Autora de esculturas que são atrações em cidades de Minas, Tomie Ohtake completa 100 anos

Artista japonesa radicada no Brasil consagrou-se ao celebrar equilíbrio entre rigor e leveza; exposições em São Paulo evidenciam diversas fases de sua obra

por Sérgio Rodrigo Reis 19/02/2013 07:22

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Denise Andrade/Divulgação
Nascida em Kyoto, Tomie chegou ao Brasil em 1936 e só começou a pintar aos 40 anos (foto: Denise Andrade/Divulgação)
A artista plástica Tomie Ohtake se notalizou no mundo das artes visuais pelo processo de criação baseado na síntese entre opostos: força e suavidade. Em suas pinturas, gravuras e esculturas, a dualidade aparece num eterno processo de reinvenção que, a cada nova aparição, impressiona seus admiradores e críticos. No momento em que ela chega aos 100 anos – a data é 21 de novembro –, o estilo peculiar de enfrentar a própria vida e obra permanece nas comemorações já acertadas pelo instituto batizado com seu nome em São Paulo. “Tudo que fiz foi com muito prazer e esforço. A rigor, não há algo em especial, porque tudo é especial, desde fazer uma pintura que realizo há 60 anos ou uma obra que nunca fiz antes”, explica a artista.

As homenagens que receberá ao longo do ano perseguem o mesmo espírito. A exposição 'Correspondências', atualmente em cartaz no Instituto Tomie Ohtake, busca relações de aproximação e contraposição entre a sua produção desde 1956 até hoje com obras de artistas contemporâneos, como Mira Schendel, Hércules Barsotti, Lia Chaia, Camila Sposati, Cildo Meireles e Nuno Ramos.

 

A mostra, com curadoria de Agnaldo Farias e Paulo Miyada, aponta interseções entre os campos de interesse do trabalho pictórico, como a cor, o gesto e a textura. A intenção dos curadores foi revelar temas e sensações inerentes às obras. Completa o projeto a tese de que há uma longa linha de experimentos que desfazem a ilusão da neutralidade do suporte da imagem pictórica.

Tomie Ohtake ganha na quinta-feira outra homenagem. Desta vez na Galeria Nara Roesler, também em São Paulo, que abre exposição individual, também com curadoria de Farias. Serão apresentados 25 trabalhos entre esculturas recentes e sua nova série de pinturas.

 

São conjuntos de obras monocromáticas, que, segundo a curadoria, buscam uma demonstração da maestria da artista em expandir as cores, trabalhando-as em profundidade e criando atmosferas luminosas ou ensombrecidas. E mais: destaca o fenômeno de vitalidade da criadora, que mantém, ainda hoje, profícuo processo de reinvenção.

Em agosto, os estudos de Tomie – desenhos, projetos de esculturas, colagens – serão tema de outra mostra comemorativa em seu instituto. Já em novembro, quando ela chega aos 100 anos, o Instituto Tomie Ohtake inaugura uma grande exposição, 'Gesto e razão geométrica', com curadoria de Paulo Herkenhoff.

 

A ocasião será importante ainda pela previsão de lançamento de novo livro sobre a obra pública da artista, que, inclusive, tem desdobramentos em Minas. “Gosto da escultura que está na praça em frente à Usiminas, em Belo Horizonte, ou a outra em Araxá, na fazenda da CBMM. Em ambas, o desafio foi vencer a lei da gravidade. O público vê e reconhece esse desafio”, conta a escultura.

Ricardo Ohtake, filho da artista, ex-secretário de estado de Cultura de São Paulo, é quem está à frente da direção do instituto e das homenagens. Para ele, são várias as contribuições de sua mãe para a produção visual nacional e, por tudo isso, os tributos são bem-vindos. “A maior contribuição de Tomie Ohtake é praticar uma arte prestigiada pela crítica e que é extremamente reconhecida pelo público. Ela, inclusive, tem uma personalidade que é muito forte, apesar de ser uma pessoa calma e de uma grande gentileza.”

 

Ele informa que a proposta para o ano festivo foi realizar exposições oferecendo visões diversas dessa produção. Além de 'Correspondências', atualmente em exibição, em agosto, com a mostra 'Pensamento', a proposta é destacar os processo reflexivos. “Fecharemos o ano apresentando em outra exposição a expressão de Tomie passando entre a forma orgânica e a forma geométrica”, conclui Ricardo.

Juarez Rodrigues/EM/D.A Press
Em Belo Horizonte, na Pampulha, em frente à sede da Usiminas, Tomie Ohtake criou uma grande escultura, formada por duas asas que brotam do chão e, de acordo com o vento, chega a se movimentar (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Arte em movimento
Tomie Ohtake nasceu em Kyoto, no Japão, em 1913. Chegou ao Brasil em 1936 e só começou a pintar aos 40 anos. O início do trabalho foi decisivo para consolidar a linguagem no campo da abstração formal. Pouco a pouco, substituiu a imaterialidade nas telas pelo estudo da relação forma – ovais, retangulares, quadradas – com a cor.

 

Sua obra, daí em diante, foi constantemente renovada. Nos anos 1970, o espaço branco foi tomado pela cor, a linha curva aparece assim como uma infinidade de cores. Ela se aproxima das formas orgânicas da natureza nos anos 1980, possibilitando a criação de planos coloridos chapados, assim como manchas justapostas. A experiência se acentuou nos anos 1990, quando a transparência e a profundidade passam a aparecer como uma constante.

Além da pintura e da gravura, Tomie também é conhecida pela produção de esculturas em grandes dimensões para espaços públicos. São 27 obras públicas em locais como São Paulo, onde suas criações se tornaram marcos locais, como os quatro grandes painéis da Estação Consolação do metrô de São Paulo, a escultura em concreto armado na Avenida 23 de Maio e a pintura em parede cega no Centro, na Ladeira da Memória. Tomie Ohtake também está representada em Minas.

O reconhecimento de sua produção pode ser medido pela onipresença em bienais de São Paulo. Conquistou 28 prêmios nesses eventos. A profícua produção pode ser comprovada ainda pelas 50 individuais e 85 coletivas realizadas no Brasil e no exterior.

Mostras em São Paulo


» Tomie Ohtake – 'Correspondências'
Exposição da artista plástica. Até 25 de março, de terça a domingo, das 11h às 20h, no Instituto Tomie Ohtake (Av. Faria Lima, 201, Pinheiros, em São Paulo). Entrada franca. Informações: (11) 2245-1900.

» Tomie Ohtake
Abertura quinta-feira, 21 de fevereiro, às 19h, de exposição de obras inéditas da artista na Galeria Nara Roesler, Av. Europa, 655, em Pinheiros, São Paulo. Fica até 23 de março. Informações: (11) 3063-2344.

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