Glória Menezes: "Ainda fico nervosa, sinto a boca seca. É tudo igual ao começo"

por Redação TV 22/08/2010 07:00
João Miguel Júnior/TV Globo
O casamento com Tarcísio completou 45 anos. O segredo? %u201CRespeitar a individualidade do outro%u201D, diz (foto: João Miguel Júnior/TV Globo )
Nilcedes Soares de Magalhães está com 75 anos, atuou na primeira novela da TV brasileira, há 45 anos é casada com um dos maiores galãs do país, continua na ativa e não consegue parar por cinco minutos. Com toda essa energia, ela interpreta uma senhora prestes a completar 80 anos e que namora um rapaz de 20, no espetáculo Ensina-me a viver, em cartaz em São Paulo. No mesmo clima de inquietude, a atriz global Glória Menezes recebeu a reportagem em seu apartamento, no Bairro dos Jardins, região nobre da capital paulista, para falar do trabalho, dos netos, da saúde e mostrar que está feliz e em forma. Afinal, mostrou à reportagem como se faz um belo agachamento.

Como foi estrear na primeira novela da teledramaturgia 2-5499 ocupado, em 1963?

Era um horror. A TV Excelsior fechava à meia-noite. A gente gravava de 1h às 6h, até a TV abrir de novo. De manhã, a gente ia para casa dormir.

O que sua família achava?

Estava casada, com dois filhos. Fui a primeira, não tinha nenhum outro artista na minha família. Naquela época, a profissão não era reconhecida. Você tirava carteira de trabalho no mesmo lugar em que as garotas de programa. Um horror.

Você se acha parecida com sua personagem da peça?

Se eu tenho alguma coisa parecida com a Maude é a alegria de viver e o jeito de descomplicar as coisas. A vida já é complicada demais para ficar complicando.

No caso da sua peça, ter seu nome no elenco facilita?

Não. Uma andorinha só não faz verão. Se você faz um monólogo e consegue sucesso, é porque você está bem. No nosso caso, o bom trabalho é uma soma de fatores. Os outros atores estão bem, a direção é ótima, o teatro é bacana.

Você pensa em fazer cinema?

Fiz muito pouco. Mas não me convidam. E eu não sei o motivo. Diretor de cinema devia ir mais ao teatro para ver que atores ele pode chamar e mudar um pouco, não fazer panelinha.

A favorita foi a primeira novela em HD. Sentiu diferença?
Não. Deu mais diferença nos objetos, a poeira aparece, coisas assim. Com o avanço da tecnologia, as coisas ficaram mais difíceis para o ator. Quem não quiser, que vá vender alguma coisa na feira.

Já pensou em desistir?

Nunca. Quero estar na minha profissão até a morte. Não penso em parar de maneira alguma.

Quem você considera os novos talentos da televisão?

A Gloria Pires não é mais tão jovem, mas eu tenho admiração por ela. Ela tem uma consciência de interpretação na TV, no cinema. Pena que não faz teatro. Tem muitas meninas talentosas. A Isis Valverde é ótima.

Com essa onda de musicais, você não teve vontade de fazer um?

Na minha idade, não dá mais para aprender a cantar. Eu sou afinada, mas... Está aí uma coisa que tenho frustração: não cantar. Agora não dá mais.

Você teve uma infância difícil?

A educação na época era rígida. A mãe do meu pai, por exemplo, nunca aceitou meu trabalho. Vovó era assim: eu colocava uma revista que tinha uma foto minha, ela fingia que não via. Ela ignorou a Glória Menezes, que não é meu nome de verdade, né?

Por que escolheu esse nome?

Escolhi Glória, porque é glória no mundo inteiro. E Menezes pelas minhas raízes portuguesas. Juntos, dá 13 letras. Minha mãe me chamava pelo nome de batismo. Hoje, ninguém mais chama. Só me lembro que sou Nilcedes Soares de Magalhães quando assino um documento.

Seus filhos mais velhos não pensaram em atuar?

Não. Quando o Tarcisinho (Tarcísio Filho, 45) se interessou, foi diferente. Porque ele é filho do Tarcísio, os outros não (a atriz casou-se pela primeira vez aos 17 anos, com um primo). Um é veterinário. A outra é administradora.

Você acha que o fato de o Tarcísio Filho parecer e ter o nome do pai atrapalhou a carreira dele?

Eu acho que sim. Eles são muito parecidos. Desde pequeno, esse menino sempre acompanhou a gente. Foi complicado. Mas agora, as coisas vão indo. Ele estará na novela do Walcyr Carrasco (próxima global da sete).

A Claudia Raia e o Edson Celulari se separaram. Você já sentiu pressão para manter seu casamento?

Não tem receita para um casamento durar. Muitas vezes “separaram” a gente. Eu falava: “Não vou desmentir. O tempo vai mostrar que a gente não está separado”. Passei um e-mail para ela (Claudia Raia), falando que eles devem ter pensado muito. Eles são pessoas de bom senso, meus queridos. Os filhos deles me chamam de vó e o Tarcísio de vô.

Nunca pensou em se separar?

Não. Se tivesse acontecido, nós teríamos de enfrentar. Relacionamento, e não é só de marido e mulher, com a sua irmã, seu pai, tem de ter respeito pela individualidade da pessoa que está ao seu lado. Se você respeita 40%, o casamento já dá muito certo.

O Tarcísio Meira sofreu muito assédio durante a carreira. Você é ciumenta?

Não. Isso nunca me grilou. A gente tem prazer em estar junto. Somos muito cúmplices em tudo o que fazemos. Sou completamente diferente dele. Acho que isso é bom, mas, às vezes, sei que eu o chateio. Às vezes, ele me chateia. É normal. A gente briga e depois fica bem. Acho que tirar noves fora é o mais gostoso. Hoje, estamos numa outra etapa de vida. Os bisnetos estão aí...

Você fez amigos na televisão?

Fiz. O Fúlvio e Vera (Stefanini), a Claudia Raia e o Edson, o Tony Ramos e Lidiane (mulher de Tony) são pessoas que sempre frequentam a minha casa.

O que você faz com o dinheiro que ganha?

O Tarcísio gosta de fazenda, de criação de gado. Aprendi a gostar da terra com ele. Não é uma fazenda de férias. Nós investimos muito nisso. Quando estou na fazenda, cuido das minhas flores.

Como você faz para se manter bem fisicamente?

Acordo todo dia às 8h, ando 45 minutos e faço musculação. É uma necessidade. Eu me livrei de um problema de coluna porque reforcei a minha musculatura. Eu não fazia isso aqui (a atriz faz um agachamento). Tem de criar músculo, senão você leva um tropeção e...

Tem cuidados com a aparência?
Eu fiz plástica no nariz na época de O pagador de promessas (1962). Hoje, me alimento bem, como verdura, deixo a minha pele limpa. Não sei dormir sem limpar a pele e colocar hidratante. Agora, não tenho mais o que fazer. O que tinha de fazer, está feito.

Você acredita em Deus?

Minha relação com Deus é direta. Nós conversamos. A minha avó tinha cinco filhos e fez uma promessa para ter uma filha. Nove meses depois, nasceu minha mãe. Tem um responsório de Santo Antônio, que estou tentando deixar escrito, porque quando eu morrer ninguém mais vai saber. Antes de começar o espetáculo, reúno todo mundo e faço.

Você ainda fica nervosa antes de entrar no palco?
Sim. Ainda fico nervosa, sinto a boca seca. É tudo igual ao começo. Se não ficar, não tem graça.

MAIS SOBRE MEXERICO