A peça Do claustro aborda temas polêmicos nos quais o sagrado e o profano se misturam

Espetáculo estreia nesta quinta no Teatro Sesi-Holcim

por Sérgio Rodrigo Reis 03/05/2012 09:06

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O teatrólogo e cartunista paulista Ruy Jobim Neto dedicou-se, nos últimos anos, a extensa pesquisa sobre o Brasil colônia, sobretudo o período próximo ao fim do Ciclo da Cana-de-açúcar e seus desdobramentos. O resultado desse processo deu origem a peça teatral escrita em 2007, que ganha montagem mineira sob a direção do experiente Fernando Couto, em parceria com Caio Cézar. A montagem, que estreia hoje, às 20h, no Teatro Sesi-Holcim, aposta em temas polêmicos para cativar o público. “É preciso coragem para montá-lo e também para assisti-lo. Fico em dúvida em quem é pior: o Deus que nos condena ou o preconceituoso, que usa o nome dele para isso”, afirma Fernando, abordando temática do espetáculo. Do claustro é ambientada em 1692, em Salvador, Bahia. O cenário é uma cela individual do Convento de Santa Clara do Desterro. Naquele lugar, duas freiras clarissas vivem um jogo de entrega, sedução, desejo e poder cuja moeda de troca é a cumplicidade. O texto aposta em situações nas quais o sagrado e o profano se fundem, criando espécie de hino de amor à liberdade. Na trama, irmã Mariana, às portas da morte, tenta convencer de todas as formas irmã Cecília a cometer um ato ousado na esperança de salvar o homem por quem está apaixonada, um poeta e advogado, que está preso e ameaçado de degredo para a África. Com Mariana Lobato e Lorena Jamarino, a peça usa simbolismos para tocar em aspectos polêmicos da existência humana. A violência da época, a franca decadência da civilização escravocrata do açúcar, a hipocrisia da Igreja, o fervor e o medo católico, a sexualidade explosiva da juventude e, por outro lado, a culpa, o pensamento barroco, os preconceitos e amores impossíveis são os pontos fortes do texto. A montagem, mesmo ambientada em passado tão remoto, apresenta temas de atualidade desconcertante, como a maneira arcaica e complexa como sexualidade e religião ainda são tratadas no Brasil. A história chegou por acaso na mãos de Fernando Couto. Quando ainda era viva e cuidava da agenda de teatro do Palácio das Artes, Claide Gosling enviou vídeo ao diretor para avaliar montagem paulista, em busca de oportunidade para se apresentar no lugar. Era Do claustro. A peça acabou não sendo realizada por aqui e, anos depois, quando foi procurado pelas atrizes Mariana Lobato e Lorena Jamarino para nova montagem, ele partiu em busca de texto dramático. Durante a pesquisa, a paulista Tereza Dantas, do site Novas dramaturgias, enviou-lhe como sugestão justamente Do claustro. “Gosto muito de texto provocativo. O teatro só tem real valor quando toca fundo no ser humano. Esse texto é isso: bate de frente com a moral hipócrita, quando trata da religião e do sexo”, enfatiza. A polêmica tem se tornado, peça após peça, um dos principais instrumentos de trabalho do diretor Fernando Couto. Com escolhas certeiras, ele consegue levar o que pensa para a cena dramática. A opção é proposital. “É preciso que as verdades brasileiras sejam ditas. Esse texto traz tudo isso, além de ser bonito e forte.” Ele explica que a busca por textos com denso conteúdo dramático é constante: “Sou um diretor de texto pronto”, avisa, e não para de correr atrás de novas histórias. Do claustro Estreia nesta quinta, no Teatro Sesi-Holcim, Rua Padre Marinho, 60, Santa Efigênia. Quintas e sextas, às 20h; sábados, às 21h; domingos, às 19h. Até dia 13. Duração: 60 minutos. Classificação: 16 anos. Ingressos: R$ 30 (inteira), na bilheteria; e R$ 12, no posto Sinparc. Informações: (31) 3241-7181.

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