Faça um passeio pelos lugares fundamentais na vida e na escrita de Sabino

Nascido em Belo Horizonte em 1923, escritor viveu na capital até 1944. Em suas crônicas, contos e romances, fez diversas referências a prédios, praças e ruas da cidade

por Estado de Minas 12/10/2018 07:30
Paulo Filgueiras/EM
Vale lembrar que foi acrescentada uma incursão ao Viaduto Santa Tereza, numa homenagem ao trecho de O encontro marcado, no qual os personagens Eduardo Marciano, Hugo e Mauro, bêbados, sobem nos arcos do elevado famoso (foto: Paulo Filgueiras/EM )
Os brasileiros e todos os amantes da boa literatura têm, esta semana, duas datas importantes para lembrar – e reverenciar a memória de um escritor mineiro. Se estivesse vivo, o belo-horizontino Fernando Sabino (1923-2004), autor de obras importantes como O encontro marcado, O grande mentecapto e O homem nu completaria nesta sexta-feira (12), 95 anos. Já ontem (11), fez 14 anos da morte do homem que também trabalhou como jornalista e editor e ganhou os prêmios Jabuti e Machado de Assis, sendo esse da Academia Brasileira de Letras. Nesta reportagem, o Estado de Minas e o Portal Uai convidam os leitores para uma viagem por lugares fundamentais na vida e na escrita de Sabino.

O escritor morou em Belo Horizonte até 1944, portanto 21 anos, e deixou em palavras o registro do afeto por alguns locais que remetem à juventude. A base para esse caminho está na crônica BH – ontem, hoje e sempre, de autoria dele e publicada em 24 de dezembro de 2001 no caderno de Cultura do EM. Vale lembrar que foi acrescentada uma incursão ao Viaduto Santa Tereza, numa homenagem ao trecho de O encontro marcado, no qual os personagens Eduardo Marciano, Hugo e Mauro, bêbados, sobem nos arcos do elevado famoso. Atualmente, os postes e luminárias existentes na estrutura passam por um processo de restauro, principalmente na iluminação.

O passeio começa por uma crônica, em que Sabino escreve: "Precisava fazer com urgência uma cirurgia plástica na minha saudade". E, se referindo ao cirurgião mineiro Ivo Pitanguy (1926-2016), conta que o amigo em breve iria dividir com ele uma conversa nostálgica. Seguindo a ordem cronológica do texto, a primeira parada é na Praça da Liberdade, citada por Sabino como lugar para footing e namoros. Traduzindo: no footing, comum até o fim dos anos 1960, os rapazes ficavam parados numa praça ou avenida, enquanto as moças, tímidas e normalmente em grupos de três ou quatro, passeavam lentamente, trocando olhares. Muitos namoros e casamentos resultaram desse flerte.

Os casais românticos que se veem hoje na Liberdade trazem à tona o que o escritor escreveu na crônica ao falar sobre a praça: "O coreto em frente ao lago, os jardins ainda mais belos... Reconheço até mesmo o desvão entre roseiras em flor, onde ousei colher o primeiro beijo de uma namoradinha".


Paulo Filgueiras/EM
Na Rua da Bahia, a sede social do Minas Tênis Clube, pelo qual o escritor disputou competições de natação (foto: Paulo Filgueiras/EM)
COMPETIÇÕES Mais à frente, outra lembrança de Sabino preservada. Na Rua da Bahia, a sede social do Minas Tênis Clube, pelo qual o escritor disputou competições de natação, se mantém como foi construída entre as décadas de 1930 e 1940. Já o parque aquático foi modernizado e ampliado. O complexo, uma grande arena multiuso, é totalmente diferente do terreno arborizado da época de atleta do escritor.

Na Avenida João Pinheiro, 450, o imóvel tombado da Escola Estadual Affonso Penna preserva todas as características da década de 1930, quando Sabino foi matriculado no primário pelos pais. No portão gradeado, o nome da escola é a prova de que quase nada mudou: Grupo Affonso Penna, mantendo-se a grafia do português da época. É o próprio escritor quem confirma que sua escola primária mantém até a cor original: "O mesmo prédio cor-de-rosa ao redor do pátio – nós, os meninos, brincando na hora do recreio", recorda, com poesia, em sua crônica.


BIOGRAFIA Em 1930, após aprender a ler com a mãe, Fernando Sabino ingressa no grupo escolar e, na sequência, faz o curso secundário no Ginásio Mineiro. Em 1936, tem seu primeiro conto policial estampado na revista Argus, da Secretaria de Segurança de Minas Gerais. Em 1938, ajuda a fundar um jornal A Inúbia, no ginásio mineiro. Ao final do curso conquista a medalha de ouro como o primeiro aluno da turma.

Ele começa a colaborar regularmente com artigos, crônicas e contos nas revistas Alterosas e Belo Horizonte. Em 1941, Sabino inicia o curso superior na Faculdade de Direito de Minas Gerais. Nesse mesmo ano reúne seus primeiros contos no livro Os grilos não cantam mais. Colabora com o jornal literário do Rio, Dom Casmurro, com a revista Vamos Ler e com o Anuário Brasileiro de Literatura.

Em 1942, Fernando Sabino é admitido como funcionário da Secretaria de Finanças de Minas Gerais e dá aulas, de português no Instituto Padre Machado. É nomeado oficial de gabinete do secretário de agricultura e faz estágio de três meses como aspirante no Quartel de Cavalaria de Juiz de Fora, na Zona da Mata, período que serviria de inspiração para episódios de O grande mentecapto.

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O escritor escreveu sobre a Praça da Liberdade: "O coreto em frente ao lago, os jardins ainda mais belos... Reconheço até mesmo o desvão entre roseiras em flor, onde ousei colher o primeiro beijo de uma namoradinha" (foto: Paulo Filgueiras/EM)
Em 1944, Sabino muda para o Rio de Janeiro e integra a equipe mineira na Olimpíada Universitária de São Paulo. Em 1946 forma-se em direito e embarca com Vinicius de Moraes (1913-1980) para os Estados Unidos. Passa a residir em Nova York, trabalhando no Escritório Comercial do Brasil e depois no Consulado Brasileiro. Em 1947, envia crônicas de Nova York para os jornais Diário Carioca e O Jornal, do Rio de Janeiro, que são transcritas por diversos jornais do resto do país.

De volta ao Brasil, em 1948, Sabino assume o cargo de escrivão da Vara de Órfãos e Sucessões. Em 1949, colabora com diversos jornais e a revista Manchete. Em 1956, publica O Encontro Marcado, sucesso de crítica e de público, com a média de duas edições anuais no Brasil e várias no exterior, além de adaptações teatrais no Rio e em São Paulo.

Em 1959 comparece ao lançamento de O encontro marcado em Lisboa, Portugal. Em 1960 faz viagem a Cuba, como correspondente do Jornal do Brasil. Fernando Sabino é efetivado no cargo de redator do Serviço Público, da Biblioteca Nacional e mais tarde da Agência Nacional, cabendo-lhe a elaboração de textos para filmes de curta-metragem.Em 1964, durante o governo João Goulart, é contratado para exercer as funções de Adido Cultural junto à Embaixada do Brasil em Londres. Em 1965 se desfaz da sociedade com Rubem Braga e funda a Editora Sabiá. Em 1972 funda a Bem-Te-Vi Filmes.


Em 1975, após 16 anos de colaboração, deixa o Jornal do Brasil, onde permaneceu por 15 anos. Inicia, em 1977, a publicação de crônica semanal sob o título de Dito e Feito num jornal carioca. A colaboração se prolonga por 12 anos, sendo reproduzida no Diário de Lisboa e em 80 jornais no Brasil. Em 1991, Fernando Sabino lança o livro Zélia, Uma paixão, biografia autorizada de Zélia Cardoso de Mello. Sabino morreu no Rio, em 11 de outubro de 2004.

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