Indicado ao Oscar, 'Clube de compras Dallas' estreia nesta sexta-feira

Matthew McConaughey personifica a luta contra a morte e o mercado em filme que concorre ao Oscar

por Gracie Santos 21/02/2014 07:00

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ANNE MARIE FOX/UNIVERSAL PICTURES
Rayon (Jared Leto) e Ron Woodroof (MatthewMcConaughey), um encontro improvável em 'Clube de compras Dallas' (foto: ANNE MARIE FOX/UNIVERSAL PICTURES)
'Clube de compras Dallas' atira (com elegância e no alvo) para vários lados; todos, diga-se, mais que interligados. Primeiro, personifica à perfeição as reações de um homem diagnosticado com Aids em 1986: do desespero à aceitação, passando pela negação, rejeição, raiva etc. O eletricista Ron Woodroof (Matthew McConaughey) é diagnosticado com a doença. Protótipo do machão texano, homofóbico, libertino e viciado em cocaína, ele associava a doença apenas ao universo homossexual. Por isso mesmo, foi terrivelmente surpreendido.


Só os fatos citados já renderiam boa trama. Mas 'Clube de compras Dallas' vai muito além. Mostra a incansável batalha de um homem e (poucos, muito poucos) médicos contra a poderosa indústria farmacêutica, tornando o filme parceiro de 'O jardineiro fiel', longa britânico de 2005 dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, como importante arma de denúncia contra um mercado cruel, praticamente inatingível. 'Clube...' retrata o envolvimento do poder público com fabricantes de medicamentos e a proteção a laboratórios que utilizam pacientes como cobaias de testes que culminarão em lucros exorbitantes, não importando quantas vidas sejam perdidas.

Paralelamente a tudo isso, está o mercado alternativo, que sobrevive à margem, este sim formado por pessoas com visível interesse em salvar vidas ou pelo menos tornar saudável a sobrevida daqueles que tiveram a sentença de morte anunciada. Mercado este marginalizado e perseguido, o que elimina qualquer chance de sucesso e legalização. Diante das barreiras e da impossibilidade de se solidificarem, os tratamentos alternativos alimentam o contrabando, criando terrível círculo vicioso.

O longa do canadense Jean-Marc Vallée tem vários méritos além da coragem de abraçar temas duros e até hoje fruto de preconceito, ainda que muito tenha se passado desde a trama dos anos 1980. 'Clube de compras Dallas' envolve o espectador principalmente a partir da irrepreensível atuação de Matthew McConaughey (o ator perdeu 22 quilos para encarnar o personagem). Não por acaso, ele e Jared Leto (no papel do transexual Rayon, também soropositivo) venceram o Globo de Ouro nas categorias melhor ator e melhor ator coadjuvante, dobradinha que merecia ser repetida no Oscar (o longa concorre a seis estatuetas, inclusive à de melhor filme).

Também importante é o fato de a trama mesclar abordagens pessoais (com delicadeza) e problemas universais (com firmeza), além de acender luzes sobre importante personagem real (o ativista Ron Woodroof chegou a ser entrevistado pelos roteiristas e seu diário serviu de fonte de inspiração para McConaughey) que agora será conhecido por muitos. O longa se vale da história aparentemente improvável do “bronco” que trava luta judicial na tentativa de prolongar sua vida de maneira saudável, mostrando a força da determinação e a capacidade do ser humano de se transformar e ajudar a transformar o mundo. E deixa também a certeza de que, nesta luta, ainda hoje há muitos rounds a serem vencidos.

Insistência


'Clube de compras Dallas' enfrentou muitos problemas para ser realizado. Em entrevista depois de vencer o Globo de Ouro de melhor ator, Matthew McConaughey contou que o filme foi rejeitado 86 vezes. Ninguém queria financiá-lo. Tudo isso depois de o roteiro ter ficado na gaveta 18 anos (foi escrito em 1992), o que o diretor Jean-Marc Vallée explica argumentando que os anos 1990 “talvez não tenham sido bom momento para o filme, já que os fatos eram ainda muito recentes”. O texto começou a ser feito quando o ativista Ron Woodroof ainda estava vivo. O filme foi rodado em apenas 25 dias e teve orçamento baixo para padrões hollywoodianos: US$ 5 milhões.

Assista o trailer do filme:

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