Dilatador vaginal pode ajudar no tratamento do vaginismo

por Valéria Mendes 27/10/2016 13:30
 Dilatadores Absoloo / Divulgação
No Canadá, desde os anos 2000, já se usavam dilatadores para o tratamento do vaginismo (foto: Dilatadores Absoloo / Divulgação)
O vaginismo é uma disfunção sexual que se caracteriza pela contração involuntária da musculatura vaginal que impede a penetração. Ela pode ser parcial ou total e é desconhecida, inclusive, dos profissionais de saúde. Por essa razão, as mulheres que sofrem com o problema geralmente são taxadas de ‘neuróticas’ ou ‘difíceis de lidar’ já que algumas conseguem suportar, por exemplo, o exame ginecológico ou a relação sexual. Não sem dor. Para outras, entretanto, a penetração vaginal é impossível. “O vaginismo é medo inconsciente à penetração. É um círculo vicioso que tem início nesse medo. O medo gera a tensão diante da possibilidade de penetração e essa tensão aumenta a contração da musculatura. Assim, essa contratura leva à dor e a dor ao medo”, explica o ginecologista, sexólogo e membro da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), Gerson Lopes.

A incidência do vaginismo em mulheres com vida sexual ativa não é confiável, mas estimativas falam que o problema atinge entre 1% a 6% da população feminina. “Apesar de ser considerada rara, o que eu vejo em consultório é que o vaginismo é mais frequente do que a ausência de orgasmo. Mas a disfunção sexual mais comum em mulheres é a falta de desejo”, afirma o especialista.

Apesar de ser um bloqueio psíquico, o tratamento consiste na dessensibilização do terço externo da vagina. “As terapias são breves e em quase 100% dos casos é possível solucionar o problema”, explica Gerson Lopes. O tratamento sexológico ao invés de atacar o medo (que seria a abordagem psicológica do problema) ataca outras áreas do círculo vicioso. “Poderia-se tratar a tensão com medicação à base de ansiolítico, mas o mais eficaz é ensinar a mulher a dominar a musculatura do assoalho pélvico”, esclarece. A fisioterapia entra em cena com os exercícios para essa musculatura.  

Tratamento
No Canadá, desde os anos 2000, já se usavam dilatadores para o tratamento do vaginismo. No Brasil, o mais comum é a dessensibilização digital, em que a mulher usava os próprios dedos na tentativa de controlar a musculatura da vagina. “Começa inserindo um dedo sem movimento, seguido de um dedo com movimento, dois dedos sem movimento, dois dedos com movimento e por aí vai”, exemplifica.

Recentemente, os dilatadores vaginais chegaram ao mercado brasileiro e não precisam mais ser importados. Os produtos são feitos de silicone, possuem diversos tamanhos e são recomendados para expansão do canal vaginal, tratamento e relaxamento da musculatura da vagina. Os kits vendidos geralmente contém seis penetradores de superfície macia, lisa e de tamanhos graduados que variam de 1,2 cm a 4 cm de diâmetro e 6,5 cm a 14,5 cm de comprimento.

Para usar, as mulheres podem espalhar um gel lubrificante ao redor da ponta do dilatador e também na abertura da vagina. Com a musculatura relaxada, insira, aos poucos, o dilatador na vagina. Pode levar algum tempo (e prática) para a mulher aprender a inserir o acessório completamente. A progressão para outros tamanhos maiores podem levar dias ou semanas até que a mulher se sinta confortável. Após o uso, é importante lavar os objetos com água e sabão e guardá-los em ambiente arejado.

Segundo o sexólogo Gerson Lopes, a resistência a ideia de penetração é tão intensa que é comum as próprias pacientes boicotarem o tratamento.

Causas
O vaginismo é classificado como primário ou secundário. No primeiro caso, a mulher apresenta o problema já no início da vida sexual. Já o secundário é quando a disfunção aparece em algum momento da vida sexual.
 
As causas são variadas, mas de acordo com o sexólogo Gerson Lopes, as mais comuns são histórias de abuso sexual na infância ou adolescência, protocena (cena da relação sexual entre a mãe e o pai que uma criança observou), histórico de uma educação sexual rígida - seja moral, religiosa ou ambas -, negação à homossexualidade.

O especialista afirma que a iniciação sexual das mulheres com vaginismo acontece por volta dos 22 anos e que a ideia equivocada de que ‘tentando vai melhorar’ faz com que muitas delas tenham candidíase ou infecção de trato urinário recorrente, entre 10 e 12 episódios por ano.