Arte do pizzaiolo napolitano se torna Patrimônio Imaterial da Humanidade

Decisão foi adotada nesta quinta-feira pelo Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio da Organização da Unesco, que se reuniu na Ilha de Jeju, na Coreia do Sul

08/12/2017 16:03

Tiziana Fabi/AFP
(foto: Tiziana Fabi/AFP)
Tiziana Fabi/AFP
Honrando a tradição que vem dos anos 1500, pizzaiolos de Nápoles conquistam título da Unesco (foto: Tiziana Fabi/AFP)

“Vitória!”. Foi assim que Maurizio Martina, ministro da Agricultura da Itália, comemorou, no Twitter, o anúncio de que a arte dos pizzaiolos napolitanos é Patrimônio Imaterial da Humanidade.

A decisão foi adotada ontem pelo Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), que se reuniu na Ilha de Jeju, na Coreia do Sul.

“A identidade enogastronômica italiana é cada vez mais defendida no mundo”, afirmou Martina. “Longa vida à arte do pizzaiolo napolitano!”, tuitou Pecoraro Scano, ex-titular do ministério italiano da Agricultura.

Dois milhões de pessoas assinaram a petição mundial para apoiar a candidatura da arte culinária praticada em Nápoles por quase 3 mil profissionais. De acordo com os promotores da iniciativa, os pizzaiolos desempenham “papel essencial na vida social e na transmissão de saberes entre gerações”.

Pier Luigi Petrillo foi o curador do dossiê que embasou a candidatura. Ele explicou que não se trata, propriamente, do “reconhecimento” do prato italiano, envolvendo certificação de origem ou certificação de qualidade, por exemplo, mas da valorização de uma expressão do saber napolitano. A Unesco, segundo ele, homenageia “uma fortaleza cultural”.

O presidente da Associação de Pizzaiolos Napolitanos, Sergio Miccù, prometeu comemorar a decisão da Unesco com a distribuição de pizzas nas ruas.

SÉCULO 16

A cultura do pizzaiolo napolitano, iniciada no século 16, não se limita ao manejo da massa. Em volta dela há canções, sorrisos, técnica e espetáculo, ressaltaram os defensores da candidatura italiana.

A legítima pizza napolitana é feita em quatro etapas. A massa, que leva farinha, água, fermento e sal, deve descansar 24 horas antes de ser esticada. Espalha-se sobre ela molho de tomate, muçarela de búfala e manjericão antes de levá-la ao forno a 485 graus entre 60 e 90 segundos. Pizzaiolos renomados da Itália avisam: esticar a massa com rolo e congelar o produto são heresias gastronômicas.

EUA

Cinco milhões de pizzas são consumidas diariamente na Itália. O setor movimenta 12 bilhões de euros por ano no país. Porém, os principais consumidores do prato são os norte-americanos (13kg/pessoa/ano). Eles superam os italianos, líderes do ranking europeu (7,6kg/pessoa/ano), e os espanhóis (4,3kg/ano).

Em Jeju, o comitê está encarregado de examinar 34 propostas. Cinco tradições latino-americanas estão entre os candidatos a patrimônio imaterial: os cantos de trabalho do llano colombiano-venezuelano, a feira boliviana de Alasita, o ponto cubano, o sistema peruano de Corongo e as técnicas artesanais do sombrero panamenho.

Da ioga à capoeira


Criada em 2003, a lista de patrimônio imaterial reúne cerca de 365 tradições ou expressões vivas, entre elas o flamenco espanhol, a cerveja belga e a filosofia milenar da ioga. Saberes brasileiros também integram a relação. Estão lá a capoeira, o samba de roda do Recôncavo Baiano, a pintura corporal indígena kusiwa, o frevo pernambucano e o Círio de Nazaré.

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