'Esquadrão Suicida' traz ótimos personagens, mas pode ser vítima de sua estratégia de promoção

As expectativas da legião de fãs apaixonados em todo o planeta chegam a níveis perigosamente altos, podendo ser frustrante

por Pedro Galvão 04/08/2016 09:18

Warner Bros./Divulgação
Os maiores psicopatas se reúnem com a missão de salvar o planeta da vilã sobrenatural Magia (foto: Warner Bros./Divulgação)

Quando um time de grandes estrelas entra em campo, com muito dinheiro investido, muita propaganda em volta e um forte rival a ser superado, as expectativas da legião de fãs apaixonados em todo o planeta chegam a níveis perigosamente altos. No período olímpico, não serão apenas os jogos e os atletas a empolgar e decepcionar os espectadores. Na disputa cinematográfica das principais marcas de quadrinhos do mundo, a DC Comics se coloca à prova novamente em Esquadrão Suicida, que chega hoje aos cinemas com grande elenco, personagens carismáticos e enorme pressão dos críticos e do público.

Você confiaria sua vida a um bando de psicopatas? A agente secreta Amanda Walker (Viola Davis) e o soldado Rick Flag (Joel Kinnam) sim. A releitura da história em quadrinhos reúne os seis mais perigosos e excêntricos criminosos do mundo na contraditória missão de salvar o planeta de uma ameça sobrenatural. A trama está inserida no que começou a ser contado em O Homem de Aço (2013) e, posteriormente, em Batman vs Superman (2016). A diferença é que desta vez não existem heróis nos papéis principais.

Warner Bros./Divulgação
O Coringa não desempenha papel central na trama, mas suas aparições trazem carisma (foto: Warner Bros./Divulgação)

A ausência do Superman deixa o governo norte-americano preocupado com a ameaça representada pelos seres meta-humanos. Seguindo a sugestão de Walker, as autoridades resolvem tirar os vilões da cadeia e torná-los aliados sob ameaça de morte, por meio de um chip explosivo subcutâneo instalado no pescoço de cada um. Os bandidos ganham armas e têm que cumprir as ordens para, em troca, ter suas penas de prisão reduzidas. O grupo formado recebe o nome de Esquadrão Suicida e será capitaneado por Flag, a única “pessoa de bem” do bando, embora também não se encaixe no estereótipo do herói.

Encarnados por estrelas do quilate de Will Smith, que dá vida ao Pistoleiro – um matador de aluguel que nunca errou um tiro até ser capturado pelo Batman –, e outros atores e atrizes menos famosos, mas bem rodados em Hollywood, a missão do esquadrão não é simples. E o desafio maior não se trata de deter a vilã sobrenatural Magia (Cara Delevingne), que está prestes a tomar o controle da Terra com os poderes espirituais que ganhou de uma bruxa em um sítio arqueológico. A recepção até agora negativa da crítica norte-americana (33% no site Rotten Tomatoes e nota 4,4 no Metacritic) mostra que o filme poderá não corresponder às expectativas que a própria produção criou.

Nos meses que antecederam a estreia, a ansiedade dos milhões de fãs devoradores de quadrinhos, animações e outros filmes sobre o universo DC foi alimentada com trailers, fotos e outros conteúdos de marketing antecipados. Sugeriu-se um filme mais divertido, cômico e leve do que os últimos, que também não agradaram à crítica. Talvez algo que se aproximasse um pouco dos grandes sucessos de bilheteria da concorrente Marvel, que produz as franquias de Homem-Aranha, X-Men, Homem de Ferro, Capitão América e Deadpool.

De cara, o espectador encontra alguns desses elementos. Uma trilha sonora recheada de hits, com Creedence, Black Sabbath, Eminem, White Stripes, Queen e Rolling Stones tenta amolecer e arrancar um sorriso de quem assiste, assim como ocorreu com sucesso em alguns filmes da Marvel, como Deadpool, Guardiões da galáxia e no último X-Men. No entanto, o desenrolar do filme não deixa claro se o tom pretendido pelo diretor David Ayer era mais colorido ou mais sombrio. Este é o sexto filme que Ayer dirige, embora tenha assinado o roteiro de outros quatro, entre eles Dia de treinamento e Velozes e furiosos. Considerando Esquadrão Suicida, foi possivelmente o maior desafio da explosiva filmografia do norte-americano de 48 anos.

QUADRINHOS A grande carga de expectativas fica por conta também dos personagens previamente apresentados. Jared Letto, outro habitué dos tapetes vermelhos presente no elenco, é um Coringa estilo “bad-boy ostentação”, tatuado, com dentes de prata e correntes de ouro. Com a responsabilidade de dar vida a uma das figuras mais emblemáticas dos quadrinhos do cinema, ele tenta ser ao mesmo tempo divertido, como foi a caricata interpretação de Jack Nicholson na versão Batman (1989), de Tim Burton, e cruel como o perturbador e inescrupuloso personagem de Heath Ledger no filme Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008), de Cristopher Nolan. Acaba ficando no meio do caminho, o que não chega a ser um grande problema, já que o Coringa não tem grande importância na trama, estando ali apenas por causa de seu romance psicótico com Arlerquina, esta sim, integrante do esquadrão.

A personagem de Margot Robbie é outra responsável pelo frenesi provocado previamente em torno do longa. A ex-psiquiatra do Asilo de Arkham acaba se apaixonando pelo Coringa, que era um dos internos, o ajuda a fugir e se torna sua cúmplice na vida criminosa antes de ser capturada pelo Batman. Ela assume um lugar de destaque no filme, com boa atuação, sendo o centro das atenções em diversos momentos, não só pelas várias piadas que faz, mas pelas ações corajosamente cruéis e pela caracterização sexualizada de uma vilã que faz o estilo ninfeta ingênua, sensual e com roupas minúsculas. Uma representação já vista anteriormente em algumas animações e quadrinhos que a personagem aparece. Esse tipo de exposição, assim como sua submissão ao Coringa, por quem nutre uma paixão doentia, foram alvos de algumas críticas da imprensa norte-americana.

Esquadrão Suicida pode frustrar quem vai ao cinema esperando ver um ótimo filme. A apresentação e o desenvolvimento do problema central são um pouco confusos e alguns personagens não mostram o carisma  esperado. O próprio Will Smith, apesar de sempre talentoso, dificilmente convence alguém de ser capaz de qualquer vilania, tendo em vista os trabalhos anteriores em sua carreira. No entanto, sua presença, assim como a de Arlequina e a do Coringa, aguçam a curiosidade de quem quer ver onde a DC Comics chegará em sua queda de braço com a Marvel e suas tramas já consolidadas, nessa disputa que ainda terá muitas prorrogações, para a alegria dos fãs. Como mais um capítulo de toda essa história, o time de vilões funcionou bem.

Perfis Esquadrão:

Arlequina

Esse é o nome da psiquiatra Harley Quinn, que trabalhava na prisão manicomial de Arkham, onde estava detido ninguém menos que o Coringa, por quem ela se apaixona e ajuda a fugir da cela acolchoada. Sex symbol dos quadrinhos, a criminosa das curtas roupas azuis e vermelhas é interpretada por Margot Robbie.

Pistoleiro
Will Smith interpretando um vilão é algo raro, mas ocorre quando o vilão vira herói. Floy Lanton seria só mais um assassino de aluguel se não fosse sua pontaria incrível, que o fez ser chamado para o esquadrão. Seu ponto fraco é sua filha, para quem tenta passar uma imagem menos negativa.

Crocodilo
Familiar para quem é fã dos quadrinhos e desenhos do Batman, o vilão é um sujeito que nasceu com problemas genéticos que faziam sua pele ser cheia de escamas. A anomalia, que o fazia ser maltratado e discriminado na infância, se tornou uma arma poderosa para o mundo do crime, já que o deixava mais forte e resistente.

El Diablo
De origem latina, Chato Santana é um traficante de drogas cruel e quase inescrupuloso. A ponta de bondade está no amor pela família, que ele acaba assassinando por descontrole de seus poderes. O fato fez ele se entregar à polícia.

Amarra
Cristopher Wiss trabalhava em uma empresa que desenvolvia cordas mais resistentes e poderosas. Ele resolveu usar esse conhecimento para a criminalidade.

Rick Flag
É o único bonzinho da turma, apesar de ser durão e nada gentil. Militar, como o pai e o avô, ele é escolhido para comandar a quadrilha na missão contra a feiticeira que se empoderou do corpo de sua amada.

Capitão Bumerangue
Como o nome sugere, esse bandido australiano, interpretado por Jai Courtney, achou no artefato seu instrumento de trabalho criminoso.

Katana
É a representante oriental do time. Depois de ter sua família morta por gângsteres da Yakuza, ela desenvolveu extrema habilidade com as espadas para sua vingança.

Amanda Waller
Foi da agente do governo Amanda Waller a ideia de criar o Esquadrão Suicida. Interpretada por Viola Davis, ela mostra uma personalidade forte para bancar seus projetos e encarar os vilões aliados e inimigos.

MAIS SOBRE CINEMA