Moacyr Góes estreia documentário biográfico sobre Fernando Gabeira

'Gabeira', em cartaz em BH, traz depoimentos e imagens de arquivo, além de mostrar o personagem como uma pessoa transgressora

por Estadão Conteúdo 12/12/2017 08:36

Globo Filmes/divulgação
Filme de Moacyr Góes busca retratar o pensamento de Fernando Gabeira por meio de depoimentos e material de arquivo. (foto: Globo Filmes/divulgação)

Tem gente reclamando que Gabeira, o documentário de Moacyr Góes em cartaz em BH, faz parte de uma hipotética campanha de Fernando Gabeira para algum cargo político em 2018. “Bobagem, ele não precisa do filme para ser candidato ao que quer que seja. Tem sempre partidos batendo à porta dele, pedindo seu retorno à política tradicional. Ele é quem resiste”, diz o diretor. Góes acrescenta que precisou de um ano inteiro para convencer Gabeira a se deixar filmar/biografar.

Não é bem uma biografia. “Fernando é muito fechado e reticente a ficar falando de intimidades. O filme é sobre sua trajetória e seu pensamento. Como ele vê o Brasil”, diz o diretor. Moacyr Góes tem sido multimídia, assinando filmes e montagens de teatro. Anos atrás, Gabeira o surpreendeu com um convite. Quando foi candidato a prefeito do Rio de Janeiro, pediu-lhe que fizesse sua campanha. “Você está pedindo para a pessoa errada. Não tenho nenhuma experiência nisso.” Pois era justamente pela inexperiência que Gabeira o queria. A campanha foi um sucesso. Virou um case. O candidato foi para o segundo turno e, mesmo não vencendo, ampliou sua projeção.

 

 

Quase no final de 2015, Moacyr Góes iniciou seu assalto à fortaleza de Gabeira, cobrando-lhe um filme. Ganhou o aval no segundo semestre de 2016, com uma condição: “O filme é seu. Não quero saber de nada”. O diretor gravou as entrevistas em setembro e outubro do ano passado. É um documentário tradicional, com longa entrevista com Gabeira, depoimentos de diversas pessoas (Caetano Veloso, Ferreira Gullar etc.) e material de arquivo.

Alguns críticos reclamam que se trata de um filme tradicional sobre um personagem transgressor. “Foi consciente. Em nenhum momento visualizei esse filme como um exercício de linguagem sobre um personagem que tem sido transgressor. O importante é expor o pensamento do Fernando”, diz o cineasta.

AUTOCONTROLE Às vezes, Gabeira chega a ser exasperante pelo absoluto autocontrole com que se expressa. Fala calma, mansa, um certo didatismo. “Os raros arroubos que ele tem são físicos, o discurso é sempre esse.” Gabeira criou uma persona, um personagem de si mesmo? “Não creio, ele é assim mesmo. E o que me atrai nele é essa retidão entre o que acredita e o que faz”, diz Moacyr Góes. Foi o que tentou, e conseguiu, colocar no filme.

Dar conta das muitas faces de Gabeira não é fácil. Mineiro, foi morar no Rio de Janeiro. Tirando o exílio, passou mais de 50 dos seus 77 anos como carioca. Integrou a luta armada contra a ditadura, participou do sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, foi exilado. Voltou e, com uma célebre sunga de crochê, foi a sensação do verão de 1980 no Brasil em fase de abertura. Militou nas questões ambientais, criou o Partido Verde. Não foge de nenhum assunto – do bolivarianismo petista ao arrependimento por não haver denunciado a repressão à homossexualidade na Cuba de Fidel. Acostumou-se a desagradar à esquerda e à direita. O filme tem um subtítulo – Não nasci para a vida doméstica. “O doméstica, aí, é ambíguo. Fernando não nasceu para ser domesticado”, afirma Góes. Seu filme é sobre isso. 

 

Abaixo, confira o trailer de Gabeira

 

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