“Nunca discuto com ninguém. Eu escuto e faço o que gosto.” Esta frase simples resume a filosofia de vida de Ethel Caterham, que aos 115 anos se tornou oficialmente a pessoa mais velha do mundo. A britânica, nascida em 1909, conquistou o título após a morte da freira brasileira Inah Canabarro Lucas, em maio de 2025. Em um mundo cada vez mais dividido por conflitos e discussões infindáveis, a receita de Ethel chama atenção pela simplicidade e pelo resultado extraordinário.
Nascida em 21 de agosto de 1909, na pequena vila de Shipton Bellinger, no sul da Inglaterra, Ethel é a segunda mais nova de oito irmãos. Sua irmã mais velha, Gladys, também teve uma vida longa, alcançando os 104 anos. A família Caterham parece carregar genes favoráveis à longevidade, mas especialistas apontam que a genética responde por apenas 25% dos fatores que determinam quanto tempo vivemos.
“O interessante no caso de Ethel é que ela não seguiu nenhuma dieta específica ou rotina de exercícios extrema”, explica Dr. João Silva, geriatra especializado em longevidade. “Sua abordagem mental parece ter sido o diferencial. Evitar conflitos desnecessários reduz significativamente os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, que quando elevado cronicamente pode acelerar o envelhecimento.”
A vida de Ethel foi marcada por aventuras que contrastariam com sua personalidade pacífica. Aos 18 anos, embarcou sozinha em uma viagem de três semanas de barco até a Índia, onde trabalhou como babá para uma família militar britânica. Naquela época, tal jornada era considerada extremamente corajosa para uma jovem. Durante os três anos que passou no país, ela absorveu diferentes culturas mantendo sempre sua essência tranquila.
De volta à Inglaterra, conheceu Norman Caterham, um major do exército britânico, durante um jantar em 1931. Casaram-se em 1933 na Catedral de Salisbury. O trabalho militar do marido levou o casal a viver em Hong Kong e Gibraltar, onde Ethel montou uma creche para ensinar inglês e jogos educativos. Ela adaptou-se às mudanças constantes sempre com a mesma filosofia: aceitar o que não pode ser mudado e focar no que lhe traz satisfação.
Uma filosofia testada pelo tempo

A longevidade de Ethel foi testada por dois eventos históricos devastadores. Ela viveu toda a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) ainda criança e adolescente, depois enfrentou a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) como adulta jovem. Presenciou a evolução tecnológica do século XX, desde a invenção do rádio até a era da internet. Durante todas essas transformações, manteve seu mantra de evitar discussões e conflitos.
Sua filosofia ganhou relevância especial durante a pandemia de COVID-19. Aos 110 anos, Ethel contraiu o vírus em 2020 e se recuperou completamente, tornando-se uma das sobreviventes mais idosas da doença. Mesmo enfrentando uma situação potencialmente fatal, ela manteve a calma e a positividade que a acompanharam durante toda a vida.
“Levei tudo com calma, os altos e baixos”, declarou à BBC Radio Surrey.
O poder da simplicidade no mundo moderno

Em uma época em que redes sociais amplificam discussões e conflitos diários, a abordagem de Ethel parece quase revolucionária. Ela não possui smartphone nem participa de debates online. Prefere passar o tempo ouvindo pássaros no jardim da casa de repouso onde vive, em Surrey, ou apreciando música clássica em sua poltrona favorita. Sua rotina simples contrasta drasticamente com o ritmo acelerado da vida contemporânea.
“Dizer sim a todas as oportunidades, porque nunca se sabe o que isso nos vai trazer”, é outro princípio que Ethel menciona frequentemente.
Especialistas em psicologia positiva identificam nessa frase elementos fundamentais para o bem-estar mental: abertura a experiências, otimismo e flexibilidade. São características que, segundo pesquisas recentes, estão diretamente relacionadas a uma vida mais longa e saudável.
Lições práticas para os dias atuais
A história de Ethel Caterham oferece reflexões valiosas sobre como enfrentar os desafios contemporâneos. Em um mundo polarizado, onde discordâncias frequentemente se transformam em conflitos pessoais destrutivos, sua estratégia de “escutar e fazer o que gosta” representa uma alternativa saudável. Não se trata de passividade ou falta de opinião, mas de escolher cuidadosamente onde investir energia emocional.
Pesquisas em neurociência mostram que discussões acaloradas ativam o sistema nervoso simpático, liberando hormônios de estresse que, quando constantes, prejudicam o sistema imunológico e aceleram o envelhecimento celular. A abordagem de Ethel, portanto, não é apenas uma preferência pessoal, mas uma estratégia biologicamente inteligente. Sua longevidade excepcional sugere que, talvez, a paz de espírito seja realmente o mais valioso dos medicamentos.
A trajetória de Ethel não oferece uma fórmula mágica para viver 115 anos, mas apresenta princípios universais: priorizar relacionamentos harmoniosos, manter-se aberto a novas experiências e cultivar a serenidade diante das inevitáveis turbulências da vida. Em tempos de ansiedade coletiva, sua mensagem ressoa como um lembrete de que a longevidade pode estar mais relacionada à sabedoria emocional do que imaginamos.






