Uai Entretenimento

Mãe coragem

Elza Soares e Zeca Camargo lançam biografia da cantora em BH

- Foto: Em longas e numerosas conversas, Elza Soares revelou detalhes de sua vida ao jornalista e amigo Zeca Camargo. Os encontros, aliados à intensa pesquisa e entrevistas com pessoas próximas da artista, deram origem ao livro Elza, que a dupla vai autografar nesta segunda-feira (3), em Belo Horizonte.


Além de fatos conhecidos do público – como a vitorista trajetória profissional da carioca, eleita pela BBC a melhor cantora do milênio, e seu conturbado casamento com o craque Mané Garrincha (1933-1983) –, o livro revela outras facetas da estrela da MPB.


“Elza é extremamente maternal e carinhosa. É o que se observa de sua história com Garrincha, de sua relação com os filhos, os funcionários e também com este biógrafo”, diz Zeca Camargo. “Mesmo na fase próspera que atravessa atualmente, ela se sente feliz pelo simples fato de ter comida na mesa para os filhos. Essa preocupação, ainda hoje, remonta à culpa por saber que os criou de maneira precária, mesmo ciente de que era o máximo que poderia oferecer”, conta o jornalista.


“Elza nunca ficou livre, nem nos bons nem nos maus momentos, da obsessão de ser a provedora dos filhos”, conta Zeca. Um dos episódios mais tristes da vida da artista foi a morte de Garrinchinha, filho dela com o craque do Botafogo. Em 1976, o menino, de 9 anos, sofreu um acidente de carro. Antes de ser famosa, a cantora já havia perdido dois bebês, vítimas de desnutrição.

FEMINISTA Mais que a biografia de uma das artistas mais importantes do país, o livro retrata a intimidade de um ícone do movimento feminista e da luta dos negros brasileiros contra a discriminação e a exclusão social.

Escrever sobre figura tão grandiosa não intimidou o biógrafo. “Encarei o projeto com certa naturalidade, porque o convite partiu da própria Elza. Sempre tive a certeza de que caso ela não se sentisse representada na minha escrita, não teria o menor problema em me dispensar”, diverte-se Zeca.


O jornalista se admira com a postura da cantora diante do racismo. Conta que, na infância, Elza não via problema em não poder entrar nas casas de patrões da mãe, lavadeira. Era obrigada a almoçar do lado de fora dessas residências. Quando passou a cantar em clubes, enfrentou a rejeição de contratantes, que não admitiam negros no palco. “O desenvolvimento dessa consciência foi muito orgânico.

Aos poucos, Elza foi entendendo o significado do racismo e descobrindo sua maneira de lidar com isso”, observa o jornalista.

MARIELLE “Que coisa... Elzinha, 80 anos, ainda incomoda muita gente”, disse a cantora a Zeca, ao comentar a repercussão de uma de suas entrevistas, com declarações a respeito da execução da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), no Rio de Janeiro. Essa manifestação lhe rendeu ofensas e ameaças nas redes sociais. O episódio é citado no capítulo final do livro.

 

“Para Elza, é um orgulho incomodar e ver que sua fala ainda tem repercussão. Quis encerrar o livro justamente com as ideias dela, a forma como ela vê o mundo à sua volta. Mesmo nas últimas conversas, Elza não deixava de surpreender a mim, como biógrafo, e nunca deixará de surpreender qualquer leitor”, garante Zeca Camargo.

 

ELZA
l De Zeca Camargo
l Editora Leya
l 400 páginas
l R$ 54,90 e R$ 41,99 (digital)
l Lançamento e sessão e autógrafos nesta segunda-feira (3), a partir das 19h, na Livraria Leitura o Pátio Savassi. Avenida
do Contorno, 6.061, avassi. Informações: 31) 3288-3800

.