Fotógrafo Pedro David se divide entre vários projetos que questionam os paradoxos da vida contemporânea

Exposições e livro estão na agenda do artista

por Walter Sebastião 04/06/2012 11:00

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Pedro David / Divulgação
(foto: Pedro David / Divulgação)
Este ano, o fotógrafo mineiro Pedro David está a mil. Além de virar livro, o ensaio dele chamado O jardim, que ganhou o Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger em 2011, será mostrado em três exposições. A primeira está em cartaz na Fauna Galeria de Arte, em São Paulo; a segunda começa em setembro, no Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador; a terceira foi marcada para novembro, na Lemos de Sá Galeria de Arte, em Belo Horizonte. Os compromissos do artista não se encerram aí. Imagens do ensaio Aluga-se fazem parte da coletiva Esquizofrenia tropical, que integra a programação do Festival Internacional de Fotografia e Artes Visuais PHoto, na Espanha. Trabalhos de Pedro também podem ser conferidos na mostra Segue-se ver o que quisesse, em cartaz nas galerias do Palácio das Artes. “Está bom, mas quero mais. Fiz inscrição em diversos outros eventos e estou esperando resposta”, brinca o fotógrafo, contando que para cada sim recebe vários nãos. Os convites para mostras são um prazer, pois trazem a sensação de que o sonho de ver o trabalho reconhecido começa a se tornar realidade. “Quero conseguir viver do meu trabalho, dizer mil coisas sobre este mundo louco em que estamos vivendo. Temos de questionar tudo. Há muita coisa estranha ocorrendo, não dá para ficar engolindo calado”, garante Pedro.
Pedro David / Divulgação
(foto: Pedro David / Divulgação)
A dedicação à fotografia começou em 1997. Decidido a seguir carreira, ele fez curso de jornalismo, pós-graduação em artes plásticas na Escola Guignard e foi trabalhar como assistente do fotógrafo Rui César. “Foi o melhor caminho”, revela. Atualmente, Pedro se empenha em fazer seu trabalho “chegar ao mundo”. Isso implica desenvolver relações com colegas, curadores e colecionadores, de modo que surjam convites. “A primeira parte, mais importante e mais pesada, é ter um trabalho coerente, contemporâneo. Fotógrafo tende a ser saudosista, nostálgico, e acaba preso a modelos de outros tempos, dos ídolos dele. Ou então há a tendência de acreditar que fotografia é só registro da boa luz. Quero discutir questões inquietantes e atuais de forma relevante. Minhas fotos dizem mais do que aquilo que estão mostrando. Elas não são documentários”, explica Pedro. Universal O ensaio O jardim, iniciado em 2009, mira o Vale do Sol e o Jardim Canadá, na Grande Belo Horizonte. “Falo da condição humana hoje em dia, de um contexto acelerado, com gente demais, que cresce e avança sobre a natureza. É algo universal”, garante. O fotógrafo vive naquela região e o futuro o angustia. “Fui morar fora da cidade, procurando espaço. Estou vendo a civilização subir da terra, grandes estruturas sendo erguidas ou desaparecendo de forma alucinante”, observa. Por sua vez, a série Aluga-se (2008) surgiu da reação a um problema chato: Pedro teve de parar tudo, sair de onde morava e procurar apartamento para alugar. As fotos mostram as paredes de imóveis cada vez menores, mal divididos e mal iluminados. “É a não visão, a não paisagem, o não ver a paisagem, claustrofobia, mal-estar. Só quem passou pela experiência sabe como é. A vida quer luz”, protesta o artista. CONFIRA Trabalhos de Pedro David podem ser vistos em www.pedrodavid.com. Três perguntas para... Pedro David fotógrafo Por que a arte contemporânea se vale tanto da fotografia? Porque é um instrumento da nossa época, do mundo de hoje. A câmera está na mão de todos. Você usa filme? Identifico-me com o filme. Acho bonito, do ponto de vista estético. Gosto da textura, tenho o equipamento e curto usá-lo. Isso dá um tempo ao trabalho: faço a foto, revelo em casa, processo a imagem, penso no que fiz. Se não gosto, descarto. Dizem que vai acabar, mas não acabou. Consigo comprar filmes e os produtos químicos de que preciso para revelar. Porém, é um processo difícil. Atualmente se privilegiam rapidez e baixo custo, mas aposto no negativo grande, na qualidade, na técnica apurada. Esses aspectos trazem riqueza de detalhes e me permitem passar para as pessoas a sensação de espaço. Fazer foto digital exige investimento em equipamento. Para mim, a câmera digital mais interessante é o telefone: leve e prática, está sempre comigo. Permite coisas que só são possíveis com ela. O que seu trabalho propõe? Meu objetivo é fazer arte, com todos os sentidos que essa palavra tem. Não sei se consigo, mas tento. Comecei a desenvolver a minha linguagem quando a senti necessidade de, na medida do possível, refazer as fotos. Esse procedimento trouxe apuro estético, foi um investimento no rigor e na autoestima. Não estou interessado no registro fácil, mas no desenvolvimento de uma ideia. Sou admirador da pintura de todas as épocas, gosto de imagens elaboradas. Acho que a beleza faz pensar na imagem.

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