Morre aos 86 anos o cineasta Roberto Farias

Diretor de 'Assalto ao trem pagador' já estava com a saúde fragilizada e lutava contra um câncer

por Estado de Minas 14/05/2018 13:18

Arquivo
Ainda que debilitado, foi reeleito para a presidência da ABC no mês passado. (foto: Arquivo )

Morto nesta segunda (14) 86 anos em decorrência de um câncer, o cineasta Roberto Farias atuou em diversas frentes do cinema. Além de dirigir, foi também montador, roteirista, produtor e distribuidor. Só não atuou como ator, a exemplo de seu irmão mais novo, Reginaldo Faria. Deixou a mulher, Ruth, e quatro filhos: Maurício, Mauro, Lui (todos também cineastas) e Marisa. Ele lutava contra um câncer de próstata há cerca de cinco anos, e estava internado no Copa Star. O velorio será amanhã, no Memorial do Carmo, e o enterro, em Nova Friburgo, onde nasceu.

 

Diretor do clássico O assalto ao trem pagador (1962) e à frente da Academia Brasileira de Cinema (ABC), Farias foi também presidente da Embrafilme entre 1974 e 1978, considerada a fase áurea da empresa.

 

Mesmo debilitado, foi reeleito para a presidência da ABC – que ajudou a fundar – no mês passado. A causa da morte ainda não foi divulgada pela entidade nem pela família. "Era algo esperado, mas a gente nunca espera de verdade. A gente sempre imagina uma saída no fim do túnel", lamentou seu vice na ABC, Jorge Peregrino.

 

Farias também foi produtor e distribuidor. Nasceu a 27 de março de 1932 e entrou no mundo do cinema no início dos anos 1950, como assistente de direção de Watson Macedo, na Atlântida. O primeiro filme foi Rico ri à toa (1957), seguido de No mundo da lua (1958), Cidade ameaçada (1959), Um candango na Belacap (1960).

 

Ainda que seu último filme tenha 31 anos – Os Trapalhões no Auto da Compadecida, de 1987 – sua obra mais relevante é de décadas anteriores. Depois da fase das chanchadas da Atlântida, Farias dirigiu aquele que se tornou um marco em sua obra.

 

Em O assalto ao trem pagador, ele introduziu o gênero policial, influenciado pela estética noir do cinema norte-americano. Partindo de um acontecimento – o assalto contra o trem pagador da Central do Brasil, no Rio de Janeiro – ele conseguiu ainda fazer uma crítica à realidade brasileira.

 

Transitando entre o cinema de estúdio e o de locação, Farias sempre teve uma atuação forte nos bastidores do cinema. Já em 1965 fundou, com o produtor Luiz Carlos Barreto e o cineasta Glauber Rocha, a Difilm, distribuidora que atuava com nomes do Cinema Novo. Pouco depois abriu sua própria produtora, a R.F. Farias, que respondeu peça produção de longas históricos, como Toda donzela tem um pai que é uma fera (1966, do próprio Farias), Toda nudez será castigada (1973, de Arnaldo Jabor) e Com licença, eu vou à luta (1986, de Lui Farias).

 

Farias ainda foi o responsável por colocar Roberto Carlos nos cinemas. Dirigiu, entre 1967 e 1971, três longas protagonizados pelo rei: Roberto Carlos em Ritmo de Aventura, O Diamante Cor de Rosa e A 300 Km por Hora. Na época, o cantor e compositor fazia sua transição do iê-iê-iê para a persona do baladista romântico – o cinema ajudou bastante nesta mudança.

 

A afinidade de Farias com os mecanismos de distribuição junto a sua atuação política no meio cinematográfico fazem com que ele seja indicado para dirigir a Embrafilme – na época, meados dos anos 1970, ele se afastou da direção. Voltou em 1982, com Pra frente, Brasil, longa que causou polêmica no país.

 

Além do cinema, Farias teve uma carreira prolífica na televisão. Na Globo, dirigiu as minisséries As noivas de Copacabana (1992), Contos de verão (1993), Memorial de Maria Moura (1994) e Decadência (1995), das séries Sob nova direção (2004/2007) e Faça sua história (2008). Atualmente, prestava consultoria para a Globo Filmes.

 

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