Jessica Chastain é uma poderosa e obstinada executiva no longa 'Armas na mesa'

A atriz interpreta Elizabeth Sloane, que se envolve na regulamentação do porte de armas nos EUA e é obcecada em vencer qualquer disputa

por Pedro Galvão 02/02/2017 09:00

Paris Filmes/Divulgação
Jessica Chastain faz o papel de Elizabeth Sloane, lobista implacável e sem escrúpulos que atua nos EUA. (foto: Paris Filmes/Divulgação )

O lobby não apenas é legal nos Estados Unidos, como configura uma indústria poderosa e movimenta milhões de dólares. Além de influenciar as decisões políticas e, consequentemente, a vida das pessoas, o tema inspirou alguns roteiros em Hollywood. O assunto volta ao cartaz com o filme Armas na mesa, uma das estreias de hoje em BH, história de uma poderosa e obstinada executiva envolvida na regulamentação do porte de armas nos EUA.

A disputa é o pano de fundo para a atuação de Jessica Chastain como a lobista Elizabeth Sloane. Inicialmente ligada aos poderosos que desejam manter a liberdade do comércio de armas, ela muda de lado para conseguir aprovar a interdição do porte àqueles que têm antecedentes criminais ou problemas mentais.

Sob o argumento de construir uma sociedade menos violenta e reduzir assassinatos por arma de fogo, as motivações de Sloane parecem nobres. No entanto, o que realmente a motiva é a obsessiva determinação de vencer qualquer disputa. Para isso, ela deixa de lado qualquer escrúpulo, mostrando-se capaz de trair aliados e adulterar documentos, enquanto vira noites trabalhando.

A força da personagem é bem atendida pelo talento de Chastain, indicada ao Globo de Ouro deste ano. Em 2013, a atriz levou o prêmio por sua atuação em A hora mais escura. Com interpretação brilhante em Armas na mesa, a ruiva constrói uma mulher fria e independente ao extremo. Sloane não tem família nem qualquer relacionamento afetivo. A única intimidade dela se dá com um garoto de programa.

Essas características a fazem ser temida pelos adversários, respeitada e admirada pelos aliados. Comandadas por ela, as articulações para convencer os congressistas a votar favoravelmente à lei antiarmas movem a trama. Com campanhas de marketing, corpo a corpo junto a políticos e acalorados debates midiáticos, as ofensivas são marcadas por reviravoltas e pela intempestividade de Sloane, trunfo a seu favor em alguns momentos e combustível para os oponentes em outros.

BRASIL

Armas na mesa é um thriller baseado na realidade e em debate muito atual na sociedade norte-americana. No entanto, a protagonista é fictícia, assim como os senadores. Para os brasileiros menos ligados no noticiário internacional, o filme pode surpreender pela sensação de que não estamos sozinhos no quesito política apodrecida por estruturas corruptíveis e interesses econômicos à frente dos sociais. No entanto, quem acompanha a maior potência do planeta constata que o longa transmite a inquietude latente por lá.

Lançado neste momento de extrema polarização política nos EUA de Donald Trump, o longa contextualiza fatos recorrentes no país, onde há quase uma arma de fogo, em média, para cada um dos 320 milhões de habitantes. Episódios como a chacina que matou 12 estudantes e um professor na Columbine High School, em 1999, e o massacre que tirou a vida de outras 50 em uma boate de Orlando, no ano passado, evidenciam o problema. Armas de fogo eliminam cerca de 11 mil cidadãos por ano nos EUA, índice considerado alto para um país desenvolvido.

Apoio

Ameaça para alguns, segurança para outros. Por mais que as estatísticas assustem, 63% dos americanos afirmam se sentir seguros portando arma, segundo pesquisa do Instituto Gallup publicada há dois anos.

O filme de John Madden, indicado ao Oscar de melhor diretor em 1998 por Shakespeare apaixonado, traz todo esse debate, os argumentos dos dois lados e os interesses em volta deles. No entanto, o próprio cineasta declarou que o foco principal é a protagonista – mulher independente e poderosa –, sem a pretensão de assumir posições em relação à polêmica.

Constituição

A Segunda Emenda à Constituição dos Estados Unidos, de 1791, garante ao cidadão o direito de possuir uma arma. Embora alguns estados adotem regras mais rígidas, o controle da posse foi uma das bandeiras do governo Barack Obama, mas o então presidente foi derrotado pelo Congresso.

MAIS SOBRE CINEMA