Denis Kwan Hong-Wang conquistou um título que a maioria das pessoas consideraria impossível: campeão mundial de “não fazer nada”. O pai de dois filhos descobriu a Space-Out Competition através das redes sociais no ano passado e decidiu participar de um evento que desafia nossa sociedade hiperconectada. Em uma tarde quente, dentro de um shopping movimentado no centro da cidade, ele permaneceu imóvel por 90 minutos entre cerca de 100 participantes, cada um em seu tapete de ioga. Sua vitória não veio por acaso, mas por uma habilidade que poucos dominam nos dias atuais: a capacidade de simplesmente existir sem fazer nada.
A competição que nasceu contra a produtividade constante
A Space-Out Competition foi criada pela artista coreana Woopsyang em Seul, em 2014, como uma peça de arte performática que responde à obsessão da sociedade com a produtividade constante. O conceito se espalhou pelo mundo, com competições realizadas várias vezes ao ano em diferentes locações. O objetivo é desafiar os participantes a “apreciar o tempo livre” e “se desligar” em nossa era de distrações permanentes.
“Era uma tarde quente e o evento foi realizado em um espaço aberto dentro de um shopping movimentado no centro da cidade”, descreveu Hong-Wang sobre sua experiência na Space-Out.
O formato é aparentemente simples, mas desafiador na prática: os participantes são guiados por uma série de alongamentos antes de se acomodarem para os 90 minutos cruciais. Não podem dormir, fazer barulho, verificar o telefone ou realizar qualquer movimento significativo.
O desafio dos batimentos cardíacos constantes
A parte mais desafiadora da competição, segundo Denis, acontece a cada 15 minutos, quando os juízes medem a frequência cardíaca dos participantes. Esses momentos se tornam os mais tensos de toda a experiência, testando a capacidade de manter a calma mesmo sob pressão constante.
“A cada 15 minutos, mais ou menos, os juízes vêm medir sua frequência cardíaca. Essas abordagens deixam você nervoso”, relatou o vencedor.
Após os 90 minutos de imobilidade forçada, os espectadores votam nos 10 finalistas com base em quem pareceu mais tranquilo. Os juízes então consideram as razões dos participantes para participar e suas expressões durante o desafio. O vencedor é determinado por quem manteve a frequência cardíaca mais estável durante toda a competição.
A estratégia vencedora do mindfulness ativo

Paradoxalmente, Denis revelou que sua abordagem foi fazer o oposto do que a competição sugeria. Em vez de simplesmente “se desligar”, ele praticou ativamente o mindfulness, observando sua mente e respiração. Essa estratégia consciente o diferenciou dos demais competidores que tentavam literalmente esvaziar a mente.
“Embora fosse uma competição de ‘espaço aberto’, eu estava fazendo o oposto: praticando ativamente a atenção plena, observando minha mente e minha respiração”, explicou.
Denis confessou ter ficado surpreso quando foi anunciado como vencedor, admitindo que achou a experiência muito agradável, ao contrário do que muitas pessoas imaginariam sobre ficar em silêncio completo por 90 minutos sendo monitorado. Seu troféu, baseado na estátua “O Pensador” de Rodin, agora decora orgulhosamente sua sala de estar.
A revolução silenciosa do não fazer
A vitória de Denis na Space-Out Competition revela uma necessidade urgente da sociedade moderna: recuperar o direito de parar sem culpa. Sua experiência ilustra como transformamos até mesmo o descanso em algo que precisa ser legitimado através de competição e reconhecimento público. O fato de precisarmos criar eventos para “não fazer nada” expõe o quanto perdemos a capacidade natural de existir sem propósito produtivo.
A reflexão de Denis oferece uma perspectiva valiosa sobre nossos tempos: em muitas partes do mundo, as pessoas vivem sem nunca parar, como se parar fosse uma forma de preguiça. Sua mensagem é clara – a produtividade nem sempre é o mais importante. Talvez a verdadeira subversão em nossos dias não esteja em fazer mais, mas em reivindicar espaços para simplesmente ser. Sua conquista nos lembra que, às vezes, o maior ato de resistência é dar-se permissão para não fazer absolutamente nada.






