Aproveitar o carnaval com alegria e responsabilidade é fundamental para não perder o pique

Da mesma maneira que as pessoas se organizam para levar bebidas alcoólicas para a folia, devem se programar para levar alguns alimentos que possam suprir necessidade de energia

por Lilian Monteiro 26/02/2017 11:35
Há foliões que não se aguentam e já entram no ritmo da festa de Momo ainda no pré-carnaval. Mas o calendário oficial da diversão começou ontem e hoje ainda dá tempo de prestar atenção em regras importantes para curtir toda a alegria sem se arrepender depois. São atitude fáceis que não o impedirão de aproveitar a folia. Pelo contrário, darão a você mais energia para curtir cada bloco. Prepare-se bem para não perder o pique.

A professora de nutrição do Centro Universitário Estácio de Belo Horizonte Flávia Noujeimi compartilha orientações preciosas para ninguém se descuidar da saúde durante e depois da festa de Momo. “Não podemos esquecer que um dia de carnaval é como um longo episódio de atividade física. Além do desgaste corporal pelo exercício, ainda há o desgaste pela metabolização do álcool no corpo. Por isso, alimentação correta e boa hidratação são regras para evitar a ressaca. Deve-se, portanto, ter atenção aos alimentos ingeridos antes, durante e depois da farra.”

Ela alerta que é de extrema importância a ingestão de carboidratos pelo menos uma hora antes do consumo de bebidas alcoólicas. Se for demorar mais do que três horas para uma próxima refeição, dê preferência aos carboidratos integrais, que vão ajudar a repor as energias e fornecerão glicose de maneira mais lenta para a corrente sanguínea, o que aumenta o período de saciedade. “As frutas são bem-vindas, como banana, maçã, manga, mamão e maracujá, ricas em potássio e vitaminas C e A, que ajudam a desintoxicar o fígado”, diz.

O folião não vai deixar de acompanhar o bloco para seguir as principais refeições. Mas também não dá para se alimentar só de alegria. Flávia Noujeimi entende que os horários ficam bagunçados durante o carnaval e as pessoas não fazem as refeições nos horários convencionais. “Portanto, o importante é ter uma refeição completa assim que acordar, contendo pelo menos um carboidrato e uma proteína. Como pão integral com ovos mexidos. E depois, coma algo a cada três horas. No final da folia, nunca durma de estômago vazio, é importante que o organismo tenha energia e nutrientes para metabolizar o álcool e uma hipoglicemia. Antes de dormir, coma algum alimento leve, evite comidas muito pesadas, ou seja, muito gordurosas, para poupar o fígado, que já está tendo trabalho com o álcool.”

HIDRATAÇÃO A professora alerta sobre a hidratação e recomenda o consumo moderado de álcool. “O ideal é para cada um ou dois copos de bebida alcoólica, ingerirmos um de água. O álcool gera desidratação e pode ser uma das causas da dor de cabeça no dia seguinte.” Flávia recomenda sucos com hortelã, couve, abacaxi, morango ou limão que ajudam a aliviar o desconforto gástrico porque apresentam nutrientes chamados desintoxicantes e podem auxiliar no processo de metabolização do álcool pelo fígado.

Como estamos no verão, temperaturas altas e muito calor em Beagá, Flávia Noujeimi lembra que se você passar muito tempo no sol e transpirar bastante, uma opção são os isotônicos, que ajudam a repor os sais mineiras de maneira rápida, assim como a água de coco, que é um excelente repositor de líquidos e sais minerais.
Túlio Santos/EM/D.A Press
Flávia Noujeimi, professora de nutrição da Estácio BH (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press )

Pode não ser tão prático, mas a professora de nutrição do Centro Universitário Estácio de Belo Horizonte Flávia Noujeimi lembra que é legal e saudável levar algum alimento para a folia. “Sem dúvida. O ideal é sempre pensar que, para sobrecarregar menos o nosso metabolismo, devemos comer de três em três horas. Claro que, durante o carnaval, esses intervalos podem se estender um pouco, mas o ideal é comer algo. Levar para a folia alimentos que caibam no bolso, na mochila ou na própria caixa de isopor em que está a bebida. Da mesma maneira que as pessoas se organizam para levar bebidas alcoólicas, também devem se organizar para levar alguns alimentos. Atenção aos alimentos perecíveis, como iogurte, maionese e frutas já picadas, que sem a refrigeração adequada podem resultar em intoxicação alimentar.”

Para muitos profissionais, o ideal é se alimentar de três em três horas. Posição controversa, já que quem é contrário argumenta que cada pessoa tem um metabolismo diferente. “Quando falamos de alimentação, nunca existirá apenas um caminho. O metabolismo é adaptável, por isso a intenção é fornecer nutrientes que minimizem os efeitos negativos do álcool, da desidratação, do menor tempo de sono. Com isso, a alimentação será a grande aliada. Realizar uma refeição completa antes de ir pra folia, ou pelo menos uma hora antes do início da ingestão de bebidas alcoólicas, pode ajudar a minimizar os efeitos negativos. Comer enquanto curte a farra ajuda, então, sempre que possível, evite grandes intervalos”, avisa a nutricionista.

E se você é daqueles que têm muita fome, mas não quer saber de levar nada para curtir os blocos, tenha cuidado com o que vai consumir. Comida de rua pode ser uma delícia, mas também uma armadilha. O risco de surpresas desagradáveis é real. Portanto, Flávia Noujeimi recomenda observar sempre dois pontos que já auxiliam muito na escolha: primeiro, os ingredientes usados, tendo o cuidado com os alimentos muito perecíveis. Segundo, a refrigeração, ou seja, como está sendo feita a conservação daquele alimento, se está na temperatura de armazenamento adequada.

HORA DO DETOX Tudo que é bom, acaba. Já pensando no fim da folia, é bom ter em mente passar por um processo de detox. Nada radical, mas encontrar um equilíbrio alimentar e de descanso para recuperar o organismo e o corpo. Flávia Noujeimi explica que “a intenção de ingerir alimentos chamados 'detox' é desintoxicar de certa maneira o corpo. Existem alimentos ricos em vitaminas e minerais com ação antioxidante, ou seja, combatem radicais livres que podem ser lesivos às nossas células. Tais radicais livres podem ter sua produção aumentada com a prática de atividades físicas, o consumo de álcool, substâncias químicas etc. O carnaval acaba funcionando como uma prática de atividade física, já que as pessoas caminham mais, dançam, ingerem mais bebidas alcoólicas, ficam com a alimentação mais desregulada. Por isso, o ideal é optar por alimentos que protejam o metabolismo e as células, porque todo o corpo fica sobrecarregado, principalmente o fígado”.

A nutricinista recomenda priorizar alimentos que contenham nutrientes antioxidantes, aqueles ricos em vitaminas C e E, betacaroteno, selênio e zinco. Dessa maneira, alguns alimentos interessantes a serem ingeridos durante e após a folia seriam as frutas cítricas (limão, laranja, abacaxi, acerola) e vegetais e frutas com cor laranja (mamão, cenoura, manga), castanhas, nozes, amendoim, semente de girassol, grãos integrais, carnes magras, frango e ovo.

GUIA DO FOLIÃO

Confira as orientações do diretor e cardiologista do Hospital Santa Paula (SP), Otávio Gebara
1 – Evite a ingestão de alimentos pesados, que dificultem a digestão. Dê preferência para as frutas e verduras

2 – Hidrate-se de duas em duas horas: o recomendado é ingerir no mínimo dois litros de água por dia (exceto pacientes com restrições médicas)

3 – Beba moderadamente: o consumo excessivo de álcool ou a mistura de destilados com fermentados pode acabar com a festa e causar ressaca no dia seguinte. Em casos extremos, é possível desenvolver pancreatite em apenas um dia de muito excesso por causar um edema que impede a drenagem do pâncreas

4 – Sempre tenha em mãos barrinhas de cereais para garantir a alimentação de duas em duas horas

5 – Cuidado com o calor excessivo: em dias muito quentes a tendência é a pressão arterial cair, o que pode ocasionar enjoo, tontura e desmaios. Para evitar a queda de pressão, é preciso manter o corpo hidratado, alimentar-se adequadamente, vestir roupas leves e evitar ambientes pouco ventilados

6 – Beijo na boca: normalmente, trocamos em torno de 250 bactérias e alguns vírus quando beijamos alguém. Portanto, é preciso ter cautela para prevenir doenças como a mononucleose, conhecida como “doença do beijo”. Trata-se de uma doença viral com sintomas parecidos com os da gripe: febre alta, dor ao engolir, tosse, cansaço, falta de apetite, dor de cabeça, entre outros

7 – Doenças sexualmente transmissíveis: todo ano, o Ministério da Saúde faz uma campanha sobre a importância do uso da camisinha neste período. A camisinha é item fundamental do folião consciente

Na avenida:

» Salto alto: ficar em pé por muitas horas sambando de salto alto pode ocasionar dor nas pernas e na planta dos pés, câimbras, inchaço nos pés, joanete, calos, problemas nas unhas, entre outros. Para evitar esses problemas, procure usar um salto com a base e o bico mais largos, assim os dedos não ficam apertados. Já para o dia seguinte, o conselho é ficar com as pernas esticadas

» Xixi: algumas fantasias dificultam a ida ao banheiro. Como muitos foliões ficam horas preparados para entrar na avenida, a dica é ir ao banheiro antes de se vestir. Evite reter urina por longos períodos, porque, além do desconforto, favorece as infecções urinárias e formação de cálculos

» Durma bem: no dia seguinte, procure dormir pelo menos oito horas para reequilibrar o organismo

Nos blocos de rua:

» Proteja sua pele: o excesso de exposição ao sol é a principal causa do câncer de pele, o mais comum no país. Por esse motivo, o protetor solar deve fazer parte da rotina do folião, retocando a cada duas horas, assim como o uso de chapéus e camisetas

» Utilize calçados confortáveis: o ideal é usar tênis para proteger os pés e ter mais flexibilidade nos movimentos. Esse tipo de calçado amortece o impacto e é mais confortável. Afinal, você ficará em pé a maior parte do tempo

» Calor: para evitar insolação, hidrate-se pelo menos de duas em duas horas, use filtro solar e prefira as roupas com tecidos leves (evite tecidos do tipo sintético) e use chapéus ou bonés para uma maior sensação de conforto

» Álcool gel: como não é possível lavar as mãos em banheiros químicos, a chance de contaminação aumenta. Os contágios mais frequentes são de E.coli – que faz parte da flora natural do corpo. Porém, quando há um desequilíbrio, causa náusea, vômito e diarreia; e o vírus VHA, da hepatite A. Para se prevenir, tenha um álcool gel para higienização das mãos sempre que for ao banheiro
Érika Vassolér, dentista e consultora da Condor, dá dicas para evitar problemas bucais após a folia e curtir com segurança. “Muitos foliões deixam de lado os cuidados básicos neste período e, como estão mais expostos, podem ter problemas posteriormente.” Ela lembra que como o álcool tem efeito diurético, pode desidratar o corpo e reduzir o fluxo da saliva, deixando a boca mais seca. Esse cenário favorece a proliferação de micro-organismos que causam placa e mau hálito. E avisa que “o beijo é mais um fator de alerta. A boca é a porta de entrada para diversas doenças, como mononucleose, tuberculose, hepatite B e o vírus HPV. Por isso, é essencial que, mesmo na folia ou na viagem de carnaval, o folião se lembre de manter sua rotina de higiene bucal, além de tomar alguns cuidados complementares.

» Não esqueça de escovar os dentes pelo menos três vezes ao dia e utilizar o fio dental
» Em casos de lesões e feridas na boca, procure um profissional especializado para receber orientação adequada
» Evite beijar muitas pessoas em curto espaço de tempo. A troca exagerada de micro-organismos potencializa as chances de doenças
» Se ingerir bebidas alcoólicas, lembre-se de tomar bastante água. A hidratação evita o mau hálito e reduz as manchas nos dentes
» Se perceber que está com mau hálito, não substitua a escovação por balas ou chicletes. Essas opções provocam cáries e outros problemas bucais