Salas de cinema este ano serão ocupadas por várias histórias adaptadas de livros

Ficções ou biografias, o que inspirou as versões em imagens está disponível nas livrarias

por Pedro Antunes/Estadão Conteúdo Nahima Maciel 04/02/2018 20:03
Samuel Goldwin Films/Divulgação
Wim Wenders é o diretor da versão cinematográfica de Submersão, romance de J. M. Ledgard (foto: Samuel Goldwin Films/Divulgação)
Hollywood já foi acusada de crise de criatividade por encher as salas com adaptações de livros, remakes, spin off e sequências intermináveis. Roteiros originais fazem falta, mas adaptações de livros são sempre curiosas. Há quem seja fatalista ao cravar que nunca uma versão de um filme faz jus ao livro, e se for uma questão de linguagem, a afirmação é óbvia. Um longa de duas horas no qual o foco é a imagem dificilmente vai satisfazer a parte do cérebro que imagina, durante um mês de leitura, uma história cheia de detalhes proposta pelo autor. Se o espectador tiver em mente essa diferença básica de linguagem, fica mais fácil curtir a adaptação de um livro particularmente apreciado.

E este ano, haverá muitas nas salas de cinema. O EM Cultura fez uma lista dos livros disponíveis em traduções para o português e cujas adaptações estão na mira dos espectadores. Uma dica: vale ler antes de ver o filme, assim não se contamina a imaginação dos personagens, paisagens e situações com a proposta visual dos diretores. Em alguns casos, a surpresa pode ser contrária e o filme ser melhor que o livro.

Submersão
De J. M. Ledgard.
Tradução: Roberto Muggiati.
Record, 224 páginas.
R$ 39,90

Esse pode ser um caso de longa melhor que o livro. Com lançamento previsto para abril, o filme tem direção de Wim Wenders e, como protagonistas, Alicia Vikander e James McAvoy. O romance de Ledgard, um repórter especializado em guerra e África que anda se aventurando na ficção, narra o encontro da oceanógrafa Danielle com o espião James. Muito confiante de si, ela está sempre prestes a descobrir um microrganismo que vai mudar os rumos do planeta e a maneira como se encara as profundezas do oceano. Ele, disfarçado de engenheiro, acaba sequestrado por um grupo jihadista na Somália depois de uma manobra desastrada. O problema não é a história em si, mas a maneira como é contada. Submersão é livro de consumo rápido e pouca elaboração narrativa. A essa altura do campeonato, incomodam frases como “o inverno era a época de estar com homens”, “os homens eram mais atraentes no inverno, mais másculos e disponíveis, mesmo que menores e melancólicos” e “(...) talvez fosse algo dos homens, a forma como todos eles pareciam pensar em termos de tempo e poder (...) Era só que… estava destinada a outro lugar (...)”. Ledgard não economiza nos clichês.


A forma da água
De Guillermo del Toro de Daniel Kraus.
Tradução: Edmundo Barreiros.
Intrínseca, 352 páginas
R$ 39,90

O longa já está em cartaz e concorre ao Oscar de melhor filme, direção, atriz e ator coadjuvante. É dirigido por Guillermo del Toro, que também escreveu o livro, no qual aprofunda um pouco mais a história dessa estranha criatura, meio homem meio peixe, responsável por provocar a paixão de uma faxineira do complexo militar no qual está confinada. O universo de terror e ficção científica levou del Toro para a escrita. Entre 2009 e 2014, ele publicou Trilogia da escuridão, três livros dedicados a histórias de vampiros escritos em parceria com Chuck Hogan. Com Kraus, del Toro também escreveu Caçadores de trolls. Como seria de se esperara, a narrativa do diretor é bastante cinematográfica e, no caso de A forma da água, mergulha no universo fantástico.
Fox Searchlight/Divulgação
Em cartaz em Belo Horizonte, A forma da água foi escrito e também dirigido por Guillerme del Toro (foto: Fox Searchlight/Divulgação)


Todo dia
De David Levithan.
Tradução: Ana Resende.
Galera, 322 páginas.
R$ 39

Autor queridinho dos adolescentes, David Levithan escreveu Todo dia pensando em falar sobre questões de gênero. Criou o personagem A., uma entidade que, diariamente, acorda em um corpo diferente. Um dia, A. assume o papel de Justin, o namorado violento de Rhiannon, e se apaixona pela moça. O filme com direção de Michael Sucsy tem estreia prevista nos Estados Unidos para o final de fevereiro e ainda não tem previsão de chegada ao Brasil, mas promete ser um blockbuster adolescente. Em entrevista concedida quando lançou Todo dia, em 2016, Levithan explicou que gosta de escrever com transparência e objetividade sobre temáticas LGBT. É um tema que falta no mercado literário para adolescentes. “Acho importante que todas as identidades sejam refletidas na nossa literatura. Tenho tido muita sorte de poder escrever histórias LGBT em um tempo em que há tantas mudanças culturais”, disse.


Cadê você Bernadette?
De Maria Semple.
Tradução: André Czarnobai.
Companhia das Letras,376 páginas.
R$ 57,90

Bernadette é uma mãe superprotetora que abdicou de carreira de sucesso para seguir o destino do marido, um gênio da informática, e da filha, uma mocinha superdotada. Mas Bernadette começa a ficar entediada com o mundinho excessivamente normal de Seattle, para onde se muda depois de passar anos em Los Angeles. A personagem decide, então, sumir de uma maneira bastante criativa e complexa. É boa literatura, manejada com habilidade de roteirista de Maria Semple, que escreveu para os seriados Mad about you e Barrados no baile, ambas dos anos 1990. O filme deve fazer justiça ao texto, já que tem direção de Richard Linklater, o mesmo de Boyhood e Antes do amanhecer. No elenco estão Cate Blanchet e Billy Crudup. A estreia está prevista para maio.

A grande jogada
De Molly Bloom.
Tradução: Renato Marques.
Intrínseca, 272 páginas.
R$ 39,90

Molly Bloom teve sorte em Hollywood. Acabava de pedir demissão do primeiro emprego, no qual ficou apenas um dia, e caminhava pela rua quando quase foi atropelada por um milionário dono de um restaurante para celebridades. O homem gostou da moça que vinha do Colorado tentar a vida em Los Angeles e ofereceu um emprego de garçonete na casa. De lá para se tornar a Rainha do Pôquer foi um pulo. Molly passou a promover as mesas de pôquer mais concorridas do jet set hollywoodiano, à qual só sentavam jogadores dispostos a apostar quantias a partir de seis dígitos. Gente como Leonardo di Caprio, Ben Affleck e Tobey Maguire passaram pelos quartos de hotéis nos quais as rodadas de jogo eram promovidas antes de Molly ser presa, em 2013, pelo FBI. No filme de Aaron Sorkin, previsto para estrear em 22 de fevereiro e concorrente ao Oscar de melhor roteiro adaptado, Molly é vivida por Jessica Chastain. No livro, escrito em primeira pessoa, ela é uma narradora habilidosa. Publicado pela Intrínseca, o relato se assemelha a um bom livro de entretenimento sobre extravagâncias, glamour e crimes. Não é jornalismo literário, nem Gay Talese, nem O grande Gatsby, mas sacia e não constrange.


Marighella – O guerrilheiro que ncendiou o mundo
De Mario Magalhães.
Companhia das Letras,
744 páginas.
R$ 69,90

A estreia de Wagner Moura na direção vem com a adaptação da biografia escrita por Mario Magalhães. O livro traz a história do maior inimigo da ditadura e um dos idealizadores da guerrilha contra o regime no Brasil. Conhecido por comandar assaltos a banco com o intuito de arrecadar o dinheiro para a resistência e por várias passagens pela prisão, Marighella foi deputado e poeta. Seu histórico de luta contra o autoritarismo vinha dos anos 1930. Ele foi preso pela primeira vez em 1932, por criticar a política da época. Em 1936, foi detido novamente depois de ser considerado subversivo pela polícia de Getúlio Vargas. Mas foi na ditadura militar que o nome de Marighella se destacou. O livro cobre um período entre 1930 e 1960 e levou mais de duas décadas para ficar pronto. Nas telas, Marighella será vivido por Seu Jorge e o longa deve ser lançado em setembro.


A garota na eia de aranha
De David Lagercrantz.
Tradução: Guilherme da ilva Braga e Fernanda armatz Akesson.
Companhia das Letras, 472 páginas.
R$ 47,90

Repórter policial e autor de romances do gênero, David Lagercrantz deu continuidade à saga iniciada por Stieg Larsson e sua personagem Lisbeth na série Millenium. Morto em 2004, Larsson se tornou fenômeno da literatura policial nórdica ao lançar Os homens que não amavam as mulheres, em 2008, primeiro livro de uma trilogia que tem Lisbeth no papel principal, o romance fez sucesso e foi adaptado para o cinema em 2012 com Rooney Mara e Daniel Craig como protagonistas. Em outubro, é a vez da continuação idealizada por Lagercrantz. Dessa vez, o longa será estrelado por Fede Alvarez, Steven Knight e Jay Basu.


O ódio que você semeia
• De Angie Thomas.
Tradução: Regiane Winarski.
Galera Record, 378 páginas. l R$ 39,90

Embalada pelos eventos que levaram a centenas de protestos nos Estados Unidos após o assassinato de jovens negros por policiais e pelo movimento “Black lives matter”, a atriz Angie Thomas escreveu este livro sobre uma menina negra, Starr, que testemunha a morte de dois amigos, um deles morto pela polícia. A menina é filha de um ex-traficante e simpatizante dos Panteras Negras. Mora em uma periferia na qual violência e desigualdade geram o ódio e a opressão. Racismo é tema constante das discussões de Starr com o pai, com os amigos, com os colegas da escola. O livro, escrito para jovens leitores, fez enorme sucesso nos Estados Unidos, foi publicado pela Galera Record em 2017 e está sendo adaptado para o cinema pela Fox. Amandla Stenberg, de Jogos vorazes, será a protagonista.

MAIS SOBRE CINEMA