No cotidiano de muitos jovens, a primeira refeição do dia frequentemente é negligenciada. Uma pesquisa recente realizada entre adolescentes e jovens adultos de Hong Kong analisou a relação entre pular o café da manhã e sintomas de saúde mental, trazendo à tona questões relevantes para o bem-estar dessa faixa etária. O estudo, publicado na revista científica Frontiers in Psychiatry, chama a atenção ao apontar vínculos discretos entre hábitos alimentares matinais e condições como depressão e ansiedade.
A investigação, conduzida entre 2019 e 2022, envolveu mais de três mil participantes na faixa de 15 a 24 anos. Os dados obtidos permitiram identificar comportamentos alimentares, especialmente em relação ao consumo ou à omissão do café da manhã. Os pesquisadores buscaram compreender não só a prevalência do ato de pular esta refeição, mas também como este hábito se conecta a aspectos emocionais e comportamentais, como impulsividade e sintomas depressivos.
Por que pular o café da manhã é motivo de preocupação?
O café da manhã, reconhecido como a primeira refeição após o jejum noturno, desempenha funções essenciais para o organismo. Esta refeição fornece energia e nutrientes necessários para iniciar o dia com disposição e concentração. Diversas pesquisas confirmam que o consumo regular de um café da manhã equilibrado pode contribuir para o rendimento escolar, favorecer a capacidade de concentração e auxiliar no controle do metabolismo.
Por outro lado, o hábito de pular o café da manhã é frequentemente associado ao aumento da fome ao longo do dia, o que pode levar ao consumo excessivo de alimentos em horários posteriores e à piora da qualidade da alimentação. Entre jovens, essa prática também se relaciona a questões emocionais e cognitivas, como mostra o estudo realizado em Hong Kong.

Qual a ligação entre café da manhã, depressão e impulsividade?
A pesquisa evidencia que jovens com níveis mais altos de sintomas depressivos e traços impulsivos tendem a pular o café da manhã com maior frequência. A impulsividade, medida por fatores como controle atencional e autocontrole, se mostrou ligeiramente superior entre aqueles que omitiram a refeição matinal. Além disso, jovens que apresentaram sinais de depressão moderada chamaram a atenção dos autores quanto à possível influência da rotina alimentar sobre o equilíbrio emocional.
O estudo observou ainda que, dentre os que não consumiam café da manhã regularmente, houve registro de um número levemente superior de dias com produtividade reduzida por questões de saúde mental. Em termos de funcionamento social e ocupacional, esses indivíduos também demonstraram desempenho um pouco abaixo do grupo que mantinha o hábito da refeição matinal.
Como criar uma rotina saudável de café da manhã?
Adotar o hábito de tomar café da manhã diariamente pode ser desafiador, principalmente diante de agendas apertadas ou falta de apetite matinal. No entanto, pequenas mudanças podem facilitar a incorporação dessa refeição na rotina:
- Planejamento prévio: Deixar parte dos alimentos prontos na noite anterior pode facilitar o preparo e evitar esquecimentos.
- Variedade no cardápio: Alternar entre frutas, pães integrais, cereais, ovos e derivados lácteos ajuda a manter o interesse e garantir nutrientes diversos.
- Pausas para alimentação: Reservar alguns minutos pela manhã para comer com calma contribui para melhor digestão e bem-estar.
Pais, educadores e profissionais da saúde desempenham um papel fundamental ao incentivar práticas alimentares equilibradas desde a infância, prevenindo não apenas questões nutricionais, mas também possíveis impactos sobre mecanismos psicológicos.
Quais as limitações do estudo sobre café da manhã em Hong Kong?
Embora a associação entre pular o café da manhã e sintomas depressivos tenha sido identificada, os pesquisadores destacam que a força desse vínculo é bastante sutil. Isso significa que o impacto do hábito alimentar, embora existente, não é suficiente para explicar, isoladamente, flutuações significativas no estado emocional de jovens. Ademais, o estudo concentrou-se em jovens residentes de Hong Kong, limitando a generalização para outros contextos culturais onde as tradições alimentares e o papel do café da manhã podem ser distintos.
Por fim, a relação entre alimentação e saúde mental é multifatorial. Outros elementos do estilo de vida, como qualidade do sono, atividade física e relações sociais, também devem ser considerados como parte de uma abordagem abrangente para o desenvolvimento saudável dos jovens.
O café da manhã surge, portanto, não apenas como um momento de obtenção de energia, mas também como um fator potencialmente relacionado à saúde emocional. Desenvolver o hábito da refeição matinal pode, dentro de um conjunto de práticas saudáveis, oferecer benefícios para o desempenho e o equilíbrio psicológico na juventude.






