Marcia Tiburi lança em Belo Horizonte livro baseado em seus sonhos

Autora autografa 'Uma fuga perfeita é sem volta' e conversa com público do Sempre um Papo sobre o romance. 'Deixei meu personagem sonhar os meus sonhos', diz ela

por Estado de Minas 04/10/2016 11:09

Simone Marinho/Divulgação
A escritora e filósofa Márcia Tiburi (foto: Simone Marinho/Divulgação)
 

Uma Fuga perfeita é sem volta começa justamente com um sonho que tive muitas vezes e acabou levando a escrever um romance. O que era sonho para mim tornou-se ficção. Eu não poderia fazer diferente nesse caso. Não foi apenas uma decisão, era uma necessidade.”

 

Assim a escritora Marcia Tiburi explica o motor de seu novo romance. A filósofa e escritora é a convidada desta terça (4) do projeto Sempre Um Papo para conversa e lançamento do livro, às 19h30, na sala Juvenal Dias, no Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, 31.3236.7400).

Os sonhos do romance são todos da autora. E ela os emprestou a Klaus Wolf Sebastião, protagonista e narrador. “Tendemos a ver os sonhos como coisas íntimas, porque vivemos em uma sociedade individualista que costuma perder a função coletiva daquilo que se vive. Para vários povos nativos do Brasil, os sonhos têm uma outra função mais social, mais impessoal. Foi com essa intenção que deixei meu personagem sonhar os meus sonhos”, conta ela, que esteve muitas vezes, durante o sono, diante da cena que abre o livro: a notícia da morte do pai dada pela irmã, por telefone.

 

Na ficção, Klaus, brasileiro e morador de longa data de Berlim, interrompe sua solidão, todo ano, para telefonar para Agnes, a irmã que ainda mora na antiga casa da família, em Florianópolis. A notícia eclode, no funcionário da chapelaria de um museu berlinense, em memórias, agonias e descobertas, narradas junto ao dilema de voltar ou não para a cidade natal, justificado pelos motivos que o levaram até a capital alemã.

Assim como os personagens do cineasta italiano Michelangelo Antonioni, Klaus se esforça para se comunicar. E não consegue. A autora revela que Uma fuga... é uma narrativa sobre a comunicação na era da incomunicabilidade.

 

“Do começo ao fim é isso o que está em jogo. Como filósofa, essa é uma questão presente em meus ensaios, mas no romance eu quis mostrar como ela é, de fato, na vida concreta”.

 

E não só dos conflitos comunicacionais, Marcia Tiburi também fala das relações de amizade na era da falsidade e do interesse; do corpo na era da sexualidade; da fé na era da mercadoria.

 

E o protagonista, um homem simples e que pensa muito, será surpreendido ao contar apenas consigo mesmo. “A meu ver, não é incomum esse gesto de puxar-se pelo cabelo para sair da lama. Nesse sentido, Klaus é uma espécie de Barão de Munchausen em nossa época”, compara a escritora.

À medida que foi escrevendo nos últimos quatro anos, Tiburi viu o sonho evoluir e a colheita tornou-se um livro de 600 páginas. O romance era mais reflexivo e demorado, até que, com os cortes feitos pela filósofa, ganhou, segundo ela mesma, atividade.

 

“Cortei umas 200 páginas. Ele se tornava um livro interminável. Mas se cortei é porque tinha que ser assim e foi para o bem da própria narrativa”, alega.

 

O que não significa que um livro seja mais fácil por ser curto. “Samuel Beckett escreveu coisas curtas e sempre complicadíssimas”, brinca.

 

Como já tinha acontecido em Era meu esse rosto (Record, 2012), a autora contou uma história com o cuidado narrativo “que tem que ser levado a sério por respeito ao narrador, aos personagens e ao leitor”.

O mapa do quinto romance de Marcia Tiburi está pintado em Florianópolis e Berlim, o que, segundo a autora, aconteceu simplesmente por não poder ser diferente.

 

Mas a questão consciente está relacionada à sua própria trajetória: nascida no sul do país, ela conhece a colonização da região, suas línguas, seus costumes, seus afetos e o fantasma da Europa do século 19, que paira sobre a população sulista.

Sempre um papo com Marcia Tiburi
Nesta terça (4), às 19h30, Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro)
Entrada franca
Informações: (31) 3261-1501 / www.sempreumpapo.com.br

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