Uma nova cepa de bactéria resistente a múltiplos antibióticos está se espalhando silenciosamente por hospitais da Europa, gerando preocupação entre médicos e autoridades sanitárias. O micro-organismo já foi detectado em ao menos oito países e desafia tratamentos tradicionais. Mas o que torna essa superbactéria tão preocupante?
Onde isso começou?
Os primeiros casos foram identificados no Reino Unido, com relatos desde 2022, principalmente em pacientes internados em UTIs com infecções persistentes. Em seguida, hospitais na Alemanha, Itália, França e outros países europeus relataram surtos semelhantes.
A bactéria foi identificada como uma variante do Klebsiella pneumoniae, com resistência a antibióticos carbapenêmicos, normalmente utilizados como último recurso em infecções graves.
O alerta foi emitido pelo Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC), que coordena o monitoramento de surtos hospitalares no continente.

Por que isso é tão perigoso?
Essa cepa não responde à maioria dos antibióticos disponíveis, o que dificulta o tratamento e aumenta o risco de mortes por infecções comuns.
“Estamos diante de uma bactéria que não apenas sobrevive ao tratamento, mas também se espalha com facilidade em ambientes hospitalares”, afirma o Dr. François Lemoine, microbiologista-chefe do Hospital Saint-Antoine, em Paris.
A bactéria é capaz de formar biofilmes em cateteres, respiradores e outros equipamentos médicos, o que favorece sua persistência e contaminação cruzada entre pacientes.
“Uma simples infecção urinária pode evoluir para uma septicemia letal em poucos dias se não houver resposta ao antibiótico”, alerta a infectologista Dra. Chiara Moretti, da Universidade de Roma La Sapienza.
Isso pode afetar humanos?
Sim, esse é um problema exclusivamente humano e já está afetando pacientes internados em diversos países. A maioria dos casos ocorre em pessoas imunossuprimidas, com doenças crônicas ou que passaram por procedimentos invasivos.
De acordo com o ECDC, mais de 1.200 casos confirmados foram registrados até junho de 2025, com índice de mortalidade acima de 30% em infecções generalizadas. Em alguns hospitais, surtos obrigaram o isolamento de alas inteiras para conter a contaminação.
O que está sendo feito para conter?
Hospitais europeus estão adotando protocolos rígidos de controle, incluindo isolamento de pacientes infectados, desinfecção reforçada de ambientes e restrição no uso de antibióticos de amplo espectro.
Pesquisadores em diversos centros, incluindo universidades no Reino Unido, estão explorando terapias inovadoras, como o uso combinado de antibióticos e bacteriófagos — vírus naturais que atacam bactérias. Essa abordagem, já utilizada em países do Leste Europeu e na Geórgia, é considerada uma possível solução emergencial, embora ainda esteja em fase experimental.
Enquanto isso, médicos reforçam a importância do uso racional de antibióticos para evitar a seleção de cepas ainda mais resistentes.
Há risco de se espalhar para outras regiões?
Especialistas afirmam que sim, há risco elevado de que a superbactéria se espalhe para fora da Europa, especialmente por meio de viagens internacionais e transferências médicas.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a resistência antimicrobiana é uma das 10 maiores ameaças à saúde global. “Se essas cepas alcançarem países com menos infraestrutura hospitalar, o impacto pode ser devastador”, adverte o Dr. Haruto Sakamoto, especialista da OMS em infecções emergentes.
Até o momento, casos isolados foram identificados em Israel, Canadá e Austrália, o que reforça a necessidade de vigilância internacional e desenvolvimento de novas terapias antimicrobianas.






