Após um longo período de incertezas acerca do futuro do TikTok nos Estados Unidos, a ByteDance intensifica os esforços para evitar um possível banimento da plataforma no país. A legislação americana, aprovada em 2024, exige que aplicativos controlados por empresas de países classificados como adversários, com destaque para a China, passem a operar sob regras mais rígidas ou mudem significativamente de controle. Isso levou a empresa chinesa a desenvolver uma nova versão do aplicativo, voltada exclusivamente para o público estadunidense.
A estratégia envolve não só a modificação técnica do aplicativo, mas também uma reestruturação do controle societário. A ByteDance pretende vender uma participação majoritária da operação americana para investidores não-chineses, mantendo apenas uma fatia minoritária. Com isso, a expectativa é preencher todos os requisitos legais que permitam a permanência do TikTok no mercado dos Estados Unidos.
Por que o TikTok enfrenta risco de banimento nos Estados Unidos?

O principal motivo que colocou o TikTok sob escrutínio nos Estados Unidos está diretamente relacionado à segurança nacional. Legisladores e autoridades americanas manifestam preocupação com a possibilidade de o governo chinês ter acesso aos dados pessoais dos usuários estadunidenses, por meio da ByteDance. Além disso, existe o receio de eventuais manipulações do algoritmo do aplicativo, capazes de influenciar o debate público e opiniões políticas dentro do território norte-americano.
Com a sanção da Lei de Proteção aos Americanos contra Aplicativos Controlados por Adversários Estrangeiros, os Estados Unidos passaram a exigir mudanças estruturais significativas em empresas com esse perfil. O descumprimento da lei pode resultar na remoção forçada dos aplicativos das lojas da Apple e do Google, restringindo severamente o acesso à plataforma para milhões de usuários do país.
Como funcionará a nova versão americana do TikTok?
Para atender as novas exigências, a ByteDance está desenvolvendo uma versão derivada do TikTok, sob o codinome “M2”. O lançamento deste novo aplicativo estaria previsto para setembro de 2025. Com a chegada dessa alternativa, a empresa planeja remover e desativar totalmente o TikTok original nos Estados Unidos até março de 2026. A intenção é garantir que os dados e o conteúdo dos usuários americanos sejam processados localmente, com controles de acesso e governança distintos dos praticados fora do país.
No novo modelo, a estrutura de dados e, possivelmente, o próprio algoritmo de recomendação que impulsionou o sucesso do TikTok mundialmente, passariam por mudanças importantes. Sincronias com o Douyin, a versão chinesa do app, e outros serviços internacionais provavelmente serão limitadas, preservando a soberania digital exigida pelo governo americano. A Oracle figura como parceira técnica central nessa transição, colaborando para garantir que as demandas de segurança e governança sejam plenamente atendidas. Com a Oracle envolvida, novas camadas de proteção de dados e de auditoria das informações poderão ser implementadas, permitindo maior confiança na operação da plataforma por parte dos reguladores americanos.
Quais as consequências da mudança para criadores e usuários?
O lançamento de uma nova plataforma exclusiva para os Estados Unidos tende a alterar a experiência dos usuários. Com possíveis adaptações no sistema de recomendação de vídeos, o conteúdo exibido poderá se diferenciar do que é encontrado em outros mercados. Para criadores de conteúdo, surgem desafios e oportunidades: haverá necessidade de conquistar novas audiências dentro do ambiente isolado, e estratégias de engajamento deverão ajustar-se às especificidades do novo algoritmo e às normas de privacidade estabelecidas em solo americano. Além disso, algumas funcionalidades regionais e recursos de monetização podem ser adicionados para atender melhor os criadores americanos, fomentando a competitividade da nova versão do aplicativo em relação a rivais domésticos.
- Alteração no acesso a tendências: A separação entre versões pode resultar em circulação reduzida de trends globais nos perfis americanos.
- Monetização adaptada: Mudanças nas políticas internas podem afetar as formas de remuneração dos criadores de conteúdo.
- Segurança e privacidade: Expectativa de políticas mais rígidas de proteção de dados e fiscalização pelo governo dos EUA.
Esse processo marca um momento relevante na história dos serviços digitais, levantando questões sobre soberania de dados, influência de algoritmos e as complexas relações entre empresas de tecnologia e estados nacionais. O futuro da rede social nos Estados Unidos dependerá do êxito dessa adaptação e do diálogo contínuo com os reguladores.
Quais serão os impactos para o mercado publicitário e para marcas atuantes nos Estados Unidos?

A criação de uma nova versão do TikTok específica para o mercado americano provavelmente modificará a estratégia de atuação de marcas e agências de publicidade. Como o público poderá ficar mais segmentado, campanhas publicitárias precisarão ser adaptadas a um ambiente com menos integração internacional e mais alinhamento com normas locais de privacidade e uso de dados. Essa reestruturação pode também resultar em custos adicionais para anunciantes, que terão de desenvolver conteúdos e estratégias alinhados às especificidades culturais e legais dos Estados Unidos, e acompanhar mudanças frequentes nas políticas da plataforma. Novos formatos de anúncios, adaptados ao contexto americano e atendendo aos requisitos legais mais rígidos, poderão emergir nesse cenário, impactando o planejamento de mídia e a mensuração de resultados das campanhas.
Como essa transição pode influenciar o debate global sobre o TikTok?
O caso do TikTok nos Estados Unidos representa um marco para outras nações que também buscam regular o funcionamento de serviços digitais estrangeiros em seu território. Países da União Europeia, Canadá e Austrália, por exemplo, acompanham o desenrolar da situação americana para considerar possíveis adaptações em suas próprias legislações sobre segurança de dados e controle de algoritmos. Existe, assim, a possibilidade de um movimento global mais rigoroso em relação à transparência e à soberania digital, levando outras empresas de tecnologia a reavaliarem seus modelos de negócio em diferentes mercados. Essa tendência pode fomentar diálogos multilaterais entre governos sobre padronização de regras, mecanismos de fiscalização e formas de garantir que plataformas respeitem as leis nacionais de cada país.