Brasileira depõe a favor de Harvey Weinstein em julgamento por estupro

Carioca radicada nos EUA, atriz Talita Maia era amiga de Jessica Mann, que acusa o produtor de tê-la estuprado em 2013. A brasileira não corroborou a versão da acusadora

Estado de Minas 13/02/2020 06:00
IMDB/Reprodução
A atriz e dubladora brasileira Talita Maia (foto: IMDB/Reprodução )
A atriz e dubladora brasileira radicada nos Estados Unidos Talita Maia, de 35 anos, depôs favoravelmente ao produtor Harvey Weinstein, no julgamento em que ele responde a acusações de estupro e agressão sexual feitas por duas mulheres.
 
Talita foi intimada a depor na segunda-feira passada (10) porque uma das acusadoras de Weinstein, a atriz Jessica Mann, de 34, afirma que a brasileira estava do lado de fora do quarto de hotel na Califórnia onde o produtor a teria estuprado em 2013.

Questionada sobre o episódio, Talita apresentou uma versão dos fatos favorável à defesa de Weinstein, de 67. Ela confirmou que, na época, era amiga de Jessica e as duas estavam juntas no bar do hotel em companhia do produtor. Quando o bar fechou, segundo Talita, ela foi chamada a subir ao quarto com o produtor e a amiga.
A atriz disse ter se sentido desconfortável com a situação, mas afirma que aceitou acompanhá-los porque ela daria a impressão “de ser uma prostituta” se ficasse sozinha no lobby do hotel naquele horário.

De acordo com Talita, ela ficou assistindo à TV na antessala do apartamento, enquanto Weinstein e Jessica entraram para o quarto. Respondendo às perguntas da equipe de defesa do produtor, Talita disse que Jessica não parecia triste ou alterada quando saiu do quarto, aproximadamente 10 minutos depois de ter entrado.
 
Disse ainda que a amiga não comentou que teria sido estuprada pelo produtor e continuou agindo “normalmente” no dia seguinte, quando tomaram café juntos.

Johannes Eisele/AFP
Harvey Weinstein chega para sessão de seu julgamento, em Nova York (foto: Johannes Eisele/AFP)
A atriz brasileira afirmou ainda que Jessica e Weinstein tinham uma relação que “às vezes se parecia com amizade, outras vezes com romance” e que a amiga teria se referido a ele como sua “alma gêmea espiritual”. Ela confirmou que ambas tinham a pretensão de obter papéis em Hollywood e que Weinstein fez comentários de que elas poderiam ser escaladas para produções de sucesso.

Os promotores que acusam Weinstein dos crimes pressionaram Talita a falar do fim de sua amizade com Jessica, ocorrido em 2016, sugerindo que ela poderia estar mentindo para prejudicar a agora inimiga.
 
A brasileira admitiu que Jessica “teve atitudes que causaram um impacto tremendamente negativo” em sua vida, disse que preferiria não ter que passar por aquela situação do depoimento, mas afirmou que não odeia a ex-amiga.

Na semana passada, Jessica foi duramente interrogada pela defesa de Weinstein e chegou a ter uma crise de choro incontrolável, que obrigou o juiz a suspender a sessão mais cedo. A advogada de Weinstein, Donna Rotunno, sustenta a tese de que era Jessica quem manipulava o produtor com o intuito de fazer avançar sua carreira.
 
A atriz admitiu ter mantido uma relação íntima com Weinstein durante vários anos após a suposta agressão, assim como ter feito sexo consensual com ele.

David Dee Delgado/AFP
A atriz Jessica Mann chega para testemunhar no julgamento de Harvey Weinstein (foto: David Dee Delgado/AFP)
Talita Maia é carioca e se mudou para os Estados Unidos depois de estudar interpretação e direito (não concluído) no Rio de Janeiro, segundo consta em sua biografia no site especializado em cinema Internet Movie Data Base (IMDB). Ela atua como atriz, produtora, dubladora para o Brasil e está atualmente interessada em desenvolver uma carreira na direção.

Além de Talita, a atriz Claudia Salinas foi intimada a depor, no contexto da segunda acusação, feita pela atriz Lauren Young, de que Weinstein a agrediu sexualmente num hotel, há sete anos. Segundo Lauren, Claudia teria sido testemunha da agressão.

No entanto, assim como Talita, depondo sob juramento, Claudia não corroborou a versão oferecida por Lauren e negou que tenha presenciado o produtor atacar Lauren.  Os advogados de Weinstein chamaram outras cinco testemunhas.

A acusação já havia convocado no início do julgamento seis mulheres que afirmam ter sido vítimas de agressão sexual ou estupro por Weinstein. Nesses casos, porém, os crimes já prescreveram e elas não podem mais processá-lo criminalmente.
 
Seus depoimentos foram ouvidos para reforçar a tese de que Weinstein é um predador sexual que fez dezenas de vítimas e abusou de seu poder em Hollywood para subjugar profissionais em início de carreira.

Depois de deliberar com seus advogados, Weinstein decidiu que ele não iria depor, o que foi informado aos jurados e ao juiz na terça-feira (12). Com essa decisão, a fase de declarações foi encerrada. Agora, têm início as alegações finais e deliberações, que podem durar algumas semanas.

Se considerado culpado pelo júri, formado por cinco mulheres e sete homens, Weinstein pode receber uma sentença de prisão perpétua. Ainda que uma psiquiatra citada pela acusação, Barbara Ziv, tenha declarado que as vítimas de agressão sexual muitas vezes mantêm contato com o seu agressor, o júri pode ter dificuldades para determinar se Weinstein pode ser considerado culpado “para além de todas as dúvidas razoáveis”.

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