Exposição "Mau Olhado bem olhado"

DATA

  • 10/03/2020 à 26/04/2020

LOCAL / INFO

PREÇOS

  • Entrada Franca

Exposição aborda a relação entre as diferentes camadas sociais do país, o lugar que os corpos negros ocupam na sociedade e como essas questões influenciam a construção da relação a dois

Refletir sobre a afirmação e a resistência do negro, além de ressignificar seu papel social e suas relações são as propostas da nova exposição da Casa Fiat de Cultura&ldquoMau Olhado Bem Olhado II&rdquo, dos artistas Janaína Barros Wagner Leite Viana está em cartaz na Piccola Galleria, de 10 de março 26 de abril. A mostra apresenta obras, que entrelaçam objetos, vestimentas, vídeos, fotografias e áudio, sempre destacando o olhar dos próprios artistas sobre o seu trabalho em diálogo com o olhar do público.

As instalações podem ser vistas a partir de duas perspectivas. Uma macro, que aborda o racismo e a violência que impactam a  população  negra no Brasil, bem como a relação entre as diferentes camadas sociais existentes no país. E outra micro, que aborda a construção de uma relação entre duas pessoas, com seus afetos, cumplicidade, violências coloniaisforça, reciprocidade e peculiaridades.

Os artistas explicam que &ldquoMau Olhado Bem Olhado II&rdquo é um processo construído desde 2011, a partir da experiência do casal com performance, vídeo e outras formas de registro e que nasceu com um carimbo de olho &ndash hoje permeado na mostra por meio de uma estampa. &ldquoO olhar é uma temática importante em nosso trabalho. Entendemos que, seja qual for a natureza e a intencionalidade do olhar, é possível desvelar formas de assimetrias e simetrias nas relações&rdquo, destaca Janaína Barros, ao falar sobre a estampa que estará presente na peça gráfica &ldquoCântico das Paixões&rdquo &ndash um livreto que constituí de um mapa, que traz um código escaneável, e na instalação &ldquoOlhar e ser visto&rdquo &ndash um vestido com áudio que descreve um roteiro com uma ação executada por um homem e uma mulher.

&ldquoA vestimenta evoca um possível corpo que o ocupa e nos faz pensar especialmente em corpos negros, considerando a nossa própria racialidade enquanto artistas e enquanto casal&rdquo, pontua Wagner Leite Viana. &ldquoE é impossível pensar em corpo sem pensar em carne. E, nesse caso, pensar no sacrifício da carne e dos corpos negros em toda a nossa história&rdquo, completa.

Para o crítico, Leonardo Araujo Beserra, que é membro do Grupo de Críticos do Centro Cultural de São Paulo, &ldquoMau Olhado Bem Olhado II&rdquo compartilha as violências históricas e contemporâneas de maus olhados que esses corpos pretos sofrem e sofreram, no momento em que são capturados pelo olhar, mesmo que com intenção atenciosa. &ldquoA exposição é resultado de um processo, por meio de ações criadas a partir de vestígios do próprio casal, atravessado pelo corpo negro e seus afetos. Os trabalhos são circundados por assuntos da subjetividade política racial preta e geram metáforas a quem os imagina em trânsito. São bem olhados por meio da cocriação do espectador, mas foram produzidos antes por conta de mau olhados sociais&rdquo, reflete.

A mostra &ldquoMau Olhado Bem Olhado II&rdquo integra o ciclo de exposições do 3º Programa de Seleção da Piccola Galleria, da Casa Fiat de Cultura para 2019/2020 e é uma realização do Ministério da Cidadania, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, e da Casa Fiat de Cultura, com o patrocínio da Fiat Chrysler Automóveis (FCA), Fiat Chrysler Finanças e Banco Safra. A exposição conta com apoio institucional do Circuito Liberdade, Instituto Estadual do Patrimônio Histórico (Iepha), Governo de Minas e Governo Federal.

Sobre as obras

A exposição &ldquoMau Olhado Bem Olhado II&rdquo é composta por cinco obras, desenvolvidas em conjunto pelos artistas em um processo criativo pensado a partir da construção de histórias. Os trabalhos são desenvolvidos no ateliê de Janaína e Wagner, que produzem os vestuários e objetos. Já as performances são gravadas em locações externas.

A primeira instalação é &ldquoRelação é depois de comer juntos um quilo de sal em pratos bem temperados&rdquo. Composta por um vestuário masculino e um feminino, uma mesa, dois tamboretes e um prato com 1 kg de sal com dois guardanapos, ela aborda a complexidade das relações e faz analogia a uma relação amadurecida, já que se leva tempo para comer 1 quilo de sal. E para se comer bem é preciso equilíbrio, já que sal demais é insuportável, e sem tempero a comida fica insossa.

Já a segunda instalação&ldquoAprumar-se&rdquo, apresenta seis fotografias e um objeto (uma pedra presa a um galho com uma forquilha em uma das extremidades&rdquo e refere-se ao que devemos e podemos fazer juntos, já que o objeto só é efetivo com a ação de duas pessoas sincronizadas.

 

A terceira instalação, intitulada &ldquoOs Cânticos das Paixões&rdquo, é constituída de um mapa, que traz um código escaneável, mostrando pontos em Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro construídos em cima de cemitérios, evocando a presença de corpos negros nessas cidades.

&ldquoOlhar e ser visto&rdquo é um vestido com áudio que provoca uma ideia de interatividade e reflexão, para que o espectador desenvolva uma relação com as peças e sinta como se o roteiro descrito no áudio pudesse ser vivido por ele.&ldquoTodo nosso trabalho é pensar nisso, como vamos construindo as histórias, as escritas, as narrativas aos poucos. Isso é pensar que um alimento muitas vezes precisa ser dosado, assim são as relações. Isso traz muitas vezes também questões outras&rdquo, explica Janaína.

Para encerrar, o vídeo performance &ldquoCântico da Paixão de Cláudia&rdquo parte da história de Cláudia Ferreira, vítima de uma operação policial em 2014, que foi baleada e arrastada por um carro, no Rio de Janeiro, por 350 metros. A obra reflete sobre o genocídio, mostrando que ele não ficou no passado e se perpetua no presente de diferentes maneiras. &ldquoQueremos questionar como essas relações entre camadas sociais são tecidos&rdquo, salienta Wagner.

 

Janaína Barros e Wagner Leite Viana

Janaína e Wagner atuam como artistas, pesquisadores e professores.Desenvolvem uma série de pesquisas artísticas, educativas e acadêmicas partindo de um campo de referências como exercício coletivo de conhecimentos articulados no enfrentamento contra a negação de enunciações e narrativas hegemônicas, afirmando o corpo negro, seus afetos, políticas e políticas. Sobretudo as alianças afetivas entre mulheres e homens interrompendo os regimes de autorização discursiva sobre os corpos problematizando os lugares de libertação de linguagem por meio de processos de criação, práticas educativas e condutas de pesquisa.

 

Janaína Barros é professora adjunta na Escola de Belas Artes da UFMG, pós-doutora pelo programa de pós-graduação da Escola de Ciência e da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) doutora pela programa de pós-graduação Interunidades em Estética e História da Arte pelo Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP) mestre em Artes pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Também é especialista em Linguagens Visuais pela Faculdade de Santa Marcelina e graduada em Educação Artística com habilitação em Artes Plásticas pela Unesp. Possui publicações sobre o debate de autoria negra e gênero na arte brasileira contemporânea.

 

Wagner Leite Viana é professor adjunto na Escola de Belas Artes da UFMG e tem experiência na área de arte e educação, com ênfase em práticas de educação e processos artísticos e epistemologias, educação para as relações étnico-raciais e educação ambiental. Atualmente desenvolve os seguintes projetos de pesquisa: &ldquoAscendência, Afrobrasilidades e Autorias: Prática poética e educativa&rdquo e &ldquoPoéticas da natureza inscritas nas disputas e nas negociações do retrato e do corpo afro indígena como paisagem articulada pela memória ambiental&rdquo.

 

Performance de abertura &ndash Oração sobre nossas águas

 

Para marcar a abertura da exposição &ldquoMau Olhado Bem Olhado II&rdquo, os artistas Janaína e Wagner realizarão uma performance especial, no dia 10 de março, às 19h, no hall da Casa Fiat de Cultura. Intitulada &ldquoOração sobre nossas águas&rdquo, a videoperformance apresenta os corpos feminino e masculino negros em uma interação que reflete os afetos e sua dimensão política na formação da família negra em diáspora. Uma projeção no videowall complementa a apresentação, que tem classificação indicativa de 14 anos.

 

Piccola Galleria

O espaço é destinado a artistas da cena contemporânea e foi criado em 2016 com o intuito de incentivar a produção nacional e internacional. Os artistas são selecionados por uma comissão de especialistas que, nesta edição de 2019, foi integrada pelo curador Marconi Drummond, pela artista plástica Nydia Negromonte e pelo arquiteto Paulo Waisberg. A proposta é apresentar e destacar trabalhos inéditos &ndash pinturas, desenhos, gravuras, esculturas, fotografias, instalações, performances e/ou videoarte &ndash de artistas locais, brasileiros ou estrangeiros.

Em três programas de seleção, a Piccola Galleria recebeu 207 inscrições e, entre 2016 e 2019, já apresentou o trabalho de 15 artistas, 242 obras de arte e recebeu mais de 160 mil visitantes. A sala expositiva é um ambiente dedicado às artes visuais e sua criação marcou os 10 anos da Casa Fiat de Cultura. Situado ao lado do painel &ldquoCivilização Mineira&rdquo, de Candido Portinari, no hall principal da Casa Fiat de Cultura, o espaço é destinado a exposições de curta duração, mas com toda a visibilidade que a instituição enseja. Local intimista e com grande circulação de público, conta com a chancela da Casa Fiat de Cultura e do Circuito Liberdade, um dos mais importantes corredores culturais do país.

Seis artistas foram escolhidos no 3º Programa de Seleção da Piccola Galleria. A exposição PULSA, de Avilmar Maia, &ldquoInventário&rdquo (Luiza Nobel), &ldquoTudo é Eco no Universo&rdquo (Augusto Fonseca), &ldquoSagoma&rdquo (Henrique Detomi) e &ldquoMau olhado &ndash bem olhado&rdquo (Janaína Barros e   Wagner Leite Viana).

Casa Fiat de Cultura

A Casa Fiat de Cultura cumpre importante papel na transformação do cenário cultural brasileiro, ao realizar prestigiadas exposições.A programação estimula a reflexão e interação do público com várias linguagens e movimentos artísticos, desdea arte clássica até a arte digital e contemporânea. Por meio do Programa Educativo,a instituição articula ações para ampliar a acessibilidadeàs exposições, desenvolvendoréplicas de obras de arte em 3D, materiais em brailee atendimento em libras. Mais de 50 mostras, de consagrados artistas brasileiros e internacionais, já foram expostas na Casa Fiat de Cultura, entre os quais Caravaggio, Rodin, Chagall, Tarsila, Portinari entre outros. Há 14 anos, o espaço apresenta uma programação diversificada, com música, palestras, residência artística, além do Ateliê Aberto &ndash espaço de experimentação artística &ndash e de programas de visitas com abordagem voltada para a valorização do patrimônio cultural e artístico. A Casa Fiat de Cultura é situada no histórico edifício do Palácio dos Despachos e apresenta, em caráter permanente, o painel de Portinari, Civilização Mineira, de 1959. O espaço integra um dos mais expressivos corredores culturais do país, o Circuito Liberdade, em Belo Horizonte. Mais de 2,7 milhões de pessoas já visitaram suas exposições e 550 mil participaram de suas atividades educativas.

Atividades educativas

O Programa Educativo da Casa Fiat de Cultura preparou algumas ações para aprofundar a reflexão sobre o tema da exposição. As visitas mediadas serão realizadas a partir de dois eixos temáticos. O primeiro será baseado na afirmação e resistência dos negros e vai abordar tópicos como racismo, desigualdade e a percepção sobre a população negra no Brasil. Já o segundo eixo temático abordará as relações pessoais, discutindo suas complexidades e necessidades.

O Encontros com Patrimônio de março, &ldquoCapoeira Angola: resistência, identidade e diversidade cultural&rdquo, vai levar os participantes a uma roda de capoeira, destacando a prática como uma forma de diversidade cultural. O evento será realizado no dia 22 de março, com inscrições pela Sympla.

Já o Ateliê Aberto de março trará o tema &ldquoFotoperformance: corpo, espaço e movimento&rdquo, trabalhando o corpo como um elemento plástico. A ideia é criar peças que poderão ser compartilhadas em redes sociais e explorar o movimento enquanto ferramenta de expressão. A foto será abordada como veículo de produção artística. As atividades serão realizadas aos sábados, domingos e feriados em dois horários: às 10h30 e às 14h.

 

SERVIÇO

Exposição Mau Olhado Bem Olhado II &ndashJanaína Barros e Wagner Leite Viana na PiccolaGalleria da Casa Fiat de Cultura                                                                                                                                                      

10 de março a 26 de abril

Terça a sexta, das 10h às 21h sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h

Entrada gratuita

 

Atividades Educativas

Encontros com Patrimônio &ndash Capoeira Angola: resistência, identidade e diversidade cultural

22 de março

Domingo, das 10h às 13h

Ponto de encontro: Hall da Casa Fiat de Cultura

Vagas limitadas, com inscrições pela Sympla

 

Ateliê Aberto &ndash Fotoperformance: corpo, espaço e movimento

29 de fevereiro a 29 de março

Sábados, domingos e feriados, às 10h30 e às 14h

 

Casa Fiat de Cultura

Circuito Liberdade

Praça da Liberdade, 10 &ndash Funcionários &ndash BH/MG

Horário de funcionamento: terça a sexta, das 10h às 21h &ndash Sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h

 

Informações

(31) 3289-8900

www.casafiatdecultura.com.br

casafiat@fcagroup.com

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Instagram: @casafiatdecultura

Twitter: @casafiat

www.circuitoculturalliberdade.com.br

 

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