Indicado ao Oscar de melhor filme, 'Lady Bird' chega aos cinemas

Com o subtítuto 'A hora de voar', filme de Greta Gerwig trata do ritual de passagem para a idade adulta por meio da história de uma garota insatisfeita

por Silvana Arantes 15/02/2018 08:50

Universal Pictures/Divulgação
Saoirse Ronan interpreta Christine 'Lady Bird' McPherson e foi indicada ao Oscar de melhor atriz pelo papel. (foto: Universal Pictures/Divulgação )

''A vida só pode ser entendida olhando-se para trás, mas deve ser vivida olhando-se para a frente.” Em seu livro Kierkegaard – Lições de vida, da série produzida por The School of Life e recém-lançada no Brasil pela Zahar, Robert Ferguson cita a máxima que o atraiu para o pensamento filosófico e, em particular, o do dinamarquês.

Pois Kierkegaard é citado também em Lady Bird – A hora de voar, longa de Greta Gerwig que estreia nesta quinta (15) no Brasil. O contato com as ideias do filósofo é recomendado à adolescente Christine McPherson (Saoirse Ronan) por uma freira da escola católica em que ela estuda, em Sacramento.

Aos 17 anos, Christine está insatisfeita com seu nome – ela se autobatizou com o mais original Lady Bird e exige que os pais a chamem assim –, sua casa (que fica “do lado errado dos trilhos”), sua mãe (rigorosa demais e afetuosa de menos), sua escola, sua cidade e com a perspectiva de continuar vivendo nesse local no “Oeste da Califórnia”, como faz questão de frisar.

As ambições de Lady Bird são maiores. Ela sonha com a vida frenética e a atmosfera artística de Nova York, mas não faria mal viver antes disso um romance ideal na modorrenta Sacramento. É o que ela tenta. Duas vezes, fracassando em ambas.

Espécie de Juno (Jason Reitman, 2007) desta década, porém menos cativante, o longa de Gerwig trata do ritual de passagem para a vida adulta enfocando as aflições de uma adolescente prestes a fazer 18 anos, em 2002. Saoirse Ronan (Reparação, Brooklyn) mais uma vez incorpora um papel com o fervor que faz Lady Bird parecer uma pessoa real. Nesse caso, uma garota que se faz adorável, ainda que muitas vezes seu comportamento seja irritante e egoísta.

Greta Gerwig está indicada ao Oscar de melhor direção e roteiro pelo filme, premiado com o Globo de Ouro de melhor comédia. Ao receber o prêmio da Associação de Correspondentes Estrangeiros em Hollywood, a diretora disse: “Quero agradecer à minha mãe, ao meu pai e às pessoas de Sacramento, que me deram raízes e asas e me ajudaram a chegar onde estou hoje. Obrigada, obrigada, obrigada!”.

DISCURSO Embora fazê-lo dissipe toda dúvida, não era necessário ouvir o discurso de Greta para concluir que Lady Bird é um filme confessional. Em retrospecto, o olhar carinhoso da cineasta abrange não só Lady Bird e sua insatisfação permanente. É capaz de compreender também as razões e reações da família – o pai está em crise profissional; a mãe (Laurie Metcalf, indicada ao Oscar de melhor atriz) tem uma boa razão por trás de sua dificuldade de demonstrar carinho –, do primeiro namorado, que esconde um segredo não por desonestidade, mas por falta de coragem de revelá-lo, ou da melhor amiga, que se entristece sem razão porque “nem todo mundo nasceu para ser feliz”.

Para contar a história de forma leve, Gerwig recorre não apenas a uma protagonista sólida, mas também a um comentário de época feito por meio da trilha sonora e uma deliberada estereotipia de determinados personagens, como o segundo namorado de Lady Bird. Kyle (Thimotée Chalamet, indicado ao Oscar por seu papel em outro filme, Me chame pelo seu nome) é um garoto intelectual, blasé e supostamente engajado – só que não.

Por mais agradável que seja, Lady Bird – A hora de voar realiza apenas um dos movimentos da máxima de Kierkegaard. O filme olha para trás com doçura, mas deixa para outra ocasião a empreitada de mirar no futuro. Isso não chega a ser um defeito. A impressão que se tem é que Greta Gerwig fez o melhor filme possível com seus recursos no momento. Desvendar o sentido da existência é tarefa para uma vida inteira, ou para os grandes filósofos.

 

Abaixo, confira o trailer de Lady Bird - A hora de voar

 

MAIS SOBRE CINEMA