Atordoada não só pelo fim abrupto de sua relação, mas também pelo que interpretou como indiferença do ex-companheiro, ao vê-la fazer sua mala para ir embora (“Como a gente pode ficar indiferente de repente?”), Jeanne descobre que o pai não está sozinho.
Na manhã seguinte, a filha e a namorada de Gilles, Ariane (Louise Chevillotte), se encontram, e Jeanne fica sabendo que Ariane é aluna de seu pai na faculdade. A estudante conta que o professor “resistiu por um trimestre inteiro” às suas investidas, mas agora eles estão juntos há três meses.
É portanto no ambiente de um apartamento que Philippe Garrel concentra o começo e o fim de um amor, em Amante por um dia, que estreia nesta quinta (15) em Belo Horizonte. Filmado em preto e branco, com duração de 75 minutos e uma narração em off com voz feminina, esse é um título do autor de A cicatriz interior que aborda com grande delicadeza a ferocidade do amor.saiba mais
Como observou o crítico brasileiro Paulo Emílio Sales Gomes (1916-1977) ao avaliar E Deus criou a mulher, de Roger Vadim, “não é possível desmistificar o amor sem envolver no processo a crítica global da sociedade”.
E isso Amante por um dia, cujo roteiro é assinado pelo próprio Garrel a oito mãos (com Caroline Deruas-Garrel, Jean-Claude Carrière e Arlette Langman) consegue fazer com grande sutileza. O cenário se expande para além do drama particular vivido no apartamento nas conversas de Gilles com a filha, quando passeiam à noite pela cidade. Eles discutem temas como a infidelidade – “Ninguém sabe o que é. Alguns são fiéis a coisas que não têm nenhuma importância para outros”, diz ele. Quando são atingidos por um jato de água vindo da janela de um prédio, o pai comenta: “Gente que molha as pessoas que estão na rua ao regar suas plantas. Para mim, é a definição da burguesia”.
Em diálogos do trio com outros estudantes e entre si também surgem guerras (passadas e futuras) como tema. Mas é no enfrentamento do amor e do sexo que Amante por um dia se debruça e oferece um desfecho que pode ser visto ou como um elogio da capacidade de recuperação ou como o triunfo da incompreensão e do egoísmo. Afinal, não há visões definitivas sobre esse domínio. Veja o trailer:
'Amante por um dia' aborda a ferocidade do amor
O diretor Philippe Garrel concentra num apartamento o enredo sobre o começo e o fim de um amor em filme em preto e branco
15/03/2018 08:00