Células reaproveitadas curam leucemia grave

Pesquisadores nos Estados Unidos reprogramaram células imunes do corpo de adultos e de crianças com leucemia linfoblástica aguda (LLA)

por Estado de Minas 27/03/2013 16:12

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Kari Withehead/AFP
Emily Whitehead, de 7 anos, fez o teste e não tem mais a doença (foto: Kari Withehead/AFP)
Do corpo do paciente, pode vir a cura para a leucemia. É o que indicam pesquisas em andamento nos Estados Unidos. Os pesquisadores reprogramaram células imunes do corpo de adultos e de crianças com leucemia linfoblástica aguda (LLA), uma forma agressiva da doença, e fizeram com que elas passassem a agir no corpo combatendo as estruturas cancerígenas. Os resultados preliminares alimentam a esperança de novos caminhos para o tratamento de um mal que mata quase 6 mil pessoas por ano no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Fala-se até na possibilidade de a futura intervenção substituir a quimioterapia e o transplante de medula óssea no combate à doença.

Em parceria, pesquisadores do Hospital Infantil da Filadélfia e da Universidade da Pensilvânia constataram a remissão completa da LLA em uma menina de 7 anos depois de ela ter sido tratada com as próprias células T. Emily Whitehead foi submetida ao procedimento no ano passado. “Ela permanece saudável e não tem câncer 11 meses depois de ter recebido linfócitos T geneticamente modificados, que permitiram se concentrar em um objetivo concreto presente nesse tipo de leucemia”, destacou, em um comunicado, a Universidade da Pensilvânia.

A técnica consiste em eliminar do sangue dos doentes os linfócitos T, principais células do sistema imunológico. Eles são, então, modificados geneticamente com a ajuda de um vírus e dotados de um receptor molecular que lhes permite atacar as células cancerígenas. Inseridas no paciente, as novas células, chamadas de CTL019, multiplicam-se em milhares. No caso da menina Emily, segundo os pesquisadores, as células T modificadas permaneceram em seu corpo durante meses.

Mesmo eliminando a leucemia, as células CTL019 podem provocar uma resposta imune hiperativa, chamada de síndrome de libertação de citocinas. O problema causa, entre outros sintomas, febre perigosamente alta e baixa pressão sanguínea. Emily Whitehead teve o problema, e a equipe de pesquisadores precisou fornecer tratamentos que rapidamente aliviaram os sintomas, preservando a atividade das células T modificadas.

Outra criança, cujo nome não foi divulgado, também participou da pesquisa. Ela tinha 10 anos e, de acordo com os cientistas, demonstrou evidências de câncer durante os dois meses posteriores ao tratamento. Acabou morrendo quando o câncer voltou na forma de células de leucemia que não abrigavam os receptores das células específicas que eram o objetivo da terapia. “O estudo descreve como essas células têm um efeito anticancerígeno poderoso nas crianças (…) No entanto, também aprendemos que, em alguns pacientes com LLA, precisaremos modificar mais o tratamento para nos concentrarmos nas outras moléculas na superfície das células da leucemia", observou Stephan Grupp, coautor da pesquisa, no artigo publicado na New England Journal of Medicine.

Comum em crianças

Na LLA, as células que deveriam se converter em linfócitos se transformam em estruturas cancerosas e substituem as células normais encontradas na medula óssea. Esse tipo de leucemia é mais comum em crianças – representa em torno de 25% de todos os cânceres em menores de 15 anos, segundo o Manual Merck de Informação Médica. Em adultos, costuma ser frequente nas pessoas maiores de 65 anos. Atualmente, cerca de 80% das crianças e entre 30% e 40% dos adultos acometidos pela doença são curados quando submetidos a tratamento. A intervenção indicada é a quimioterapia, que costuma ser administrada em várias etapas. O tratamento inicial é focado na remissão completa das células leucêmicas, fazendo com que as células normais voltem a crescer na medula óssea. O transplante de medula óssea é indicado para pacientes com grandes chances de reincidências. O procedimento, no entanto, é pouco indicado para pessoas com mais de 65 anos devido ao risco de reações adversas fatais. No caso das crianças estudadas pelos pesquisadores do Hospital Infantil da Filadélfia e da Universidade da Pensilvânia, tratava-se de um tipo de alto risco de LLA, resistente a tratamentos convencionais.