Historiador mineiro aborda Independência do Brasil no 3º Festival de História de Diamantina

José Murilo de Carvalho revela que trabalhar no livro 'Guerra literária: Panfletos da Independência' permitiu novas interpretações do processo de independência brasileiro

por Ana Clara Brant 10/10/2015 11:45

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Pedro Miranda/Divulgação
O historiador José Murilo de Carvalho e Marcello Basile durante palestra sobre a análise de panfletos referentes à Independência do Brasil (foto: Pedro Miranda/Divulgação)
 

Diamantina – Foi de uma forma descontraída e bem-humorada que o historiador mineiro José Murilo de Carvalho abriu o segundo dia do 3º Festival de História de Diamantina (fHist), que termina nesse domingo, na cidade do Vale do Jequitinhonha. A palestra, ministrada ao lado do escritor e professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) Marcello Basile, abordou o livro que eles lançaram recentemente pela Editora UFMG, 'Guerra literária: Panfletos da Independência' (1820-1823).

José Murilo revelou que desenvolver esse trabalho permitiu novas interpretações do processo de independência brasileiro e que demandou um difícil percurso pois, além de ter que pesquisar e colher os panfletos, foi necessário até transcrevê-los, já que muitos tinham erros de português. “Este foi um projeto mais longo e difícil do que o Primeiro Reinado”, brincou.

Ao todo, foram 352 panfletos que abrangem cartas, análises, sermões, diálogos, manifestos, poesias e relatos, somando 3.241 páginas. “A grande maioria era de autores desconhecidos, mas conseguimos identificar pelo menos 95 deles que eram de padres, militares, profissionais liberais, comerciantes e proprietários de escravos. E não apenas brasileiros, mas portugueses também”, complementou Basile.

Na segunda mesa do dia, a discussão ficou em torno da questão negra, com foco na escravidão e no racismo, e teve como convidados a educadora e secretária de Estado de Educação de Minas Gerais, Macaé Evaristo, o historiador e pesquisador do Projeto República da UFMG Rafael da Cruz Alves e um dos maiores especialistas do assunto no país, o historiador e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) João José Reis. O debate contou com intensa participação do público. “No Brasil, ninguém admite que é racista, mas todo mundo diz que conhece alguém racista. É impressionante”, comentou Macaé.

Aliás, ao longo de toda a semana, os negros ganharam destaque em Diamantina, já que desde segunda-feira está acontecendo uma das festividades mais tradicionais da terra de Juscelino Kubitschek, a Festa do Rosário dos Homens Pretos. Ontem à noite, um dos pontos altos do evento, que termina neste domingo, foi a Missa dos Quilombos, celebrada dentro da Igreja do Rosário, datada do século 18. Hoje haverá cortejo e o reisado com muita dança, vestes coloridas e cantos pelas ruas do centro histórico.

Além das palestras, oficinas e lançamentos de livros, a programação cultural está intensa no fHist. Pela primeira vez na cidade, o músico Arnaldo Antunes apresentou uma performance poética na Tenda da História, que concentra as principais atividades do festival. Outra atração que movimentou o antigo Arraial do Tijuco foi a famosa Vesperata, que – tradicionalmente realizada aos sábados – ganhou uma edição especial na noite de ontem.

O Festival de História prossegue neste sábado com mesas que vão discutir a questão indígena, a ditadura no Brasil e em Portugal e a relação entre Braga, em Portugal, onde aconteceu em maio uma edição do fHist, e Diamantina.

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