Dias antes de morrer, Moraes Moreira publicou poema sobre o coronavírus

Cordel foi publicado no Instagram do cantor, que dizia temer a pandemia de Covid-19, mas também outros males do país, como a violência e o preconceito

Correio Braziliense 13/04/2020 15:01

Facebook / Reprodução
Artista publicou a nova composição em suas redes sociais (foto: Facebook / Reprodução )
Dias antes de morrer, o cantor e compositor baiano Moraes Moreira publicou nas redes sociais um cordel em que dizia temer a pandemia de coronavírus e outras mazelas que atingem o país, como a violência, o preconceito e o machismo.

Os versos foram postados em seus perfis no Instagram e no Facebook no dia 17 de março, quando o isolamento residencial começa no Brasil, diante do avanço a epidemia causada pelo novo coronavírus.

O poema começava assim: "Eu temo o coronavírus / E zelo por minha vida / Mas tenho medo de tiros / Também de bala perdida" (leia abaixo a íntegra do cordel, intitulado Quarentena). 

A Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, não está relacionada à morte do autor de Lá vem o Brasil descendo a ladeira e tantos outros clássicos da MPB.  

Segundo a assessoria de imprensa do artista, Moreira morreu depois de sofrer um infarto agudo do miocárdio. Ele foi encontrado no apartamento onde morava, no Rio de Janeiro, por sua empregada doméstica, por volta das 6h desta segunda-feira (13/4).

 

Leia na íntegra: 

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Oi pessoal estou aqui na Gávea entre minha casa e escritório que ficam próximos,cumprindo minha quarentena,tocando e escrevendo sem parar. Este Cordel nasceu na madrugada do dia 17, envio para apreciação de vocês .Boa sorte Quarentena (Moraes Moreira) Eu temo o coronavirus E zelo por minha vida Mas tenho medo de tiros Também de bala perdida, A nossa fé é vacina O professor que me ensina Será minha própria lida Assombra-me a pandemia Que agora domina o mundo Mas tenho uma garantia Não sou nenhum vagabundo, Porque todo cidadão Merece mas atenção O sentimento é profundo Eu não queria essa praga Que não é mais do Egito Não quero que ela traga O mal que sempre eu evito, Os males não são eternos Pois os recursos modernos Estão aí, acredito De quem será esse lucro Ou mesmo a teoria? Detesto falar de estrupo Eu gosto é de poesia, Mas creio na consciência E digo não a todo dia Eu tenho medo do excesso Que seja em qualquer sentido Mas também do retrocesso Que por aí escondido, As vezes é o que notamos Passar o que já passamos Jamais será esquecido Até aceito a polícia Mas quando muda de letra E se transforma em milícia Odeio essa mutreta, Pra combater o que alarma Só tenho mesmo uma arma Que é a minha caneta Com tanta coisa inda cismo.... Estão na ordem do dia Eu digo não ao machismo Também a misoginia, Tem outros que eu não aceito É o tal do preconceito E as sombras da hipocrisia As coisas já forem postas Mas prevalecem os relés Queremos sim ter respostas Sobre as nossas Marielles, Em meio a um mundo efêmero Não é só questão de gênero Nem de homens ou mulheres O que vale é o ser humano E sua dignidade Vivemos num mundo insano Queremos mais liberdade, Pra que tudo isso mude Certeza, ninguém se ilude Não tem tempo,nem.idade

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