John Carcerano estava fazendo mais uma de suas visitas rotineiras a um brechó em Illinois quando um prato chamou sua atenção. Por US$ 4,99 (cerca de R$ 30), ele levou para casa o que parecia ser apenas uma peça antiga comum. O comerciante de antiguidades, com 35 anos de experiência no ramo, não imaginava que havia acabado de fazer o negócio de sua vida. Uma simples pesquisa no Google revelaria que aquele prato chinês do século XVIII valia na verdade mais de R$ 28 mil.
A rotina que mudou uma vida
Carcerano não é um caçador de tesouros amador. Durante décadas, ele comprou e vendeu antiguidades profissionalmente, desenvolvendo um olho treinado para identificar peças valiosas. Acontece que, após ficar doente em 2023 e passar oito meses afastado do trabalho, ele precisou mudar sua estratégia de busca.
“Às vezes, passo algumas horas esperando os carrinhos saírem. Acho que é melhor pegá-los quando saem pela primeira vez porque, quando chegam às prateleiras, a maioria das coisas boas já acabou”
explicou. Sua paciência e método sistemático demonstram como o sucesso muitas vezes vem da persistência, não apenas da sorte.
O momento da descoberta

A descoberta aconteceu em outubro do ano passado, mas quase passou despercebida. O prato estava escondido sob uma peça moderna, camuflado entre outros itens aparentemente sem valor. Carcerano escolheu aquele brechó específico por sua localização estratégica, próximo a um bairro mais rico nos subúrbios ao norte de Chicago.
O que transformou a compra em descoberta foi a tecnologia.
“Eu fiz uma pesquisa no Google Lens e encontri um que tinha sido vendido exatamente como ele por US$ 4.400 e eu sabia em cinco minutos que tinha algo valioso”
relatou. Em poucos cliques, ele descobriu que apenas dois pratos similares haviam sido vendidos nos últimos 50 anos de história de leilões.
A confirmação dos especialistas

A Sotheby’s, uma das casas de leilão mais prestigiosas do mundo, confirmou a autenticidade da peça. Segundo os especialistas, trata-se de uma “bandeja retangular chanfrada heráldica chinesa de exportação” do período Qianlong da dinastia Qing, datada por volta de 1755. O item é decorado com o brasão de Mendes da Costa e tem valor estimado entre US$ 4.000 e US$ 6.000.
A peça será leiloada em Nova York, representando não apenas um retorno financeiro extraordinário, mas também a validação de décadas de experiência de Carcerano. O prato do século XVIII, que sobreviveu a guerras, mudanças históricas e incontáveis donos, finalmente encontrou alguém capaz de reconhecer seu verdadeiro valor.
O valor está nos olhos de quem vê
A história de Carcerano ilustra uma verdade fascinante sobre como percebemos valor no mundo. O mesmo objeto que para a maioria das pessoas era apenas um prato usado, para um olhar treinado representava uma janela para a história chinesa do século XVIII. Por outro lado, a tecnologia democratizou parte desse conhecimento, permitindo que qualquer pessoa com um smartphone possa pesquisar e descobrir informações sobre objetos antigos.
O caso também levanta questões interessantes sobre o mercado de antiguidades e a circulação de patrimônio histórico. Quantos tesouros similares estão escondidos em brechós, sótãos e vendas de garagem ao redor do mundo? A resposta talvez esteja na combinação entre conhecimento, persistência e, sim, uma boa dose de sorte. A descoberta de Carcerano nos lembra que oportunidades extraordinárias muitas vezes se disfarçam de situações cotidianas, esperando apenas por alguém com olhos para enxergá-las.