Longa de Guillermo Del Toro com ser amazônico encanta Veneza

Cineasta mexicano retorna ao universo das fábulas fantásticas com 'The Shape of Water' e diz que 'eleger o amor ao invés do medo é o primeiro ato político ao nosso alcance'

por AFP 09/09/2017 17:19

Fox/Divulgação
Sally Hawkins e Doug Jones em cena de 'The shape of water' (foto: Fox/Divulgação)

O diretor de cinema mexicano Guillermo del Toro conquistou público e crítica do Festival de Veneza com uma fábula magistral e delicada sobre o amor entre uma princesa muda e uma estranha criatura anfíbia. "O conto de fadas é o antídoto perfeito para o cinismo, porque toca as emoções", declarou o cineasta depois de apresentar seu último filme, "The Shape of Water", na quinta-feira, 31/8, em competição pelo Leão de Ouro junto com outros 20 filmes no Festival Internacional de Cinema de Veneza.


Nesta obra, o diretor mexicano alimenta sua paixão por criaturas fantásticas, colocando-as em um universo visual extravagante, arrancando aplausos e críticas entusiasmadas de especialistas e público.  Ambientado em 1962, durante a Guerra Fria, o filme conta a história de uma jovem, Elisa (Sally Hawkins), que vive uma existência solitária, mas serena, em um cinema de bairro sem clientes.


Durante o dia, ela visita seu vizinho, Giles (Richard Jenkins), um artista gay que ganha a vida com comerciais e adora comédias musicais transmitidas pela televisão. À noite, ela trabalha com sua amiga negra Zelda (Octavia Spencer) em um laboratório científico secreto do governo dos Estados Unidos. Trata-se de um trio de pessoas desajustadas que rejeitam o sistema, procuram amor e acabam unindo forças.


A vida de Elisa muda com a chegada ao laboratório de uma estranha criatura marinha extraída das águas do rio Amazonas, onde era venerada como uma divindade. A criatura também consegue respirar fora d'água, uma qualidade que interessa a russos e americanos, em plena corrida para chegar ao espaço.

 

Confira o trailer de 'The shape of water'


O ser (Doug Jones) é percebido como uma ameaça para a humanidade por um militar aterrorizante, cheio de preconceitos e ódio (Michael Shannon). O encontro entre a princesa muda, que se comunica por sinais, e o monstro perseguido é uma ode ao amor puro.

 

"Quando ele me olha, não sabe que sou incompleta. Ele me vê como eu sou", diz, no filme, a jovem, que descobre que o amor não precisa de palavras. O filme já é apontado como um dos melhores De del Toro depois de "O Labirinto do Fauno", que levou três prêmios Oscar.


"O primeiro ato político ao nosso alcance é eleger o amor ao invés do medo. Vivemos em um tempo em que o medo e o cinismo são usados de uma maneira muito persuasiva", declarou à imprensa o cineasta mexicano. Guilhermo del Toro revisita a fábula da Bela e a Fera, inserindo em um sombrio contexto histórico de sexismo, racismo, injustiça social e ódio internacional.


"Há duas versões de 'A Bela e a Fera', uma puritana – os dois se amam de maneira platônica, mas não fazem amor – , e uma outra um pouco perversa e preocupante. Não me interessei por nenhuma das duas versões", indicou o diretor. No filme, os dois finalmente têm relações íntimas pudicamente sugeridas atrás de uma cortina de banheiro.

 

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