Séries de suspense psicológico frequentemente levantam discussões sobre as fronteiras entre ficção e realidade, especialmente quando apresentam narrativas intensas e envolventes. No caso de “O Jardineiro”, lançada na Netflix em 2025, o público foi intrigado ao perceber como elementos realistas se misturam à trama, criando dúvidas quanto à origem do enredo e à existência de casos semelhantes no mundo real.
A história acompanha Elmer, um personagem que, desde a infância, passou por situações que moldaram seu comportamento de maneira profundamente impactante. Atuando como jardineiro em um centro especializado, Elmer desempenha também o papel de matador de aluguel, sob a orientação e vigilância da mãe, conhecida como La China Jurado. Essa ambientação, marcada por relações familiares conflituosas, proporciona ambiente ideal para explorar conflitos internos e dilemas de ordem moral.
O que é real e o que é ficção em “O Jardineiro”?
Apesar de ambientar a história em um contexto que remete ao universo do true crime, a obra criada por Miguel Sáez Carral e Isa Sánchez é inteiramente ficcional. Não há qualquer registro de episódios ou pessoas que sirvam de base para a construção dos personagens ou dos eventos apresentados. O enredo é resultado da imaginação dos roteiristas, que buscaram mesclar drama, suspense e temas psicológicos para atrair o público contemporâneo. A série, inclusive, inseriu algumas cenas inspiradas em notícias reais para aumentar a sensação de proximidade com o espectador, mas sempre mantendo sua natureza inventada.
Quais são os temas trabalhados em “O Jardineiro”?
O thriller espanhol destaca-se ao abordar questões que envolvem relações familiares disfuncionais, traumas emocionais arraigados e conflitos éticos complexos. O envolvimento amoroso entre Elmer e Violeta, por exemplo, serve como catalisador para o dilema vivenciado pelo protagonista, dividindo-o entre o dever de seguir ordens e o despertar de sentimentos autênticos. O desenvolvimento do roteiro foca menos na lógica criminal tradicional e mais no choque causado pela ausência de afeto e pela manipulação entre mãe e filho, trazendo à tona nuances do comportamento humano diante de situações extremas. A série ainda aborda o peso das expectativas familiares e a busca por identidade, temas que frequentemente repercutem entre os espectadores.
Como a série constrói o tom de realismo?
Apesar de sua natureza fictícia, “O Jardineiro” é estruturada com recursos que aumentam a sensação de verossimilhança. O uso de diálogos autênticos, cenários detalhados e situações próximas das que se vê em investigações criminais contribuem para criar uma atmosfera envolvente. Além disso, a série aposta em personagens complexos e bem construídos, oferecendo ao espectador a impressão de que aquela realidade poderia, de fato, existir em algum lugar. A escolha de trabalhar com questões psicológicas e familiares intensifica ainda mais o realismo, desviando o foco de acontecimentos extraordinários para temas universais como culpa, obediência e desejo de redenção. Como curiosidade, algumas locações e figurinos foram baseados em locais reais da Espanha, o que também aumenta a sensação de realismo.
- Exploração dos traumas: Momentos que revelam camadas profundas de sofrimento dos personagens.
- Dilemas morais: Situações em que o protagonista precisa escolher entre seguir ordens ou ouvir a própria consciência.
- Relações familiares: O relacionamento entre Elmer e sua mãe é responsável por grande parte do suspense e da tensão dramática.
Por que o público acredita que se trata de uma história real?
A escolha por retratar personagens densos, com motivações compreensíveis e conflitos que refletem situações vividas por muitas pessoas, faz com que a série seja percebida como um retrato plausível do cotidiano de algumas famílias. Além disso, o uso de elementos de suspense e de linguagem associada ao gênero true crime acentua a sensação de autenticidade. No entanto, a produção deixa claro que não existe vinculação a fatos históricos, reforçando o compromisso com a originalidade e a ficção. Alguns espectadores relataram nas redes sociais que se sentiram impactados pela semelhança de alguns eventos da série com situações noticiadas na mídia, o que contribui ainda mais para a dúvida sobre sua veracidade.
Assim, “O Jardineiro” se destaca não só pelo enredo envolvente, mas também pelo modo como dialoga com tendências recentes da televisão: o fascínio do público por histórias que, mesmo criadas do zero, são capazes de simular as nuances e complexidades do real. Dessa forma, a série conquista espaço na grade de produções contemporâneas e dá continuidade ao interesse crescente por obras que desafiam a percepção entre o possível e o imaginário.
Como “O Jardineiro” utiliza a fotografia e a trilha sonora para criar tensão?

A fotografia da série aposta em contrastes fortes e em cenários soturnos para acentuar a sensação de isolamento e angústia sentidas por Elmer. O uso estratégico de iluminação sombreada e closes nos momentos de maior tensão ajuda o espectador a compartilhar o estado emocional do protagonista. Já a trilha sonora, composta por temas instrumentais minimalistas e intensos, costuma ser utilizada em momentos-chave para construir crescendos de suspense e evidenciar o peso das decisões tomadas pelos personagens. Juntas, fotografia e música tornam-se elementos essenciais para a ambientação e a atmosfera psicológica de “O Jardineiro”. Curiosamente, alguns episódios contam com trilhas sonoras compostas especialmente para determinadas cenas de conflito emocional, reforçando a intenção dos criadores em manter o espectador envolvido.
Quais influências e referências cinematográficas podem ser percebidas na construção da série?
Embora seja uma obra original, “O Jardineiro” apresenta influências de filmes e séries clássicos do gênero suspense psicológico, como “Dexter”, no retrato de protagonistas duplos, e “Breaking Bad”, na dinâmica tensa entre família e crime. Além disso, referências visuais ao cinema noir e à estética espanhola contemporânea podem ser notadas, especialmente no cuidado com os detalhes de produção e no ritmo narrativo que privilegia o desenvolvimento da atmosfera sobre a ação rápida. Essas referências contribuem para inserir “O Jardineiro” em um contexto mais amplo do audiovisual, estabelecendo conexões com obras que também exploram os limites entre moralidade e sobrevivência. Entre outras influências citadas pelos criadores em entrevistas, estão também “Mindhunter” e “Ozark”, consagradas pelo realismo psicológico e pela condução de tensão dramática.