Paço do Frevo conta a história da música nascida no Recife

Espaço oferece exposições, aulas e oficinas com a missão de expandir atividades para além dos dias de carnaval

por Mariana Peixoto 11/02/2014 07:00

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Fotos: Lucas Oliveira/Divulgação
Estandartes forram o chão do Paço do Frevo, inaugurado no domingo emPernambuco (foto: Fotos: Lucas Oliveira/Divulgação)
Recife – Arnoldo Medeiros, Eucário Barbosa e Zé Calixto. Esses nomes não dizem muito a quem não conhece a história de Pernambuco, tampouco se interessa por música popular. Mas Caetano Veloso, Lenine e Guerra-Peixe dispensam apresentações. Pois esses seis artistas se juntam a um punhado de outros para recepcionar o visitante que adentra o Paço do Frevo, inaugurado domingo, no Recife Antigo. Há dois anos, o gênero musical foi declarado Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco.













A trajetória de pouco mais de 100 anos é revelada no espaço onde funcionou, até 1973, a Western Telegraph Company, pioneira na implantação do telégrafo no Brasil. O edifício na Praça do Arsenal da Marinha, bem em frente à Torre Malakoff, tem a função não apenas de guardar a memória do gênero musical, mas, principalmente, de difundi-lo. Iniciativa da Prefeitura do Recife em parceria com a Fundação Roberto Marinho, o Paço do Frevo recebeu investimento de R$ 13,2 milhões.

“A primeira grande dificuldade foi trazer o frevo para um espaço fechado”, explica Bia Lessa, que assina a museografia do projeto. Ciente de que essa música pertence às ruas, a curadora buscou uma relação direta com o Recife. “Derrubamos paredes, abrimos as janelas para que de fato a cidade pudesse estar aqui dentro”, afirma ela.
Fotos: Lucas Oliveira/Divulgação
Fundador do bloco Eu Acho é Pouco, Ivaldevan Calheiros deixa o seu recado (foto: Fotos: Lucas Oliveira/Divulgação)

Ao entrar no prédio, o visitante encontra um salão vermelho. Ali estão os nomes de Arnoldo Medeiros, Eucário Barbosa, Calixto, Caetano Veloso, Lenine e Guerra-Peixe ao lado de centenas de outros. Veem-se paredes cobertas de refrões, citações e narrativas em torno do frevo. Um corredor estreito traz fotografias de Pierre Verger que remetem às multidões se espremendo nas ruelas de Olinda “frevendo” durante o carnaval.

“A ideia de movimento era fundamental, pois frevo é um movimento que se transforma”, continua Bia Lessa. Na principal sala do térreo, uma linha temporal conta, partir de 1900, fatos marcantes da história do gênero musical pernambucano. A narrativa pede a participação do visitante. Imensas lousas permitem ao público escrever a sua própria história com giz. Já na inauguração, elas exibiam muitos relatos.

No espaço para exposições temporárias está em cartaz São José – Territórios do frevo, que recria a Região Central do Recife, onde o gênero nasceu. No último pavimento fica a menina dos olhos de Bia Lessa. “É a nossa grande catedral”, afirma ela sobre o andar sem paredes, que encanta os olhos. Também em vermelho, o espaço joga com a ideia do sagrado e do profano.

Estandartes e flabelos foram colocados no chão sobre serragem colorida. “É como um grande tapete sagrado, mas ele está sendo profanado, pois você tira o estandarte, que vem sempre à frente, e o coloca no chão de maneira que as pessoas estejam em cima dele”, explica Bia Lessa. O teto foi recoberto por milhares de bonequinhos vermelhos, lembrando multidões mobilizadas pelo frevo. Dela fazem parte Arnoldo Medeiros (letrista e compositor carioca), Eucário Barbosa (conhecido como autor de Menino bom) e Zé Calixto – sanfoneiro paraibano radicado no Rio de Janeiro, parceiro de Jackson do Pandeiro e chamado de Rei dos Oito Baixos.

Juntos na música, cada um à sua maneira, e eternizados no frevo.

Hora de avançar

FLÁVIO LAMENHA/DIVULGAÇÃO
(foto: FLÁVIO LAMENHA/DIVULGAÇÃO)
O carnaval é o maior companheiro do frevo, mas também seu algoz. A ideia central do paço é desvincular o gênero musical pernambucano da folia. Mesmo que tenha seu auge na festa, ele é tocado ao longo do ano – ainda assim, restrito a Pernambuco, “ao contrário do samba, um gênero transregional”, comenta o músico Antônio Nóbrega. “Aqui, oferece-se um olhar um pouco mais avançado sobre o frevo”, acrescenta ele.

O espaço vai funcionar também como escola, contando com salas de aula e estúdio, onde os alunos gravarão frevos que serão veiculados numa web radio. Há cursos de dança, adereços e maquiagem. “Vamos oferecer de oficinas pequenas a cursos longos. Teremos a documentação disso para que o processo faça parte da história do próprio frevo”, comenta Vilma Guimarães, gerente de Educação da Fundação Roberto Marinho.

O maestro Spok, da SpokFrevo Orquestra, começa a dar aulas em março. “A sazonalidade é o grande problema”, afirma ele, referindo-se à concentração de atividades no período carnavalesco. Montada há pouco mais de uma década, sua big band quebrou paradigmas. Referência na música instrumental, ela se apresenta durante todo o ano tanto no Brasil quanto no exterior. Em outubro, Spok vai tocar no Lincoln Center, em Nova York, o palco sagrado do jazz.

“Frevo não tem escola, pois nasce na rua. Sempre sonhei com um espaço para lapidar a técnica dessa música”, diz Spok. Ariano Suassuna completa: “O Paço do Frevo muda a situação, porque agora as pessoas têm como compreender manifestação cultural tão importante.”

* A repórter viajou a convite da Fundação Roberto Marinho


PAÇO DO FREVO
Praça do Arsenal da Marinha, Bairro do Recife, (81) 3355-9500. Terça, quarta e sexta-feira, das 9h às 18h; quinta-feira, das 9h às 21h; sábado e domingo, das 12h às 19h.
Ingressos: R$ 6 e R$ 3 (meia).
Informações no site do Paço do Frevo

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