcão, além de quartzos e outras gemas, Carlos Penna conta que fez clientes nas principais cidades do Sudeste, incluindo boutiques famosas do Rio de Janeiro e de São Paulo, como a Choix, já apontada como uma das melhores lojas do mundo. “Minha carreira despontou nacionalmente aqui, quando fiz um desfile em parceria com a grife Plural. Agora, estamos em 26 pontos de venda no país.”
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Designer Carlos Penna comemora 26 pontos de venda no país (foto: Tulio Santos/E.M/D.A Press)

No segmento calçados e bolsas, quem expõe e frequenta a feira também faz bons negócios. Exemplo vem da grife Isla, especializada em bolsas sofisticadas, bordadas em pedrarias e outros elementos nobres, que espera encerrar a feira com crescimento de pelo menos 15% no volume de negócios em comparação à edição de verão 2017.
 

A grife produzida em penitenciária

 Uma ideia premiada: a Libertees, confecção instalada no Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto, em BH, ficou com o terceiro lugar no concurso de novos talentos Ready to Go, durante a 22ª edição do Minas Trend, que se encerra hoje, às 17h.  Marcella Mafra e Daniela Queiroga são as idealizadoras do projeto e proprietárias da grife. “Eu queria ter uma marca, mas não queria uma coisa de qualquer jeito, mas algo com propósito, que tivesse algum sentido e se relacionasse com a unidade prisional. E ai houve uma exposição dos trabalhos da escola da penitenciária, que eu vi no hall, e tive a ideia de fundar a Libertees”, conta.
Na coleção chamada Inspiração, as cinco mulheres que trabalham no projeto, Teresa, Alessandra, Marcella,Daniela, Brenda e Dayane, batizam as 36 peças que trazem desenhos exclusivos criados por elas. Júlia Ferreira (nome fictício), 29 anos, começou a trabalhar na confecção em dezembro, mesmo sem experiência prévia. “Hoje, eu consigo trabalhar com tudo aqui, posso até não saber algo, mas a Alessandra, nossa instrutora, sempre me ensina e ajuda. Tenho gostado muito de poder vir para cá todos os dias, para mim isso é libertador. Aqui dentro eu não me sinto presa, por alguns instantes me sinto livre. É tanta coisa que eu aprendo aqui que me transporta para outro lugar. Nunca imaginei ser possível algo assim dentro do sistema prisional”.
A marca já vendeu roupas para lojas no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e de BH, e está em projeto da Federação de Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Apex- Brasil, que visa a exportação. “A intenção é que as peças produzidas no complexo ganhem o mundo”, afirmam as idealizadoras. “Queremos trazer para a unidade prisional trabalho e qualificação, diferente de uma fábrica lá fora, onde você contrata pessoas qualificadas. Aqui nós capacitamos, ensinamos, é uma cadeia produtiva totalmente diferente e muito gratificante” pontua Daniela.