Morre em BH poeta, artista multimídia e músico Marcelo Dolabela

Velório, na Casa do Jornalista, vai até a meia-noite deste sábado (18). Enterro será no domingo em Lajinha, cidade natal de Dolabela

Mariana Peixoto 18/01/2020 12:44
Túlio Travaglia
Marcelo Dolabela em 2013 (foto: Túlio Travaglia)

Morto na manhã deste sábado (18), aos 62 anos, em decorrência de um AVC sofrido há um ano, Marcelo Dolabela será velado até a meia-noite na Casa do Jornalista. A pedido dele, o velório será regado a poesia, música e cerveja. A partir das 19h amigos e colegas vão homenageá-lo com um sarau.
 
O enterro do poeta, roteirista, músico e artista audiovisual será neste domingo (19), às 15h, em Lajinha, Zona da Mata mineira, cidade natal de Dolabela.
 
“A gente meio que orbitava em torno do Marcelo. É mestre de muitos outros, de outras gerações”, publicou em rede social John Ulhoa, guitarrista do Pato Fu. Em 1983 Dolabela criou o Divergência Socialista, banda seminal do underground belo-horizontino, que continuou na ativa por três décadas, com diferentes formação.
 
Laboratório para muitas outras bandas, o Divergência teve em sua formação inicial Dolabela, Cilma, John Ulhoa, Márcio e Rubinho Troll. Mais tarde, também integrou o Sexo Explícito que, nos anos 1990, deu origem ao Pato Fu.
 
Colecionador nato, Dolabela falava de música como ninguém – escreveu ABZ do rock brasileiro (1987), uma preciosidade que reunia, muito antes da internet, todo o mundo que importava na música brasileira. 
 
“Ele organizou tamanho material, que foi necessário montar um escritório no Edifício Maletta só para esse fim”, lembrou-se o poeta e jornalista Carlos Barroso.
 
Dolabela tinha uma coleção incrível de discos – uma parte dela foi reunida na exposição A história do rock brasileiro em 1.000 discos, promovida em 2012 no Centro Cultural UFMG. Na época, contou ao Estado de Minas que o primeiro LP nacional que havia comprado era o disco de estreia d'Os Mutantes (1968), quando tinha dez anos de idade. 
 
“Ele sempre gostou de livros pequenos, que ele mesmo editava. Não aceitava as instituições e, para ele, o mais importante era a poesia e o poeta por si só”, afirmou a professora de literatura  da UFMG Vera Casa Nova. Dolabela publicou dezenas de livros, a maior parte de poesia.
 
Amiga de Dolabela – “o conheci nos botecos do Maletta e da Savassi” – Vera Casa Nova chamou a atenção para a coleção Poesia orbital, coordenada por ele. Lançada em 1997 no centenário de Belo Horizonte, reuniu 62 livros de diferentes autores. “Como ele mesmo falou em Amônia, 'dez bilhões de vozes num único eco'. Com esta coleção ele procurou apresentar para BH variadas órbitas poéticas, já que ele pensava sempre no coletivo”, acrescenta Casa Nova. Para um futuro próximo ela espera editar, num só volume, a extensa obra de Dolabela.
 
“A poesia acompanhou Dolabela por toda uma vida, desde a geração mimeógrafo, também chamada de marginal, e a fundação da revista Cemflores (1977/1978), que se opunha de forma veemente e poética à ditadura militar. Cemflores Pirata e Cemflores Greve, por exemplo, eram distribuídos em manifestações populares e de trabalhadores”, acrescentou Barroso.
 
“O Marcelo, além de um trabalho muito autoral e pessoal, sempre foi a referência intelectual para muitas pessoas em Belo Horizonte. Era um conselheiro”, comentou Rafael Conde, que esteve ao lado de Dolabela em seus primeiros curtas, entre eles Uakti – Oficina instrumental (1987, com texto de Dolabela) e A hora vagabunda (1998, quando dividiu com Conde o roteiro). Outra parceria foi com a realizadora Patrícia Moran – entre outros, Dolabela escreveu com ela o roteiro de Plano-sequência (2002). 
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