Uma tarde de maio na praia deveria ser apenas diversão entre amigos. Para Débora Cobb, de 19 anos, tornou-se o dia em que perdeu a visão central após fazer 13 cambalhotas consecutivas na areia. O que começou como uma brincadeira inocente revelou-se uma experiência que a transformaria em uma pessoa legalmente cega por três meses e alteraria sua vida para sempre.
Era 2002 quando Débora visitou a praia de Westport, em Washington, com alguns amigos. Ex-ginasta dedicada desde a infância, ela mantinha o hábito de fazer cambalhotas sempre que encontrava um espaço aberto. Naquele dia, a areia fofa e plana da praia pareceu o local perfeito. Após 13 cambalhotas seguidas, ela caiu na gargalhada, tomada pela tontura. Foi então que percebeu algo alarmante: não conseguia ver o rosto da amiga que correu para ajudá-la.
Era um borrão laranja. Minha visão periférica parecia normal, mas quando foquei diretamente nela, não havia detalhes.
O primeiro sinal de alerta

Inicialmente, o grupo tratou a situação com humor, brincando que talvez fossem necessárias 13 cambalhotas na direção oposta para “descomplicar” o cérebro. Débora se deitou em um cobertor e permaneceram na praia por mais uma hora, mas sua visão não melhorava. Embora preocupada, ela tentou manter a calma, já que não sentia dor alguma.
O pânico só começou mais tarde, quando caminhavam por uma rua comercial e ela teve dificuldade para ler placas simples. Toda vez que tentava se concentrar em textos ou detalhes, o mesmo borrão laranja obscurecia sua visão. Ao chegar em casa à noite e contar para a mãe, recebeu a promessa de que iriam ao hospital se a situação persistisse na manhã seguinte.
Diagnóstico devastador
Na manhã seguinte, a condição havia piorado significativamente. Seu padrasto notou as dificuldades dela para realizar tarefas básicas e a levou ao pronto-socorro. O diagnóstico inicial dos médicos foi danos solares na retina, com recuperação prevista para algumas semanas. Para uma jovem prestes a fazer exames finais, a notícia já era angustiante.
A consulta com o oftalmologista trouxe revelações ainda mais preocupantes. Débora havia rompido vasos sanguíneos na mácula, parte central da retina responsável pela visão detalhada. A quantidade de sangue era pequena, como um pontinho de tinta, mas suficiente para bloquear completamente sua visão central.
Se eu tivesse sorte, talvez pudesse voltar a enxergar em três meses.
A jovem estava legalmente cega, incapaz de dirigir, terminar os estudos ou assistir televisão.
Adaptação forçada

Durante três longos meses, Débora dependeu de outras pessoas para tarefas simples como preparar refeições ou enviar mensagens. Raramente saía de casa, enfrentando uma adaptação forçada a uma nova realidade. Embora tentasse manter uma atitude positiva com o apoio dos amigos, o período foi extremamente desafiador para alguém acostumada à independência.
Gradualmente, o sangue foi reabsorvido e sua visão central retornou após três meses. Contudo, a experiência deixou marcas permanentes: Débora desenvolveu degeneração macular precoce, uma condição que aos 42 anos lhe dá os olhos de uma pessoa de 80. Episódios mais leves de perda de visão ainda ocorrem ocasionalmente, inclusive durante atividades aparentemente inofensivas como cantar no carro ou capinar plantas.
Mais de duas décadas se passaram desde que Débora fez sua última cambalhota. Embora às vezes sinta falta da espontaneidade que caracterizava sua juventude, aprendeu que algumas alegrias simplesmente não valem o risco. Sua história serve como lembrete de como ações aparentemente inofensivas podem ter consequências duradouras, transformando momentos de diversão em marcos definitivos de nossas vidas. Para ela, a cautela tornou-se uma forma de preservar não apenas a visão, mas também a capacidade de estar presente para as pessoas que ama.






