Fernando Bicudo e Marcelo Ramos falam da superprodução para ópera de Verdi

Diretor e maestro revelam detalhes dos bastidores da montagem de 'Um baile de máscaras', que estreia na próxima semana em Belo Horizonte

por Ana Clara Brant 25/10/2013 07:50

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Leandro Couri/EM/D.A Press
Fernando Bicudo, responsável pela concepção e direção cênica da ópera, quer ressaltar a originalidade e a dimensão política de 'Um baile de máscaras' (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Bem antes dos gritos de bravo e dos aplausos de qualquer produção, muita água rola debaixo da ponte. E quando a montagem é uma superprodução, como é o caso de uma ópera, aí a coisa ganha uma dimensão ainda maior. 'Um baile de máscaras', celebrando o bicentenário do compositor italiano Giuseppe Verdi, com direção musical e regência do maestro Marcelo Ramos e concepção e direção cênica de Fernando Bicudo, estreia na próxima quinta-feira no Grande Teatro do Palácio das Artes e tem outras récitas programadas para os dias 2, 3, 6, 8 e 9 de novembro.

No entanto, a montagem começou a se desenhar meses antes e se intensificou na reta final. Desde o começo do mês, solistas, músicos, iluminadores, maestros, figurinistas, coreógrafos, cenógrafos, camareiras, entre outros profissionais, estão trabalhando a todo vapor. “Ópera é sempre algo grandioso. Envolve muita gente, tem muita coisa ocorrendo. Estamos ensaiando diariamente, inclusive aos sábados e domingos, desde o dia 1º, mas, no nosso caso, da sinfônica, que ainda tem as atividades paralelas, é humanamente impossível estar aqui todos os dias se não contar com os auxiliares. O Gabriel Rhein-Schirato, meu assistente, é fundamental em todo esse processo. E além de estar nos ensaios, vai reger em uma das récitas. O espetáculo se desenvolve também por causa dessas pessoas que estão nos bastidores”, destaca Marcelo Ramos, titular da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais.

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Regente da Sinfônica de Minas, Marcelo Ramos destaca a importância do trabalho em equipe (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Além da orquestra, vão estar no palco o Coral Lírico de Minas Gerais, a Cia. Sesc de Dança, uma orquestra de cordas com oito músicos, a Banda da Orquestra de Sopros da Fundação de Educação Artística, e, claro, 13 solistas. Nos papéis principais da produção, que se baseia no assassinato do rei Gustavo III da Suécia, estão os tenores Marc Heller (EUA) e Paulo Mandarino (Brasil) e as sopranos Eiko Senda (Japão) e Elaine de Morais (Brasil).

No comando de toda a produção está o diretor cênico Fernando Bicudo, em sua quarta parceria com a Fundação Clóvis Salgado ('O escravo', em 1999; 'Turandot', em 2006 e  Fedra e Hipólito, em junho deste ano). A todo momento, o diretor cênico corrige a postura dos artistas, instrui a melhor forma de agradecer, tira dúvidas com o iluminador, retoca um objeto em cena. “Diretor de ópera é assim. É a arte mais complexa e completa. Então, a gente tem que entender e fazer de tudo um pouco”, justifica. 'Um baile de máscaras', entre as produções operísticas criadas por Verdi, está entre as preferidas de Bicudo. “Ela não é tão conhecida no Brasil, ao contrário do que ocorre no exterior, porque requer uma grande montagem. Tem muitas pessoas envolvidas e cinco cenários, o que inibe um pouco as companhias. Fico extremamente feliz e realizado em ver e fazer parte dessa grande homenagem aos 200 anos de nascimento do Giuseppe Verdi prestada pela Fundação Clóvis Salgado. Este espetáculo poderia ser encenado em qualquer teatro do mundo. BH não está devendo nada a ninguém”, afirma.

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Douglas Hahn durante o ensaio no Palácio das Artes (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Censura

Além de ser uma obra-prima em vários aspectos, Fernando Bicudo ressalta o enredo e tudo o que está por trás da montagem. A história de um dos governantes mais importantes da Europa, o rei sueco Gustavo III, responsável pela criação e consolidação das principais instituições de seu país, como o Museu Real, hoje Museu Nacional de Belas-Artes da Suécia, a Academia Sueca e a Ópera e Balé de Estocolmo. Bicudo lembra que durante a época em que foi escrita (1859) Verdi foi convidado a fazer muitas mudanças na ópera devido ao tema politicamente sensível. “A censura impôs dramáticos cortes e adições à obra devido às conturbadas relações políticas e amorosas, com ambos os sexos, que se tornaram grandes escândalos. Quando a ópera estreou, era o auge do império na Europa. Então, não pegava bem contar a história do assassinato de um rei. Das 884 linhas do libreto, 297 tiveram que ser alteradas, adicionadas ou removidas. Para salvar a sua composição, Verdi aceitou mudar o nome do protagonista para Ricardo e a ação foi transferida para a América”, explica.

O diretor fez questão de reconstituir ao máximo o original de Verdi e retratar a rica corte do imperador sueco, que em sua opinião foi, entre todos os governante do mundo, talvez o que mais contribuiu para a cultura e a educação de seu país. “Ele investiu na educação, na cultura, nos talentos de sua nação. Confrontou com a nobreza quando deu espaço para a intelectualidade. E na nossa montagem mostramos isso. Além de retratar toda a opulência de cenário e figurinos, resgatamos um período e entendemos por que a Suécia é esse país tão desenvolvido nos dias de hoje. É devido ao investimento em educação e cultura, que começou lá com o Gustavo III. 'Um baile de máscaras' é uma panfletagem a favor da educação e da cultura. E isso me deixa até mais empolgado com o projeto”, conclui.

Interativo

A Fundação Clóvis Salgado realiza neste fim de semana programa educativo para interessados em conhecer a produção da ópera. São palestras e bate-papos com profissionais das áreas de direção, regência, figurino e cenografia. Amanhã, das 9h às 10h30, palestra com o maestro Gabriel Rhein-Schirato. Às 11h, a figurinista Elena Toscano fala sobre a concepção dos figurinos e, às 14h, está programado encontro com o cenógrafo Renato Theobaldo. No Cine Humberto Mauro, com as vagas limitadas e participação por ordem de chegada (não haverá inscrição prévia). Entrada franca.

Sinopse

Gustavo III, rei da Suécia, está apaixonado por Amélia, esposa de seu grande amigo e secretário, Renato. Em audiência com seus súditos, ele é alertado sobre o perigo de uma conspiração sobre o caso de uma estranha vidente que vem sendo consultada pelo povo: Ulrica. Gustavo III decide então visitá-la disfarçado, a fim de compreender melhor o que se passa. Amélia, preocupada com a situação e também dona de uma paixão inconfessa por Gustavo III, vai orientar-se com Ulrica. Gustavo, ali escondido e disfarçado, escuta a conversa e depois da saída de Amélia consulta a feiticeira e é alertado sobre o perigo de morte iminente. É nesse cenário de amor proibido, ódio, traição e morte que se passa a história da ópera 'Um baile de máscaras', de Verdi.

Sete maestros em harmonia


'Um baile de máscaras' terá a participação de sete maestros: Marcelo Ramos, Gabriel Rhein-Schirato, Lincoln Andrade, Vivian Assis, Mateus Araújo, Alexandre Guimarães e Daniel Kostás. Cada um desenvolve um papel específico durante as récitas e ensaios, sendo que coube a Kostás uma das mais curiosas funções: a de maestro de luz, responsável, junto com o iluminador, em pontuar onde a música vai acontecer para enfatizar a ação dramática ou o momento mais suave.

“Em qualquer acontecimento envolvendo música cênica – e a ópera é um deles –, temos vários detalhes pontuados pela trilha. O maestro de luz tem que entender o funcionamento da música e da cena. Por isso somos formados em regência. A gente fica o tempo todo com a partitura nas mãos, ao lado do iluminador, e não pode nem piscar. Tem que prestar atenção na música para que a iluminação corresponda exatamente ao que o som quer transmitir”, esclarece.

Outro destaque de 'Um baile de máscaras' é a presença de duas orquestras, a Sinfônica de Minas Gerais, regida por Marcelo Ramos e instalada no fosso, e o grupo de cordas com oito músicos, que fica no palco como parte do elenco, com figurino e maquiagem, liderado por Mateus Araújo. Além desses grupos, o espetáculo conta com uma banda interna – composta por membros da Orquestra de Sopros da Fundação de Educação Artística – que vai tocar durante o baile. Essa banda fica fora do palco, para proporcionar ao público a sensação de um som distante.

“Essa ação envolvendo os três grupos vai ocorrer no ato final. Todos têm que estar em perfeita sintonia, por isso haverá monitores nas coxias para que os músicos nos bastidores e os demais maestros possam acompanhar nossos movimentos. Tem que ser bem sincronizado para sair perfeito”, avisa Marcelo Ramos.

Lâminas

O cenário, a cargo de Renato Theobaldo, promete chamar a atenção. Cinco cenas foram criadas a partir de centenas de lâminas verticais de imagens, formando um jogo de representações de espaços arquitetônicos. O cenógrafo explica que são 1,2 mil metros quadrados de imagens plotadas, que vieram de São Paulo de caminhão. Eles propõem uma brincadeira e um jogo de ilusões. “Em vez de criar cenário realista, com madeira e massa corrida, que todo mundo sabe que não é de verdade, optei por um lugar real, mas que na verdade não é. Uso referências. As lâminas efetivamente criam o espaço, mas a ilusão desse espaço é dada pela imagem que há na composição das lâminas. O jogo de faz de conta toca a plateia”, garante Theobaldo. Também fazem parte da equipe o iluminador Pedro Pederneiras, a figurinista Elena Toscano e o coreógrafo Renato Augusto. A direção de produção é de Cláudia Malta.

Um Baile de Máscaras

Ópera com três atos, duração de duas horas 40 minutos e dois intervalos de 20 minutos cada. Dias 31 de outubro, 2, 3, 6, 8 e 9 de novembro. Quinta, sábado, quarta e sexta-feira, às 20h30; e domingo, às 19h. Grande Teatro do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Ingressos: R$ 70 (inteira) e R$ 35 (meia). Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, Coral Lírico de Minas Gerais e Sesc Cia de Dança. Informações: (31) 3236-7400.

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