Crise do Oriente Médio 'explode' na tela do Festival de Veneza

'Notturno', documentário do diretor italiano Gianfranco Rosi, e 'Laila in Haifa', filme do cineasta israelense Amos Gitai, retratam desafios de uma das regiões mais conturbadas do planeta

Ansa 09/09/2020 04:00
Fotos: Alberto Pizzoli/AFP
Gianfranco Rosi, diretor de Notturno, chega à sala de exibição de seu filme, em Veneza (foto: Fotos: Alberto Pizzoli/AFP)
As crises e a vida no Oriente Médio foram destaques de terça-feira (8) no 77º Festival de Veneza, com a apresentação de dois filmes “políticos” que concorrem ao troféu Leão de Ouro. Um deles é o documentário Notturno, do cineasta italiano Gianfranco Rosi, o mesmo de Fuocoammare, que retrata a vida na ilha de Lampedusa, porta de entrada para migrantes na Itália. Em 2016, esse filme ganhou o Urso de Ouro em Berlim.

Desta vez, Rosi usa o cinema para apresentar o dia a dia nas incertas fronteiras entre Síria, Iraque, Líbano e Curdistão, em meio a intermináveis crises em uma das regiões mais turbulentas do planeta e à influência do Estado Islâmico (EI).

PESQUISA

O documentário exigiu seis meses de pesquisa, três anos de filmagens e mais seis meses de montagem. O longa deve ser apresentado nos festivais de Toronto, Nova York, Telluride, Londres, Busan e Tóquio.

“O filme nasce da necessidade de, depois de Fuocoammare, ir ao outro lado do mar (Mediterrâneo), de me aproximar de um mundo complexo e desconhecido. Queria documentar onde acaba a breaking news dos telejornais e dar tempo às histórias”, disse Rosi.

As oito histórias retratadas pelo cineasta, que compõem um mosaico do Oriente Médio, nasceram da relação de confiança com as pessoas que o autorizaram a documentar sua existência. “Ainda não saí dessa experiência, esses encontros mudaram minha vida”, acrescentou.

Rosi revelou que esteve “a um passo” de ser sequestrado, mas seguiu adiante com o projeto. “Foi uma experiência de impacto físico e emocional fortíssimo passar três anos em lugares desconhecidos, sem conhecer os idiomas, ficar meses em lugares perigosos. Agradeço aos meus produtores, que me consolavam a distância e me davam coragem”, declarou.
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O cineasta Amos Gitai diz que a arte não muda a realidade, mas ajuda a compreendê-la


HAIFA

A vida no Oriente Médio também é tema do filme Laila in Haifa, do cineasta israelense Amos Gitai, que se apresenta no Festival de Veneza pela sétima vez.

O longa mostra um exemplo de possibilidade de convivência entre israelenses e palestinos, tema que acompanha toda a produção de Gitai. A filmagem foi feita inteiramente em uma discoteca-galeria vizinha à ferrovia de Haifa, cidade natal do diretor, aberta a homossexuais, travestis e pessoas que querem apenas se divertir ou estão em busca de sexo casual.

Laila, em árabe, significa “noite”, indicando que toda a ação transcorre em uma única madrugada na qual se consumam relações, pessoas se dividem por ódio racial e se fala de tudo – da arte à política, das dinâmicas do amor aos destinos do mundo.

“Nasci em Haifa e vejo nela muitas qualidades. Não é dramática como Jerusalém, ligada às religiões, não é cool como Telavive, cidade da moderação. Em suma, pode-se olhar Haifa como um modelo”, afirmou Gitai, que está em Veneza.

“A pergunta que Laila in Haifa apresenta é: a arte pode, verdadeiramente, criar um espaço onde as pessoas possam exprimir suas diferentes identidades, tentando o caminho para uma convivência pacífica?. Não acredito que a arte possa mudar a realidade, mas nos faz refletir”, observou Amos Gitai.

O Festival de Veneza vai até sábado (12), quando será anunciado o vencedor do Leão de Ouro.

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