EUA dá três anos para a indústria de alimentos abandonar gordura trans

Uso de óleos parcialmente hidrogenados elevam nível de 'colesterol ruim'

por Landercy Hemerson 17/06/2015 09:43

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Joe Raedle / AFP
Gorduras trans, como as contidas em algumas tortas, deverão ser banidas dos alimentos nos EUA: indústria terá prazo de três anos (foto: Joe Raedle / AFP )
Em três anos a indústria de alimentos dos Estados Unidos deverá abolir o uso de óleos parcialmente hidrogenados, conhecidos como gorduras trans. A decisão foi anunciada ontem pela Administração de Remédios e Alimentos do país (FDA, na sigla em inglês), que destacou que os óleos vegetais parcialmente hidrogenados (PHO), principal fonte das gorduras trans nos alimentos processados, não são em geral considerados seguros para alimentação humana.

Em comunicado, a FDA, responsável por regulamentar o uso de alimentos, medicamentos e cosméticos que são comercializados nos Estados Unidos, sustentou que vários testes científicos demostraram que o consumo de gorduras trans eleva o nível do chamado colesterol “ruim”. “Esta ação da FDA contra a maior fonte artificial de gorduras trans demonstra o compromisso da agência com a saúde cardíaca dos americanos”, destacou Stephen Ostroff, comissário da FDA, ao anunciar a medida. Com isso, “espera-se que sejam reduzidas as doenças coronarianas e possamos prevenir milhares de infartos cardíacos fatais todos os anos”.

As gorduras trans não comportam nenhuma ação benéfica e nenhum nível de consumo é seguro para a saúde, como já haviam estabelecido previamente alguns estudos de institutos de saúde dos Estados Unidos. Desde 2006, os fabricantes desses produtos nos Estados Unidos eram obrigados a incluir informações nos rótulos com advertências claras aos consumidores sobre o uso deste tipo de gordura. Mas a lei norte-americana ainda permite que os alimentos sejam rotulados como livres de gordura trans caso contenham menos de 0,5 grama por porção do produto.

A FDA informou que também está trabalhando para mudar essa medida e que o uso de óleos hidrogenados (APH) será absolutamente proibido em todos os alimentos até 2018, a menos que os fabricantes obtenham uma exceção específica dos reguladores. De acordo com a FDA, a rotulagem obrigatória e outras medidas tomadas por alguns atores da indústria de alimentos que mudaram suas receitas já conseguiram reduzir em 78% o consumo de gorduras trans na última década.

Os produtores de alimentos têm três anos para “reformular seus produtos para que não contenham APH, ou devem pedir a autorização da FDA para usos específicos do APH”, explicou a agência. A Grocery Manufacturers Association (GMA, associação de fabricantes de comestíveis) agradeceu o prazo dado, porque “fornece o tempo necessário para os produtores de alimentos completarem sua transição para alternativas adequadas e/ou aprovação do pedido”, em declaração. A GMA, que representa cerca de 300 empresas líderes de alimentos e bebidas, fará sua própria petição à FDA nos próximos dias, segundo a associação.

Nutrição
No Brasil, embora não haja decisão semelhante, a doutora em nutrição Daniela Frozi, integrante do Conselho Nacional Alimentar e Nutricional (Consea), destaca que o órgão produziu o Novo guia alimentar da população brasileira, que incentiva o consumo de produtos naturais e incremento de políticas de agricultura familiar.

“É sabido por pesquisas mundiais que os alimentos ultraprocessados, que utilizam gordura trans, estão associados a doenças crônicas, como câncer de mama e próstata, e a problemas cardiovasculares. Há 15 anos, o médico e nutricionista Walter Willet já apontava esses malefícios. No Brasil, são várias as pesquisas que confirmam os riscos desses alimentos à saúde”, disse Daniela.

Para a doutora em nutrição, a decisão norte-americana promete revolucionar a indústria de alimentos do país, que introduziu mundialmente o processamento de alimentos com uso de gordura trans. “O uso da gordura trans não veio para atender a uma necessidade alimentar, mas apenas ao interesse da indústria do setor, apenas para baratear custos”, pontuou.

(Com agência AFP)