Festival 'É tudo verdade' premia filmes sobre violências contra minorias

Entre os premiados estão 'Ex-pajé', sobre barbaridades cometidas por evangélicos contra índios, e 'O distante latido dos cães', que mostra crianças em meio a bombardeios na Ucrânia

por Estado de Minas 24/04/2018 07:00
Buriti Filme/divulgação
Cena do documentário 'Ex-pajé', do cineasta Luiz Bolognesi (foto: Buriti Filme/divulgação)
Filmes sobre a violência policial brasileira e o horror da guerra venceram o festival É Tudo Verdade 2018, encerrado no fim de semana. Auto de resistência, de Natasha Neri e Lula Carvalho, ganhou a competição brasileira de longas, enquanto O distante latido dos cães, de Simon Lereng Wilmont, foi o eleito na competição internacional.

Ambos se debruçam sobre mazelas contemporâneas. Auto de resistência mostra como um expediente jurídico serve à impunidade de policiais que praticam execuções sumárias no Rio de Janeiro. As imagens são de impacto. Numa delas, vemos de relance a vereadora Marielle Franco (Psol), executada há mais de mês por assassinos ainda desconhecidos.



O distante latido dos cães traz imagens de uma família na zona de guerra entre a Ucrânia e a Rússia. A “normalização” dos conflitos – com bombas caindo de tempos em tempos, fuga para abrigos, etc. – é vista pelos olhos de dois meninos, Oleg e Yarin, que vivem na cidade ucraniana de Donesk. Não há discurso, culpabilização ou análise. Apenas o registro de um cotidiano atroz.

Roubar Rodin, de Cristóbal Valenzuela, venceu a competição latino-americana de longas. Nome de batismo – Alice, de Tila Chitunda, e Ressonâncias, de Nicolas Khoury, são os curtas vencedores nas categorias brasileira e internacional, respectivamente. Ex-pajé, do cineasta paulista Luiz Bolognesi, ganhou o prêmio da crítica, organizado pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Para os críticos, o melhor curta nacional foi Inconfissões, de Ana Galizia.

Ex-pajé é espantoso. Mostra o caso de Perpera, pajé do povo paiter suruí “destituído” pela chegada de uma igreja evangélica à aldeia. Sua função é considerada “coisa do diabo” pelo pastor e ele se vê relegado ao cargo de porteiro do templo.

Tudo muda quando uma índia é picada por uma cobra e fica entre a vida e a morte. O ex-pajé, ainda que temporariamente, readquire importância social – sua “eficácia simbólica”, para evocar um artigo célebre de Lévi-Strauss sobre o xamanismo. Trata-se de “um filme de resistência”, como define Bolognesi. 

BACIFI
Com o filme Azougue Nazaré, o brasileiro Tiago Melo foi contemplado com o prêmio de melhor diretor na competição internacional do 20º Festival Internacional de Cinema Independente de Buenos Aires (Bacifi). As boas maneiras, de Juliana Rojas e Marco Dutra, ganhou menção do júri, que também contemplou o coreano A tiger in winter, de Lee Kwang-Kuk. O prêmio principal ficou com La flor, do consagrado diretor e produtor argentino Mariano Llinás. Com 14 horas de duração, esse longa foi exibido em seis episódios durante as duas semanas do evento, encerrado no domingo. O prêmio especial do júri ficou com a animação Violence voyager, do diretor japonês Ujicha.

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