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Lei eleitoral foi aplicada a campanha de personagem de novela na década de 1970

Lauro César Muniz foi o autor da história que sofreu com o que determinava a medida, que levou nome de ministro

Reprodução/TV Globo Reprodução/TV Globo
Redação - Observatório da TV clock 26/08/2022 23:08
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Em 1976, uma lei que acabou conhecida pelo nome do então ministro da Justiça, Armando Falcão, obrigou a propaganda eleitoral a seguir um formato bastante diferente daquele ao qual estamos acostumados. Eram os tempos da Lei Falcão.

Ao contrário dos programetes com biografia, feitos e promessas dos candidatos a cargos do Executivo e do Legislativo, como mais uma vez a TV começou a levar ao ar por força de lei nesta sexta-feira (26), para a campanha eleitoral de 1976 a Lei Falcão determinou que fossem mostrados apenas número, partido e foto dos candidatos, e um breve resumo de sua biografia fosse narrado em off. Em 1978, por exemplo, alguns dos candidatos a deputado federal pelo Rio de Janeiro eram mostrados assim:

Outro exemplo desse tipo de horário eleitoral, com candidatos ao governo do Rio de Janeiro e ao Senado pelo estado na campanha de 1982, já um pouco mais abrangente e 'livre', mas ainda sob a Lei Falcão, pode ser visto no vídeo abaixo:

Nem as novelas escaparam do crivo da Lei Falcão. Já no próprio ano de 1976, a atração da faixa das 20h, O Casarão, mereceu atenção dos censores nesse sentido.

Na edição de 17 de novembro de 1976 da revista Amiga, o novelista Lauro César Muniz, autor de O Casarão, falou das dificuldades causadas pela ação da Censura:

'Não foi permitido mostrar que Lina usava anticoncepcionais; (...) foram enfraquecidos os personagens de Marcelo Picchi (Aldo, candidato a vereador de Tangará), Nilson Condé (o padre Milton) e Bete Mendes (a jornalista Vânia): os comícios do candidato Aldo não puderam ser levados ao ar e foi reduzida a participação do padre e da jornalista na campanha política', disse Lauro à publicação da Editora Bloch.

Ainda que integrasse uma obra de ficção, Aldo foi 'enquadrado' na Lei Falcão, e sua campanha à Câmara de Vereadores de Tangará foi prejudicada, bem como a própria trajetória do personagem. Não deixa de ser curioso que a Censura tenha se ocupado desse tema, quando em geral temas de costumes e que envolvessem romance e sexo eram mais visados.

Ainda que não tenha envolvido política, outro caso emblemático de ação curiosa da Censura sobre as novelas ocorreu em 1972, com Selva de Pedra, de Janete Clair. O público sabia que Simone (Regina Duarte) havia sobrevivido a um acidente de automóvel, mas quase todos os personagens da novela desconheciam o fato. Especialmente seu marido, Cristiano (Francisco Cuoco).

Acreditando-se viúvo, o rapaz tencionava casar-se novamente, agora com Fernanda (Dina Sfat), sócia de seu tio, Aristides (Gilberto Martinho), num estaleiro. Mas a Censura impediu que o casamento se concretizasse, sob a alegação de que o fato representaria um incentivo à bigamia entre o vasto público da produção.

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