Pena de Pavão: como este bloco de carnaval abraça a fé e o meio ambiente

Engajado com a defesa das águas, o bloco luta pela Bacia do Ribeirão Arrudas e mistura crença, fé e religiões. O resultado é um ritual sincrético e de muita espiritualidade

por Estado de Minas 11/02/2018 13:17

O clima zen define este bloco único de Belo Horizonte, onde os foliões preferem água à cerveja, cantam mantras e não marchinhas. Incensos e borrifadores com óleos ajudam a incrementar ainda mais a atmosfera do Pena de Pavão de Krishna (PPK), conhecido principalmente pelos rostos dos foliões, sempre pintados de azul.

Ver galeria . 59 Fotos Carnaval de Belo Horizonte: o bloco Pena de Pavão de Krishna apresenta uma temática inspirada na cultura indiana. O cortejo leva a espiritualidade para as ruas da cidade, fazendo a mescla de mantras indianos e ritmos africanosLeandro Couri/EM/D.A.Press
Carnaval de Belo Horizonte: o bloco Pena de Pavão de Krishna apresenta uma temática inspirada na cultura indiana. O cortejo leva a espiritualidade para as ruas da cidade, fazendo a mescla de mantras indianos e ritmos africanos (foto: Leandro Couri/EM/D.A.Press )


Engajado com a defesa das águas, o bloco luta este ano pela Bacia do Ribeirão Arrudas. Perto do local da concentração, entre a Praça do Cristo Redentor e a Praça da Febem, no Bairro Milionários, Região do Barreiro, há uma área verde ameaçada por um empreendimento imobiliário. O PPK abraça a causa e junto à população da região tenta transformar a área de 40 mil metros no Parque Ecológico Barreiro de Cima. O Instituto Macunaíma, parceiro do bloco, recolheu na manhã deste domingo, assinaturas para pressionar a prefeitura.

Aos pés do Cristo, os cânticos a Krishna refletem o espírito agregador do bloco. Centenas de pessoas pintadas de azul criam uma cena surreal, tanto mais, se somada à parede azul da praça - um prato cheio para público e fotógrafos.

A concentração para o desfile começou cedo. Marcada para às 7h, na Praça do Cristo Redentor, os primeiros foliões chegaram antes disso e começaram a preparar o café comunitário, onde cada um levou uma contribuição.

A previsão inicial era de que o bloco saísse às 8h30. Mas, por causa do novo sistema de som do PPK, houve um atraso de cerca de duas horas, já que, pela primeira vez, o bloco usa, além do caminhão, duas kombis de apoio para caixas de som. A ideia era superar um problema de anos anteriores, quando, por causa do tamanho do público, não foi possível escutar as músicas longe do trio.

Por volta das 10h, a bateria iniciou o aquecimento e o hino do PPK marcou o início do desfile com direito à oração de São Francisco de Assis, agradecimento ao Cristo Redentor e fumaça azul. Este ano, o bloco quer chamar atenção para a defesa da Bacia do Ribeirão Arrudas, cujas nascentes se encontram na região. O córrego Barreiro é um dos importantes afluentes e a intenção da população da região é transformar área verde cortada pelo córrego no Parque Ecológico Barreiro de Cima.

O Instituto Macunaíma está a frente da luta e se uniu ao PPK para chamar atenção para a luta. Desde o ano passado, quando foi a Morro Vermelho, distrito de Caeté, em defesa das águas da Serra do Gandarela, o bloco assumiu a militância pelas águas e o meio ambiente.


Espiritualidade


Para além do carnaval, o Pena de Pavão de Krishna promove um ritual sincrético. Em homenagem à Krishna, do hinduísmo, ele mistura crença e fé, convidando para a transcendência da alegria. A comunidade Hare Krishna de BH participou da concentração na Praça do Cristo Redentor, com a imagem de Jesus Cristo de braços abertos. No início do bloco, a oração de São Francisco de Assis e um salve a Oxalá, orixá associado à criação do mundo.

O bloco surgiu em 2013 em homenagem à Krishna, Deus do amor, "o todo atraente", uma das entidades mais cultuadas no hinduísmo.

"Aqui sentimos uma tranquilidade e uma energia positiva muito grande", afirma Manuela Ferreira, arquiteta, de 25 anos, há quatro anos batendo ponto no desfile do PPK. "É um bloco espiritualizado. Fazer a conexão com a gente mesmo. Arrepio inteira do início ao fim. Nem gosto de beber álcool neste bloco pra sentir a essência por completo ", diz a assistente social Ana Paula Ramos, de 28 anos, que veio acompanhada do marido, professor de yoga.

A percepção de quem já vem ao bloco há mais tempo é de este ano o PPK está mais tranquilo. No ano passado, o PPK optou por desfilar em Caeté e agora retorna a BH, abraçando a criação de um parque ecológico no Bairro Barreiro de Baixo. "Acho que as pessoas ficaram um pouco com pé atrás do PPK porque estavam indo muito longe. Este ano está maravilhoso, como nos primeiros anos", afirma a veterinária Teresa Lage, de 31 anos.

O bloco mostra que está voando alto e investiu numa estrutura profissional com duas kombis apoiando a sonorização, além do caminhão que já acompanha o PPK desde 2015. Realmente, é possível escutar a música mesmo distante do bloco e não há empurra-empurra.


MAIS SOBRE CARNAVAL