Spike Lee e Godard retornam à competição no Festival de Cannes

Edição 2018 deve ter acentuado tom político com presença de dissidente iraniano e russo em prisão domiciliar na disputa

por Estado de Minas 12/04/2018 14:23

AFP
Os diretores do Festival de Cannes dão entrevista, como cartaz desta edição ao fundo (foto: AFP)

O Festival de Cannes terá este ano uma competição com tom político, graças à participação do dissidente iraniano Jafar Panahi e do russo Kirill Serebrennikov, que está em prisão domiciliar, ambos na disputa pela Palma de Ouro.

A 71ª edição do festival, que ocorre de 8 a 19 de maio, também será marcada pelo retorno à competição oficial do americano Spike Lee, com "BlacKKKlansman", baseado em uma história real, e do franco-suíço Jean-Luc Godard, com "Livre d'image".

Na semana passada, a organização do festival já havia anunciado que "Todos lo saben", longa-metragem rodado em espanhol pelo iraniano Asghar Farhadi e protagonizado por Penélope Cruz, Javier Bardem e Ricardo Darín, será o filme de abertura de Cannes, além de estar na disputa da Palma de Ouro.

Os organizadores revelaram nesta quinta-feira (12) em Paris a lista de 18 filmes da mostra competitiva. O júri da Palma de Ouro de Cannes será presidido pela atriz australiana Cate Blanchett. Apenas três diretoras estão na disputa pelo principal prêmio: a francesa Eva Husson com "Les Filles du soleil"; a libanesa Nadine Labaki, com "Capharnaüm" e a italiana Alice Rohrwacher, comn "Lazzaro Felice".

"Em Cannes nunca teremos uma seleção baseada em uma discriminação positiva em relação às mulheres", afirmou o  diretor geral do festival, Thierry Frémaux. Há uma diferença entre as mulheres cineastas e o movimento #MeToo", disse.

Panahi, vencedor do Urso de Ouro em Berlim por "Táxi Teerã", em 2015, competirá com "Three faces". Frémaux explicou que as autoridades iranianas receberão uma carta do evento e das autoridades francesas "para que autorizem Panahi a sair do território, apresente seu trabalho e retorne a seu país". Também informou que convidou Serebrennikov, que está na disputa com o filme "Leto".

Spike Lee, 61 anos, apresentará seu filme mais recente, que narra a história de um policial afro-americano infiltrado entre os membros da Ku Klux Klan em 1978. Adam Driver e John David Washington estão no elenco. A participação anterior de Lee em Cannes ocorreu em 1991, quando o americano apresentou "Febre da Selva".

Godard participará da competição oficial pela sétima vez e quatro anos depois de receber o Prêmio do Júri por "Adeus à Linguagem".


Entre os outros filmes candidatos a vencer a Palma de Ouro estão "Under the silver lake", do americano David Robert Mitchell, "Dogman", do italiano Matteo Garrone, "En guerre", do francês Stéphane Brizé, "Ash is Purest White", do chinês Jia Zhangke, e "Shoplifters", do japonês Hirokazu Kore-Eda.

Ao contrário do ano passado, nenhum filme produzido pela Netflix estará na mostra competitiva, depois que a plataforma de streaming decidiu abandonar o festival por discordar das normas de exibição na França.

Frémaux explicou que propôs a inclusão de um filme na mostra oficial e outro - uma obra inacabada de Orson Welles e finalizada pela Netflix - fora da competição. Mas a gigante do streaming se negou a aceitar que a estreia aconteça nos cinemas da França.

Netflix/Divulgação
'Okja', da Netflix, foi alvo de polêmica por não estrear nos cinemas (foto: Netflix/Divulgação)
A lei francesa determina que após a estreia nos cinemas, um filme deve aguardar quatro meses para ser lançado em DVD ou no sistema OnDemand. Depois de 10 meses pode ser exibido na TV aberta e após 36 meses em qualquer serviço 'streaming'. Desta maneira, a Netflix decidiu não participar em absoluto do Festival de Cannes.

"Queremos que nossos filmes estejam em pé de igualdade com os demais. Se existe o risco de nossos filmes e cineastas receberem um tratamento desrespeitoso no festival (...) acredito que é melhor não estarmos lá", afirmou à revista Variety Ted Sandoros, diretor de conteúdo da empresa americana, antes de pedir a "modernização de Cannes. "É uma pena", disse Frémaux.

No ano passado, a presença de dois filmes da Netflix na mostra oficial provocou a irritação dos proprietários de cinema franceses. Em mais um tema que provoca tensão, o Festival de Cannes foi alvo de protestos dos críticos de cinema por ter acabado com sessões de filmes para a imprensa, que aconteciam antes das projeções oficiais, o que, segundo a Federação Internacional de Críticos de Cinema, dificultará em grande parte seu trabalho.

MAIS SOBRE CINEMA