Tradição chinesa, chá conquista fãs em Belo Horizonte

Casas especializadas servem a bebida à moda tradicional. Consumo cresce no inverno, que começa nesta sexta-feira

por Ana Clara Brant 21/06/2019 08:10
Fotos: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press
Laila é uma das sócias do Chá comigo, no Santo antônio (foto: Fotos: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press )

Em 2737 a.C., o governante chinês Shennong – considerado o pai da medicina tradicional chinesa – fervia água para beber, quando algumas folhas da árvore Camellia sinensis caíram na panela. Ao ingerir a mistura, percebeu que ela lhe fez bem. Reza a lenda que nasceu assim, por acaso, uma das bebidas mais antigas e consumidas do mundo: o chá. Sua cultura é mais disseminada no Oriente – sobretudo na China, Índia e Japão –, mas foi na Inglaterra que ele ganhou fama.

"Outros lugares da Europa já tomavam chá, principalmente a Holanda. Os ingleses só descobriram a bebida no século 17, quando o príncipe Charles II se casou com a princesa portuguesa Catarina Henriqueta de Bragança, que levou o chá para o Reino Unido", conta a sommelier Andrea Oliveira, criadora da Santo Chá, que funcionou dois anos em Santa Tereza, mas agora se tornou projeto itinerante. A cada semana, a especialista monta uma casa de chá no melhor estilo inglês em algum ponto de BH.

No inverno, que começa hoje, o interesse das pessoas pela bebida aumenta bastante, afirma Andrea, que se formou como sommelier de chá na Argentina. "O brasileiro associa muito essa bebida à coisa medicinal. Se está com dor de barriga ou com ressaca, toma chá, que tem infinitas possibilidades. Pode ser tomado sozinho ou até como drinque", explica.

A sommelier diz que houve aumento considerável da demanda pela bebida no país. "Tem a questão da saúde e da qualidade de vida, preocupação cada vez mais constante, mas, sobretudo, tem o sabor. À medida que as pessoas vão aprendendo, vão desenvolvendo o paladar."

KNOW HOW Carolina Queiroz, gerente da Tea Shop (loja e espaço gourmet no Pátio Savassi), atribui à falta de conhecimento o pouco interesse do brasileiro pela bebida. "Em primeiro lugar, é preciso deixar claro: para ser chamado de chá, deve ter a Camellia sinensis. Todo chá é infusão, mas nem toda infusão é chá. Quimicamente, infusão é a bebida que resulta da imersão de alguns ingredientes em água quente. No mundo dos chás, chamamos de infusões todas as bebidas que resultam desse processo e não provêm da Camellia", explica.

Resumindo: os chazinhos da vovó – camomila, erva-doce e boldo – são infusões. Na Tea Shop, além de chás e infusões, há os rooibos, provenientes de arbustos da África do Sul. "Temos cerca de 120 chás vindos do Sri Lanka, Quênia e Índia, entre outros países. De uns tempos pra cá, a bebida passou a ser mais divulgada, sobretudo o chá gelado. Mas com esse friozinho, as pessoas procuram algo para esquentar", comenta.
 
Claudia Oliveira/Divulgação
Sommelier de chás Andrea Oliveira comanda o Santo chá, projeto itinerante de cha (foto: Claudia Oliveira/Divulgação)
 
Carolina diz que é preciso saber preparar o chá. "Cada folha tem uma temperatura específica, o tempo certo para ferver. Há uma técnica. Disponibilizamos utensílios para o preparo correto – de infusores a canecas, bules e o aparelho chamado recolhe gotas", informa.
O forte da loja é a venda a granel, mas pode-se degustar a bebida. Há chás-verdes (antioxidantes), brancos (da beleza), vermelhos (detox), pretos (energizantes) e oolong/azuis (digestivos). Todos custam R$ 8,90 (caneca de 350 ml).

Entre os especiais, destacam-se o chai latte (chá-preto indiano com canela, gengibre, cravo, cardamomo, leite integral ou vegetal; R$ 13,90) e o choconoir shake (bebida gelada à base de leite com sorvete de creme e chá pu erh choconoir, R$ 20,90). Os matchas chamam a atenção. O chá-verde puro japonês traz folhas tenras reduzidas a pó fino em moinho de pedra. Custa R$ 15,50 (orgânico) e R$ 13,50 (shake). Doces e salgados estão no cardápio: bolos (de R$ 10,90 a R$ 18,50 a unidade), sanduíches (R$ 16,90) e pão de queijo (R$ 5,50).

SURPRESA A Chá Comigo, no Bairro Santo Antônio, é comandada por Laila Moreira e Matheus Faggioli. "O brasileiro, sobretudo o mineiro, é apaixonado por café. Não temos ainda a cultura do chá disseminada, mas confesso: cada vez mais, me surpreendo. Só no ano passado, vendemos 8,8 mil chás aqui", diz Laila.

A casa oferece 30 tipos de chá, boa parte vinda da Alemanha. "Os melhores blends (misturas) são de lá. Cada país produtor envia para a Alemanha e eles fazem as mesclagens", explica Laila. Destacam-se o english breakfast (mescla de chás-pretos), apple lemon (maçã, flores de hibisco, rosa silvestre, casca de limão e capim-limão), masala chai (chá-preto, gengibre, cravo, canela, cardamomo, erva-doce e semente de anis) e lady in red (pedaços de maçã, flores de hibisco, rosa silvestre, pedaços de morango, groselha vermelha e framboesa). O bule de 400ml custa R$ 11,90. Há também um drinque especial, borbulhas de amora (R$ 15), à base de infusão de frutas vermelhas com espumante brut da casa. O cardápio tem saladas (de R$ 25 a R$ 31), pão de queijo recheado (R$ 8,90), esfirra (R$ 6,50), quiches (R$ 9,50) e sanduíches (de R$ 30 a R$ 36). Aos sábados, é servido brunch.

FAZENDA Nos fins de tarde, mulheres costumam bater ponto na Cafeteria da Fazenda, no Anchieta, para apreciar chás mineiros. "Brinco que elas são as minhas doninhas da tarde. Geralmente, vêm em grupo tomar chá de camomila, capim-cidreira ou maçã com canela. Damos até um toque especial: servimos na chazeira que minha irmã trouxe da Índia", conta o proprietário Ivagner Ferreira.

Apesar de o foco da casa ser o café, ele faz questão de servir chá. "Essa bebida não é tão popular por haver poucas casas especializadas na cidade e as próprias cafeterias não aderirem a ela. Mas tem tudo pra virar o jogo. Tomamos café o ano todo, podemos fazer o mesmo com o chá", defende.

CHÁ DAS CINCO

A tradição do chá das cinco surgiu no século 19, na Inglaterra. A duquesa de Bedford sentia fome durante a tarde e decidiu adotar um lanchinho entre as refeições: uma xícara de chá (com leite e um pouco de açúcar), sanduíches de pepino ou scones (pão escocês), creme de leite e conservas. Mulher influente, a duquesa recebia amigos para compartilhar a experiência, que virou moda e, posteriormente, símbolo da Inglaterra.

ONDE IR

CHÁ COMIGO
>> Rua Leopoldina, 634, Santo Antônio. 
(31) 2555-7730. Abre de segunda a sexta, 
das 15h às 22h; sábado, das 10h às 14h.

SANTO CHÁ
>> Chá inglês itinerante. Divulga o local 
semanalmente nas redes sociais (@santochabh). Informações: (31) 9744-2452, com Andrea Oliveira.

TEA SHOP
>> Pátio Savassi. Avenida do Contorno, 6.061, 
loja 260, Savassi. (31) 2531-5010. Abre de 
segunda a sábado, das 10h às 22h; domingo e feriado, das 12h às 20h.

CAFETERIA DA FAZENDA
>> Rua Passatempo, 28, Anchieta. (31) 3324-7774. Abre de terça a sexta, das 8h às 21h; sábado, das 8h às 20h; domingo e feriado, das 8h às 16h.

MAIS SOBRE GASTRONOMIA