Estreia nos cinemas, 'Berenice procura' discute o mundo trans e as novas configurações familiares

Cineasta do longa, Allan Fiterman, diz que seu longa é oportuno no Brasil dominado pelo conservadorismo

por Estadão Conteúdo 28/06/2018 09:07

H2O/Divulgação
Cláudia Abreu interpreta a taxista Berenice, que procura esclarecer o envolvimento do filho com garota trans assassinada. (foto: H2O/Divulgação)

Em período relativamente curto – menos de um mês –, o espectador brasileiro está sendo confrontado com o universo trans. Primeiro estreou Paraíso perdido, longa de Monique Gardenberg. Agora, Berenice procura, que chega nesta quina-feira (28) às salas de exibição de BH, traz um elenco estelar cercando a atriz transgênero Valentina Sampaio – Cláudia Abreu, Eduardo Moscovis e Emílio Dantas. A cearense, de 21 anos, faz o papel de Isabelle. Nesta quinta, celebra-se o Dia do Orgulho LGBTI.

Dirigido por Allan Fiterman, o filme se baseia no livro homônimo de Luiz Alfredo Garcia Roza. A trans Isabelle é assassinada em Copacabana. Ao descobrir que seu filho jovem tem ligação com ela, a taxista Berenice (Cláudia Abreu) investiga o caso. O marido (Du Moscovis), com quem mantém uma relação desgastada, é o repórter que cobre o caso para uma grande rede de TV.


Allan Fiterman é um conceituado diretor de novelas – a Globo o liberou para realizar o filme. Enquanto lança Berenice procura, ele prepara o próximo folhetim das nove – O sétimo guardião, texto de Aguinaldo Silva.

Berenice... não nasceu como projeto de Fiterman. Uma amiga o recomendou para a produtora Elisa Tolomelli. Curiosa a trajetória desse diretor. “Queria fazer cinema e fui estudar em Los Angeles. Quando voltei, ao finalizar o primeiro longa que fiz com Marília Pêra, fui parar na Globo. Lá, dirigi A força do querer, que fez história ao abordar o universo trans”, conta ele.

Porém, o núcleo de A força do querer que Fiterman comandou, e muito bem, foi o do morro, com Juliana Paes e Emílio Dantas. Tem diferença entre dirigir para cinema e TV? “As pessoas têm preconceito (com a televisão), mas, pra mim, o problema é menos o veículo e muito mais a relevância social das questões que você aborda. A força do querer deu o que falar. Espero que Berenice também repercuta”, diz Fiterman.

DESAFIO O longa foi um desafio para Fiterman. “Quando cheguei, o roteiro era muito mais extenso e disperso, com mais de 100 páginas. Consegui convencer a Elisa de que não conseguiria filmar em um mês. Fiz o trabalho de enxugar. Naquele roteiro, (os personagens de) Du e Cláudia moravam em casas separadas. Eu os juntei, pois queria mostrar que uma família dita normal, com pai, mãe e filho, pode ser mais disfuncional do que outra formada pelo afeto, com pessoas cujo comportamento foge às normas”, explica o cineasta.

Abordar a questão da nova família é oportuno, defende Fiterman. “Acho da maior importância, neste Brasil retrógrado e conservador em que estamos vivendo. Sinto que há esperança. Se a TV, um meio massivo, consegue tratar o tema, o cinema deve ir mais longe”, acredita.

O diretor elogia a atriz Valentina Sampaio. “Ela é especial, iluminada”, diz. A jovem brasileira foi a primeira mulher transgênero a estampar a capa da revista Vogue. Ela mora em Milão, na Itália, e se tornou top model muito solicitada no universo fashion. 

A GUERREIRA
A atriz Cláudia Abreu diz que a protagonista de Berenice procura tem tudo a ver com ela. Primeiro, pela questão da maternidade – a atriz tem três meninos, de 6 a 11 anos, mais a enteada. Depois, pela força da taxista Berenice, “guerreira, uma mulher comum, nada glamourosa, que vive esse momento particular de recuperar a confiança e o afeto do filho”. Outra motivação foi mergulhar no mundo trans. “Sou fascinada pelo universo transformista. Acho um privilégio que o cinema me permita abordar esse mundo com a compreensão que a personagem adquire. É o que está faltando ao Brasil. O país está muito preconceituoso e, como artistas, temos de lutar contra isso”, diz Cláudia.

 

Abaixo, confira o trailer de Berenice procura

 

MAIS SOBRE CINEMA