Vira o Santo: chuva espanta foliões, mas festa ocorre com muito batuque e protesto

Realizado desde meados de 2009, o evento reúne os foliões para fazer uma despedida à altura do carnaval de rua. Na ocasião, o público pode rever algumas atrações como Mientras Dura, Manjericão, Filhos de Tcha Tcha, Então, Brilha! e Alô Abacaxi

Larissa Ricci 29/02/2020 18:48
Tulio Santos/EM/D.A Press
Vira o Santo, encontro de blocos na Praça da Estação (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
É para se acabar! Quem ainda não superou o fim do carnaval, neste sábado pôde aproveitar uma grande ressaca da folia. A Praça da Estação, na Região Central de BH, foi tomada por cores e hinos de dezenas de blocos de rua da capital mineira no tradicional Vira o Santo.

Realizado desde meados de 2009, o evento reúne os foliões para fazer uma despedida à altura do carnaval de rua. Na ocasião, o público pode rever algumas atrações como Baião de Rua, Mientras Dura, Garotas Solteiras, Manjericão, Filhos de Tcha Tcha, Então, Brilha! e Alô Abacaxi. Eles se uniram em uma bateria unificada.

O jardineiro José Thomaz Silva, de 56 anos, saiu de Nova Lima (Grande BH) para pular com os blocos. “Foi lindo demais, emocionante de ver todos os grupos cantando e tocando juntos. Mas, acho que muita gente ficou em casa por causa da chuva”, disse ele.

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Na foto, casal com fantasias inspiradas no filme Bacurau, de Kleber Mendonça Filho (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
Thiago Loyola, de 33, também marca presença todos os anos. Ele, que se vestiu de Lunga – personagem do filme Bacurau, de Kleber Mendonça Filho – ainda se mostrou com pique para investir em fantasia no sábado pós-carnaval. “Venho todos os anos no Vira o Santo. É o meu momento”, disse.

E, não é só batuque. Todos os blocos mantiveram o forte engajamento político. O carnaval de Belo Horizonte tem sua história marcada por atos políticos. Seu ressurgimento, em 2009, veio depois da ocupação justamente na Praça da Estação em protesto contra o então prefeito Márcio Lacerda, e, desde então, a festa chega sempre com crítica à política. Este ano, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), foi alvo de manifestações durante toda folia.

A faixa com os dizeres "carnaval não é caso de polícia. Fora Zema" ganhou destaque na comemoração. Policiais observaram o protesto no entorno da praça.

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Na foto, folião pede o fim da Policia Militar (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
A cena é muito similar ao que ocorreu em 2018 no desfile do Vira o Santo quando os blocos estenderam uma faixa com os mesmos dizeres. Naquele ano, os integrantes das baterias se abaixaram para que os foliões pudessem ler o recado. Um dos motivos da manifestação foi a prisão de duas pessoas no bloco Filhos de Tcha Tcha, que desfilou pelo Vale das Ocupações do Barreiro. Além desse episódio, grupos criticaram ações consideradas “exageradas". "O carnaval é um movimento político. A faixa é a mesma, mas em contextos diferentes", disse Thiago.

Outro destaque do dia foi o bloco Ziriggydum Stardust – que desfila sempre no fim de semana pós-carnaval, levando para às ruas de Belo Horizonte as canções do então considerado o camaleão do rock/pop David Bowie em ritmo de carnavalesco – e o bloco É o Amô – que surgiu em 2018 para celebrar o sertanejo retrô. .

Luísa Jacques, de 32 anos, passou por três blocos ontem. Ela, que nasceu em BH, mas mora em São Paulo, não perde um carnaval de rua da capital mineira: “é o melhor de todo o planeta. E não acabou. Enquanto tiver bloco, eu vou”, disse.

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