90% dos seres humanos já tiveram algum contato com o HPV, diz pesquisador

Cresce a disseminação do papilomavírus humano, transmitido via prática sexual e ligado a alguns tumores, como cabeça e pescoço

por Cristiana Andrade 28/07/2015 14:15

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.
Valf
(foto: Valf)
É isso mesmo. Um vírus transmissível que pode causar câncer. Ele é silencioso e tem sua disseminação aumentada em todo o mundo. O papilomavírus humano (HPV) é passado, na maioria dos casos, via prática sexual, entre elas o sexo oral. Um dado alarmante dá a ideia da gravidade da transmissão do vírus: 90% das pessoas no planeta já tiveram algum contato com o HPV. “Desse universo, 95% se livram dele naturalmente e 5% desenvolvem algum tipo de câncer”, alertou o diretor de Pesquisa da Divisão de Oncologia Ginecológica da Universidade da Califórnia, Krishnansu Tewari, pesquisador-chefe do Grupo de Oncologia Ginecológica nos Estados Unidos, há 20 dias num evento para especialistas e jornalistas na Colômbia.

Para se ter ideia, antes mais comuns em homens com mais de 50 anos que fumavam e bebiam muito, os tumores de boca, faringe, laringe e amígdala, genericamente chamados de tumores de cabeça e pescoço, estão aparecendo em pessoas mais jovens, entre 30 e 45 anos, que não fumam e não bebem ou bebem pouco. Estudos do A. C. Camargo Cancer Center, em São Paulo, indicam que, se há 10 anos o HPV respondia por 25% dos casos de câncer de amígdala, um dos mais frequentes nessa região, agora está associado a 80% desses tumores. Hoje, Dia Mundial de Prevenção do Câncer de Cabeça e Pescoço, o superalerta vai para todas as pessoas sexualmente ativas: o fato de agora o HPV estar sendo associado a tumores nessa região do corpo se deve possivelmente ao mesmo motivo: práticas sexuais sem proteção e com muitos parceiros.

O tamanho da importância do câncer de cabeça e pescoço, pouco divulgado ainda, é revelado pela estimativa do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), que prevê 19 mil casos da doença para este ano. Na maioria das vezes, a doença ocorre em pessoas que consomem álcool e o tabaco em excesso. A desinformação também é um grave fator de risco. Tanto que 70% dos tumores são diagnosticados em fases avançadas, o que dificulta a chance de cura. “Isso provavelmente ocorre devido ao preconceito que circula em torno da doença por ter relação com uma doença sexualmente transmissível (DST), o HPV”, alerta o médico Rodrigo Melo, cirurgião oncológico do Cetus Hospital Dia.

Segundo Melo, a prática de sexo oral é uma das formas de transmissão do HPV, porém, para preveni-lo deve-se usar o preservativo, fazer uso de vacina – no Brasil, a rede pública vacina meninas de 9 a 13 anos –, evitar múltiplos parceiros e fazer exames preventivos com um ginecologista e um urologista. “Poucas pessoas usam preservativos para o sexo oral. O ideal é que ambos os sexos evitem múltiplos parceiros e, dependendo da situação, no caso de parceiros não estáveis, é recomendável evitar sim o sexo oral.”

De acordo com o oncologista, números do Ministério da Saúde indicam que o número de fumantes no Brasil caiu para 14,7% em 2014. “Esse índice era de 18,5% em 2008, conforme a Pesquisa Especial de Tabagismo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PETLab/IBGE), ou seja, a queda foi de 20,5%. O tabaco ainda é responsável por 90% dos casos de câncer de pulmão e o grande culpado por 30% da ocorrência de cânceres de boca, laringe, faringe, esôfago, estômago, pâncreas, fígado, rim, bexiga, colo de útero e leucemia”, indica Rodrigo Melo, que também alerta para o fato de o álcool apresentar grande risco para as pessoas. “Ele deveria estar entre os programas governamentais para ter seu consumo inibido. Além de ser fator de risco de diversas doenças, é um problema social e grande potencializador dos efeitos carcinogênicos do tabaco”, acrescenta.

MACHUCADO E ROUQUIDÃO Nem todos os tipos de HPV – que podem ser mais de 100 – levam ao câncer de cabeça e pescoço, sendo os de maior risco os tipos 16 e 18, igualmente descritos na literatura médica como sendo os mais nocivos para os casos de câncer de colo de útero. “O HPV genital feminino, por exemplo, pode levar mais de 10 anos para apresentar sintomas. Então, é preciso muito cuidado. Já os sintomas de tumores da orofaringe são variados e nem sempre levados a sério. Às vezes, são difíceis de ser vistos, mas causam mau hálito, dificuldade para deglutir, dor, rouquidão. Se ocorrer na cavidade oral, pode ser um machucado que não melhora ou até mesmo uma lesão elevada, friável e sangrante ao toque. Outros sinais são nódulos no pescoço e até mesmo dor no ouvido”, alerta. Segundo o oncologista do Cetus Hospital Dia, o exame físico é o maior aliado para a descoberta precoce de um tumor de cabeça e pescoço, às vezes identificado pelo próprio paciente ou em consulta de rotina com o dentista.

Para o oncologista Luiz Flávio Coutinho, do Oncocentro Minas Gerais, apesar de o câncer de cabeça e pescoço estar aumentando nas estatísticas nacionais, a boa notícia é que ele pode ser evitado adotando medidas saudáveis na rotina. “Evitar bebidas alcoólicas, parar de fumar, manter uma boa alimentação, rica principalmente em alimentos naturais como frutas, verduras e legumes, beber muita água, dormir bem, fazer atividades físicas diária, ter momentos de lazer com a família e os amigos, retirar o excesso de sal e de açúcar da alimentação e buscar viver a vida com otimismo são fatores fundamentais para aumentar a expectativa de vida e a saúde integral das pessoas, prevenindo muitas doenças, inclusive o câncer.”

ALERTA TOTAL
» 90% da população mundial já teve algum contato com o HPV. Desse universo, 95% se livram dele naturalmente e 5% desenvolveram ou vão desenvolver algum tipo de câncer

» Há uma década, o HPV respondia por 25% dos casos de câncer de amígdala; agora, está associado a 80% desses tumores

» 19 mil casos novos de câncer de cabeça e pescoço estão previstos para este ano, segundo o Inca

» 70% dos tumores são diagnosticados em fases avançadas

» O HPV é um vírus transmitido, na maioria dos casos, pela prática sexual sem proteção