Seminário discute o mundo pós-pandemia, da arte ao trabalho

Projeto vai reunir de filósofos a economistas, gente da literatura, arte e civilização indígena em seis encontros virtuais

Augusto Pio 14/07/2020 07:32
MARCOS VIEIRA/EM/D.A PRESS - 27/9/20
Ailton Krenak abre a série promovida por entidades culturais da Fiat, Vale, Gerdau e CCBB: 'O homem se descolou da vida do planeta' (foto: MARCOS VIEIRA/EM/D.A PRESS - 27/9/20)
Aprofundar o debate sobre o futuro num mundo pós-coronavírus é um dos desafios do seminário Conversas sobre perguntas. Por meio do estímulo a diálogos multidisciplinares, o webinário será promovido de hoje (14) a 18 de agosto, sempre às terças-feiras, às 17h.

O projeto é idealizado pela Casa Fiat de Cultura, CCBB, Memorial Minas Gerais Vale e MM Gerdau – Museu das Minas e do Metal, com curadoria coletiva. O evento é gratuito, com palestras transmitidas nos canais dos YouTube dos respectivos espaços culturais. Reunirá pensadores da ciência, filosofia, artes e futurologia.

Quem abre o programa nesta terça (14) é Ailton Krenak, líder indígena, ambientalista e escritor. De Itabirinha, na Região do Vale do Rio Doce (MG), ele é integrante da comunidade dos Krenak e falará sobre as potências do afeto. Para ele, a possibilidade de mudança está no campo de desejo, baseado na cooperação. A jornalista, escritora e documentarista Daniella Zuppo será a mediadora.

Na visão de Krenak, o homem está tão afastado da natureza que criou uma brecha para que a COVID cruzasse o mundo sem obstáculos. “Se parte da humanidade ainda tivesse profundas relações com a natureza, provavelmente não contrairia o vírus. O homem se descolou da vida do planeta, a ponto de criar um vácuo entre ele e a Terra, para um organismo atravessar o planeta inteiro”.

Ele aponta retrocessos. “Estamos dando um salto para o futuro, mas passando por cima das condições do presente e esse equívoco está nos levando a aterrissar no passado.” Na pressa, o ser humano estaria repetindo erros e se atropelando. “O presente é agora. O mundo com uma pandemia, passando um aperto danado e sem perspectivas sobre o que acontecerá amanhã. É como se chegássemos ao banco do tempo e pedíssemos para o gerente: me empresa um futuro? Pode cobrar juros exorbitantes, não tem problema, pois estou louco por um futuro’.

OTIMISMO


No dia 21 é a vez da futurista paulista Lala Deheinzein, que abordará as faces do futuro, mudanças socioculturais, criatividade e inovação. Indicada pela P2P Foundation como uma das 100 mulheres que estão cocriando a sociedade colaborativa, na categoria Pioneiras e defensoras nos negócios e economia ética, ela discutirá as adaptações necessárias à vida nas próximas décadas.

Lala debaterá o papel dos artistas e de toda a área cultural e como serão essenciais as mudanças a partir de agora. “O principal é compreendermos que a vida mudou e essa mudança poderá nos levar para um lugar mais interessante”. Ela reforça que o desafio atual, inclusive o do coronavírus, é exponencial. “Porém, se trabalhamos sozinhos, não conseguiremos dar conta. Tem-se uma resposta linear para um desafio exponencial e aí não há como. A chave está no fazer em grupo, colaborar”.

Ela se diz otimista. “Sempre temos medo do futuro. Porém, em situações como a que estamos vivendo, acabamos chegando a lugares melhores. Por mais duro que seja o caminho, nunca tivemos tanto conhecimento, tanta gente querendo fazer diferente e tantos recursos.”

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