Existe moda sustentável? Estilistas acreditam na ideia

Primeira semana de lançamentos dedicada a grifes que praticam a sustentabilidade em modelos de produção mostra iniciativas capazes de mudar conceitos acerca do fazer e do consumir fashion

por Laura Valente 24/11/2017 14:57
Mrvimm/divulgação
Natural Cotton (foto: Mrvimm/divulgação)

       Termina hoje, em São Paulo, a primeira semana de moda sustentável do país. Nomeada Brasil Eco Fashion Week (BEFW), a iniciativa contou com desfiles de 14 grifes – incluindo as mineiras Grama e Doisélles,  além de palestras, showroom, mostras, workshops, lançamentos de filmes e outros. 

       Idelizada por Rafael Morais e Fernanda Simon (Fashion Revolution Brasil), a iniciativa propõe conectar, de forma inovadora, aqueles que estão mudando o modo de criar, produzir e consumir moda: "São diversos profissionais mobilizados pela causa, formando uma corrente e acreditando na importância deste encontro" disse Fernanda, acrescentando que esse tipo de movimento é cada vez mais significativo no mundo da moda. “O objetivo é sensibilizar, inspirar e fomentar a moda ética e consciente”. 

         Fernanda afirma que abriu inscrições para marcas de todo o país, cuja produção envolve conceitos afeitos a um mercado de moda engajado a valores humanos, consciência de consumo e preservação ambiental, “iniciativas que estão entrando para a história e provando a força positiva de transformação da moda”, ressalta. 
Grama/divulgação
(foto: Grama/divulgação)

         Além dos desfiles, a BEFW conta com um showroom aberto para varejo e atacado, propondo um novo modelo de vendas. “As marcas participantes foram escolhidas por meio de uma curadoria apurada que considera design, o meio ambiente, as pessoas e a criatividade. Sustentabilidade, consciência, igualdade e colaboração representam os valores-chave do evento”, afirma ela. 

           Iniciativas acadêmicas também foram apresentadas na plataforma, a exemplo da  Mostra Novos Designers e de espaço dedicado à exposição empreendida por alunos da disciplina Formação Integrada em Sustentabilidade (FIS) da Fundação Getúlio Vargas com a plataforma Moda Limpa (agenda de fornecedores que defendem práticas sustentáveis). 


       Conheça as marcas

Envido/divulgação
(foto: Envido/divulgação)

A.LU.F: simbiose entre moda, psicologia e arte, é baseada no processo da arteterapia e busca traduzir nas peças o mundo imaginário de sentimentos e sensações. Oprocesso criativo é manual e de feitio íntegro, consciente e sensível. Cerca de 60% da matéria-prima vem de reaproveitamentos têxteis e de fios de seda de casulos que seriam descartados.

Aurora: por meio da utilização de insumos orgânicos e sustentáveis e de mão- de- obra afetiva, a grife de moda e decoração aposta na democratização e em ser um vetor de multiplicação do conhecimento em torno do resgate do trabalho manual e de um mercado mais justo e sustentável.

Comas: idealizada pela estilista uruguaia Agustina Comas, produz a partir da técnica de upcycling- processo pelo qual produtos descartados são recuperados, transformados e recolocados no mercado.  Desenvolveu o Oricla, tecido feito a partir de resíduos têxteis.

Zé Takahashi- Agência Fotosite/divulgação
Doisélles (foto: Zé Takahashi- Agência Fotosite/divulgação)
Doisélles
: projeto da mineira Raquell Guimarães,  é uma das marcas de moda pioneiras na sustentabilidade. Desde a criação do Projeto Flor de Lotus, que emprega a mão de obra de sentenciados do sistema prisional, ela acredita que o ensino de um ofício é capaz de recuperar a cidadania e diminuir a reincidência no crime. A marca tem tradição em tricô e crochê e comemora 10 anos de respeito e visibilidade no mercado internacional.

Envido: criada pelas irmãs Lívia e Mariana Duda, a grife defende uma moda sexy, minimal e de pegada vintage. As modelagens são autorais e projetadas para gerar o menor resíduo possível a partir de matérias-prima como algodão e PET reciclados, nylon biodegrável, upcycling de tecidos antigos e linho. Há parceria com a ONG Chicote Nunca Mais e com o projeto social Desperta - moda para mudança. 

Fracesca Córdova: processos handmade estão no cerne do ofício da estilista curitibana que dá nome à grife que trabalha com conceitos do slow design e da artwear inspirada nas artes decorativas. Destaque para a produção a partir de técnicas antigas de manufatura, num “estímulo ao vestir consciente e com significado”. 

Grama: projeto da estilista mineira Ana Sudano a partir de técnicas e materiais sustentáveis e por meio de parcerias com artesãos, associações e pequenos produtores, valorizando saberes tradicionais. Entre as matérias- primas tecidos orgânicos, biodegradáveis, com tecnologias limpas e de reciclagem além do uso de pigmentos naturais e patchworks com retalhos. 

Jouer Couture: produz coleções reduzidas, mirando a necessidade real de cada peça no guarda-roupa e em parceira com oficinas locais e projetos sociais como o Pano Pra Manga (da ONG Design Possível). A coleção contempla ainda elementos de fé e proteção em formas, cores e modelagens. 

Manui Brasil: o tingimento natural em peças estampadas manualmente é o diferencial da grife slow fashion que produz peças agênero, versáteis, atemporais e únicas. “ É por meio da experiência do produzir  uma moda consciente que a marca expressa a brasilidade”, revela Juliana Bastos.  

Movin:  focada em sustentabilidade desde 2011, a carioca movin® explora matérias-primas orgânicas, recicladas, alternativas e tecnológicas. É certificada com o selo Sistema B, que contempla empresas cujos produtos unem lucros e benefícios sociais. 

Nalimo: a partir da ressignificação de resíduos e do reaproveitamento têxtil , tem produção artesnal e em pequena escala de modelos em paleta de cores permanente e atemporal (preto, branco e cinza). O design remete a alfaiataria esportiva, com acabamento de ponta. “O maior ato revolucionário é repensar o consumo.Ter menos coisas e vivenciar mais experiências, esse é o lema”, defende o slogan. 

Natural Cotton Color: a grife paraibana já esteve no Minas Trend, apresentando a dinâmica de trabalhar exclusivamente com produtos  criados com algodão colorido orgânico (nos segmentos feminino, masculino, infantil, calçados e acessórios). Como a pluma da matéria-prima não necessita de qualquer tipo de tingimento químico, a produção economiza, em média,  87,5% da água em comparação ao processo tradicional. O trabalho de artesãos locais também é contemplado.   

Vert: a grife produz tênis com matéria-prima sustentável, a exemplo de lona e forro feitos de algodão orgânico e tecidos de garrafa PET. As solas são de borracha nativa da Amazônia. O design traz estética minimalista.  

Vicente Perrota: a artista e estilista que dá nome à marca é conhecida por desenvolver roupas a partir de materiais de descarte e transformá-las em peças de vestuário. A ideia é ressignificar a relação dos produtos, transformados em “obras” que rompem com padrões impostos pela indústria cultural. “Trato, aqui, abjeção nos termos da filósofa Judith Butler, corpos que não se encaixam nos padrões de uma exis corporal eurocêntrica, magra, branca, binária e cisgênera”, diz.